Robô: caçadores de ações automatizados estão ganhando fama, e podem ter alguns problemas (5W731/Bloomberg Markets)
(SÃO PAULO) - Poucas pessoas obtiveram mais lucro com a chamada mania beta inteligente do que Tom Dorsey. Um novo fundo de títulos que ele lidera usando métodos de um século de idade arrecadou US$1,2 bilhão no ano passado. Então, em janeiro, ele vendeu sua firma de investimentos de 22 funcionários, Dorsey, Wright & Associates, ao Nasdaq OMX Group por US$225 milhões.
Dorsey diz ser um gestor de dinheiro, segundo a reportagem que a Bloomberg Markets publicará na edição de abril desse ano, mas seus métodos são mais robotizados. Ele diz isso com orgulho. Se Dorsey e sua equipe fossem abduzidos de seu escritório em Richmond por aliens, os algoritmos poderiam continuar escolhendo investimentos para o novo ímã de investimentos da companhia, o First Trust Dorsey Wright Focus 5 ETF, para sempre.
“Uma vez por trimestre, nós apertamos um botão”, diz Dorsey. O algoritmo do Focus 5 então gera uma lista de investimentos, e a First Trust Portfolios, sua companhia parceira, executa-o. Eles não interferem além disso no robô. “Nós apenas precisamos que alguém aperte o botão”.
Isso, para Dorsey, é a essência do “smart beta”, ou beta estratégico, ou beta científico, ou investimento baseado em fatores, ou indexação fundamental, dependendo de qual Ph.D. estamos falando – muitos fundos smart beta são criados por geeks das finanças. É investimento em indicadores com mudanças chave, todas elas baseadas em regras, sem necessitar de gerenciamento ativo. A maioria dos fundos smart beta rastreiam índices customizados. Alguns são variantes simples do índice Standard & Poor 500 e fazem o que eles dizem na caixa. Outros são feitos a mão em pequenos lotes, criados por pessoas com um pouco mais que um sistema de filtragem de ações e um sonho.
A ideia é dinheiro – como marketing, pelo menos. Há quase 400 fundos smart beta nos EUA agora, e eles possuem US$400 bilhões, ou 20% de todos os ativos, em ETFs (unidades negociáveis na Bolsa de Valores como se fossem ações, mas que são cotas de fundos de investimento) domésticos, de acordo com a Bloomberg Intelligence. Isso ante zero em maio de 2000, quando os primeiros protótipos saíram dos laboratórios.
Como qualquer bonança em Wall Street, essa tem imitadores, inovadores e possivelmente alguns problemas, de acordo com a agência regulatória de indústrias dos Eua, que incluiu o sistema em uma lista de oito categorias de produtos que planeja examinar por violações esse ano. “Para investidores individuais, produtos que rastreiam índices podem ser complexos ou não-familiares”, disse a agência em uma carta em 6 de janeiro. “Ainda é uma questão aberta como os índices e os produtos que os rastreiam se comportarão em ambientes de mercado diferentes”.
Ninguém reivindicou o crédito por cunhar o termo “smart beta”, agora onipresente, que, em apenas duas palavras, traz uma grande promessa de vencer o mercado. Entre os frequentadores do mercadoa financeiro, beta significa retorno que você obtém simplesmente por correr o risco de ter ações. O muito mais raro alpha é retorno extra por encontrar algo que o mercado não viu. Apesar do que humanos dizem, o alpha é raro. Os entusiastas do smart beta aceitam isso e tentam melhorar aos retornos do beta usando estratégias eletrônicas, filtradas por fatores variáveis e unidas pelos livros de regras.
Uma pessoa pode, por exemplo, comprar todas as ações no S&P 500 em quantidades iguais (desde a gigante Apple até a minúscula Diamons Offshore Drilling) com o Guggenheim S&P 500 Equal Weight ETF, ao invés de seguir a regra de dar maior valor a capitalizações de mercado maiores. Outros fundos pesam o índice por volatilidade, dividendos, vendas, valor de balanço ou crescimento em rendimentos.
Um dos ETFs smart beta mais populares é o WisdomTree Europe Hedged Equity Fund, o qual investidores estão usando para surfar na onda doa dinheiro que o BCE está lançando para combater a deflação. O fundo baseado em dólar compra exportadores da zona do euro mas restringe contra mudanças no euro. Isso salvou a cobertura europeia de se arruinar no ano passado, quando a moeda caiu 12% ante o dólar, um movimento que teria transformado ganhos em perdas. No dia 17 de fevereiro, o fundo tinha arrecadado mais dinheiro em 2015 do que qualquer outra ETF, sendo smart beta ou não: com US$4,3 bilhões.
Muitos fundos inteligentes codificam regras ainda mais complexas em seus sistemas operacionais. O ProShares Large Cap Core Plus, por exemplo, faz o WisdomTree pareça tão ultrapassado como um Commodore 64. O ProShares Core Plus usa dinheiro emprestado para comprar ações que encontram 10 alvos diferentes, incluindo valor, crescimento, e preço atual. “Isso permite que você invista um pouco mais de dinheiro onde for mais vantajoso”, diz Michael Sapir, fundador e CEO da ProShare Advisors.
O ProShares Core Plus também vende pequenas ações que perderam os alvos, apostando que elas cairão. A estratégia foi criada por Andrew Lo, um professor de finanças no na Sloan School of Management, do MIT, e Pankaj Patel, agora analista na Evercore Partners. Entre a alavancagem e as vendas baixas, o Core Plus se parece um fundo de hedge negociado em bolsa. Desde sua criação em Julho de 2009 até o ano passado, o fundo retornou 166%, em comparação com os 156% do S&P 500.
O que o smart beta faz melhor é romper a ligação entre o preço de uma ação e seu peso em um índice, diz Rob Arnott, presidente e co-fundador da Research Affiliates. Arnott se tornou um semideus no movimento desde a coautoria do artigo de 2005 “Fundamental Indexation”. Os índices da Research Affiliates são usados porcompanhias de fundos para gerenciar US$180 bilhões em ativos. “Ligando o preço ao peso, quanto mais cara uma coisa é, maior sua participação”, diz Arnott. Isso significa que você está comprando uma ação porque mais pessoas gostam dela, não porque são companhias melhores. “Por que diabos você iria querer fazer isso?”, ele pergunta.
Arnott e seu designer chefe de robôs, Jason Hsu, revelaram o índice que move o PoweShares FTSE RAFI US 1000 Portfolio, de US$4,3 bilhões, em 2005, após testar medidas miríades para o tamanho de companhias, inclusive o número de funcionários. Os fatores que estabeleceram: valor de balanço, vendas, dividendos e fluxo financeiro. O algoritmo requere que as ações que são julgadas caras por essas medidas a sejam vendidas e as baratas, compradas.
Até agora, o robô de Arnott está funcionando – e muito bem. O PowerShares FTSE RAFI bateu o S&P 500 desde que começou em 19 de dezembro de 2005, com um retorno total de 120% ante 103%. A beleza desse fundo, e do smart beta em geral, é que a máquina fará negociações difíceis, enquanto os humanos não farão, diz Arnott. Ele não hesitará em pegar bens danificados em uma liquidação, e vai se segurar quando o mundo estiver perto de acabar. Isso, de acordo com Warren Bufett, é o momento de comprar e é justamente quando os humanos entram em desespero e vendem.
Veja o exemplo de 2009. A Lehman Brothers havia falhado no ano anterior, e o sistema financeiro estava próximo do colapso. Negociadores humanos jogaram fora tudo o que se parecia com um banco ou corretora. O FTSE RAFI, em piloto automático, mais que dobrou suas posições no Bank of America e no Citigroup. Então, as medidas do governo para acabar com o pânico funcionaram, e o fundo teve retorno de 42% em 2009, em comparação com 26% do S&P 500.
“Quanto menos confortável o reequilíbrio, mais provavelmente ele será rentável”, diz Arnott. “O reequilíbrio nas finanças era predestinado porque tudo o que fazemos é manter os pesos dos setores para refletir seu peso na macroeconomia. O Setor financeiro não havia ido embora, estava apenas vacilando”. E o algoritmo comprou mais para balancear, por mais insano que isso tenha parecido na época.
Muitos entusiastas do smart beta foram convertidos de outras disciplinas. A história de Dorsey, por exemplo, beira o espiritual. Em 1979, após largar seu emprego como corretor de ações na Merryl Lynch, ele começou o departamento de opções na Wheat First Butcher Singer e descobriu o livro “The Three Point Reversal Method Of Point and Figure Stock Market Trading”. Publicado originalmente em 1947, o livro descrevia uma técnica simples para rastrear ações que o autor dizia que poderia gerar padrões de preços. O método esteve por aí desde 1800; Charles Dow, criador do índice que leva seu nome, usou uma versão para escolher ações, de acordo com Dorsey. Também é absurdamente pouco tecnológico: você simplesmente rastreia movimentos de segurança com colunas de X para crescimento e O para declínio. Conseguindo o padrão correto de X, você compra, de O, você vende.
A simplicidade espantou Dorsey, e em 1987 ele começou sua própria firma para ensinar o método a corretores. Quando a ideia de um smart beta surgiu, sua empresa havia ensinado a milhares como usá-lo para seus clientes. “Você pode olhar para isso como meu ministério, e os conselheiros financeiros como meus ministros”, ele diz.
Desde então, Dorsey desenvolveu 82 modelos de investimentos em ações, ETFs e fundos nacionais.
Mais recentemente, companhias de fundos, incluindo a Forst Trust e a Invesco PowerShares, usaram esses modelos para guiar compras em fundos mútuos e ETFs, para as quais pagavam um valor a Dorsey. O Focus 5 ETF, lançado em março de 2014, usa métodos semelhantes para comprar outros 5 ETFs oferecidos pela First Trust, cada um deles específico para indústrias.
Corretores já estão usando os modelos de Dorsey para isso. Até o final do ano passado, o Focus 5 possuía US$1,62 bilhão, maior número entre 200 ETFs lançados no ano passado. E então o Nasdaq veio ligando, procurando por um pouco do boom do smart beta, e reduz sua dependência em negociações de margem baixa, diz Dorsey. Ele comprou toda a firma.
A moda está levando indexadores tradicionais à loucura. “Não mencione smart beta nesse escritório!”, diz Jack Bogle, fundador do Vanguard Group e pai do fundo de índice, ao Bloomberg Markets. “Eu nem sei o que isso significa. Disparate. Marketing!”
Alguns gestores de dinheiro dizem que o smart beta se tornou inteligente demais. Peter Mallouk, presidente da Creative Planning, uma firma de assessoria financeira no Kansas, vê muito marketing: “eu acho que muitas pessoas serão surpreendidas negativamente”, ele diz.
William Bernstein, um neurologista aposentado que escreveu uatro livros sobre investimentos, também está cético. “Há muito dinheiro burro indo parao smart beta?”, ele pergunta. Provavelmente, ele diz, e isso o deixa preocupado. “Quando eu presido uma aula de ações, eu pergunto quão esclarecidos meus companheiros são. Aqui, você terá um fluxo de investidores indisciplinados que pensam que ganharão um almoço de graça”.
Dorsey joga bilhar em uma liga em Richmond. Após a compra de sua companhia pelo Nasdaqu, ele certamente poderia usar mais tempo para melhorar suas habilidades. Mas ele planeja continuar como consultor. Ele tem uma cópia do livro de Cohen na estante de seu escritório, e ainda fica maravilhado com como esse sistema simplesmente permanece. Ainda assim, mesmo Dorsey reconhece que robôs têm seus limites. “Quanto mais esotérico você fica com ETFs, menos eles funcionam”.
É melhor ficar com um sistema de 100 anos de idade, Dorsey diz. Por mais simples que seja, os honorários e despesas no Focus 5 são de 0,94% por ano, o que é alto mesmo para um fundo beta. Dorsey diz que muitos disso vai primeiro ao First Trust e que sua firma fica com cerca de 0,2%. Mas as despesas podem valer a pena. O ETF mais velho usando um modelo de Dorsey, o PowerShares DWA Momentum Portfolio, retornou 82% após taxas desde que começou em março de 2007, em comparação com 78% para o S&P 500. Isso não é exatamente um triunfo enorme, mas smart beta não é uma estratégia para a dominação do mundo. É sobre incrementar ganhos sobre o tempo que compõem seu caminho rumo a riqueza.
Deixe o robô agir e é isso o que você tem em troca – desde que tenha o robô certo.
Por: InfoMoney : Bloomberg
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