Livio Oricchio: vantagem da Mercedes deverá se estender até o fim do ano


A Fórmula 1 já tem algumas respostas às perguntas mais comuns realizadas depois dos testes da pré-temporada. E servirão para projetar as primeiras etapas do campeonato. Por exemplo: o terceiro colocado no Circuito Albert Park, neste domingo, Sebastian Vettel , com Ferrari SF15-T, recebeu a bandeirada 33s depois de o vencedor confirmar seu imenso favoritismo, Lewis Hamilton, da Mercedes.


E o companheiro de Hamilton, o alemão Nico Rosberg , acabou na segunda colocação, 1,3 segundo atrás, também de acordo com a lógica. Felipe Massa , Williams FW37-Mercedes , quarto na prova, chegou a 3,6s de Vettel. Ao longo de 58 voltas do GP da Austrália, sendo as quatro primeiras com safety car, a Mercedes abriu cerca de meio segundo por volta da Ferrari e da Williams.


Lewis Hamilton GP da Austrália Fórmula 1 (Foto: EFE / Diego Azubel)Lewis Hamilton comemora vitória no GP da Austrália: Mercedes confirma vantagem (Foto: EFE / Diego Azubel)


Diante do apresentado nos testes em Jerez de la Frontera e Barcelona, este ano, ratificado na definição do grid sábado, esperava-se uma vantagem ainda mais expressiva da equipe alemã. De qualquer forma, ficou claro a todos, sem exceção, a ainda maior dominância da Mercedes na F-1.


Para Hamilton ou Rosberg não vencerem nessa fase inicial da temporada – e provavelmente até o fim do ano – será preciso um problema mecânico, um equívoco do time, deles próprios ou o seu envolvimento num incidente de corrida.


Williams e Ferrari melhoraram bastante seus carros, mas o grupo coordenado por Aldo Costa, na área de chassi, e Andy Cowell, unidade motriz, da Mercedes, avançou ainda mais. Por isso a conquista das pole positions e vitórias deverão ser ainda mais fáceis este ano para Hamilton e Rosberg.


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O pior para o espetáculo, em termos de alternância de vencedores, é a outra resposta que o GP da Austrália ofereceu: Hamilton está mais sereno. A separação da eterna namorada Nicole Scherzinger, de efeitos devastadores na sua produção nas experiências anteriores, parece desta vez não tê-lo atingido, ou não interveio na sua pilotagem.


Aos 30 anos, tendo conquistado seu segundo título em 2014 e vendo ser depositado 2 milhões de euros (R$ 7 milhões) por mês na sua conta bancária, com perspectivas de ser ainda mais no novo contrato prestes a ser assinado, Hamilton passou a impressão de ter crescido bastante. Sua expressão corporal e equilíbrio nas declarações refletem um homem maduro. As próximas etapas deverão confirmar essa impressão.


Lewis Hamilton GP da Austrália Fórmula 1 (Foto: EFE / Diego Azubel)Lewis Hamilton ergue troféu de vencedor do

GP da Austrália (Foto: EFE / Diego Azubel)


E o piloto mais talentoso da F-1, ao lado de Fernando Alonso, dispondo de paz de espírito e um carro muito superior ao dos adversários, expõe a competição a um risco: monopolizar as vitórias. As coisas mudam rápido na categoria, por essa razão é necessário ser prudente nas projeções.


Em 2014, Hamilton venceu a segunda, terceira, quarta e quinta corridas, mas bastou um estresse, em Mônaco, quando perdeu para Rosberg, depois de acusá-lo de provocar o acidente na classificação, para entrar num descompasso emocional grave, a ponto de perder a liderança do campeonato e só recuperá-la oito GPs mais tarde, em Cingapura.


Como Hamilton é mais talentoso e eficiente que o competente Rosberg, ao longo de várias corridas sua média tendia mesmo a ser mais alta. Do GP da Itália de 2014, em setembro, até o da Austrália, este ano, foram oito provas. O inglês campeão do mundo só não venceu em Interlagos, quando recebeu a bandeirada em segundo. Nas demais sete celebrou a vitória.


O inglês está no melhor da sua forma, técnica e emocional. Antes de subir ao pódio, neste domingo, a TV flagrou Hamilton acariciando o modelo W06 da Mercedes.


- O melhor carro que já pilotei na vida - afirmou o piloto, sábado, depois de estabelecer a pole position, com um tempo 1s391 melhor que o primeiro adversário da Mercedes, Massa, terceiro, e 1s430 de Vettel, quarto. A cena tem elevadas chances de se repetir com frequência na temporada.


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ferrari e williams brigam por posto de segunda força



Ferrari e Williams vão mesmo, como o previsto, depois dos testes de inverno, lutar com regularidade pelo terceiro lugar do pódio. Serão quatro pilotos: Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen, de um lado, e Felipe Massa e Valtteri Bottas do outro. Em Melbourne, com Bottas fora do GP por causa de um problema na coluna, e Raikkonen tendo de abandonar devido a um erro no pit stop da Ferrari, a luta se limitou a Massa e Vettel.


Na primeira metade da corrida, até o seu primeiro pit stop, na 22.ª volta, Massa manteve-se, com pneus macios, em terceiro. Mas perdeu tempo ao voltar para a pista atrás de Daniel Ricciardo, da RBR-Renault, e com isso Vettel o ultrapassou quatro voltas mais tarde, quando fez sua parada. O evidenciado a partir daí mostrou a ainda existente carência de pressão aerodinâmica da Williams. Ao mesmo tempo, a possível superioridade do modelo SF15-T italiano nessa área.


Felipe Massa Williams GP da Austrália Fórmula 1 (Foto: SRDJAN SUKI / EFE)Felipe Massa seguido por Sebastian Vettel durante o GP da Austrália (Foto: SRDJAN SUKI / EFE)


Com Massa e Vettel de pneus médios da Pirelli, a Ferrari passou a ser mais rápida. Com os macios, até então, Massa conseguia ser alguns milésimos melhor. Os pneus macios oferecem maior aderência mecânica. Os médios, menos. O equilíbrio do carro vem mais da pressão aerodinâmica gerada. E nesse exame a Ferrari se saiu melhor que a Williams nos 5.303 metros do Circuito Albert Park.


O saldo positivo para Massa vem do fato de ter iniciado o ano com um bom resultado, importante para ele, consigo próprio e dentro da Williams. Não costuma ir bem na primeira metade do calendário.


Lewis Hamilton GP da Austrália Fórmula 1 (Foto: EFE / Diego Azubel)Vettel subiu ao pódio em sua estreia pela Ferrari (Foto: EFE / Diego Azubel)


A próxima etapa, o GP da Malásia, dia 29, representa um cenário mais apropriado para avaliar o estágio atual de desenvolvimento dos dois modelos candidatos a lutar pelo terceiro lugar do pódio. A pista australiana é bastante particular. Este ano o resultado obedeceu a lógica, mas não é esse o seu histórico.


O Circuito de Sepang, próximo a Kuala Lumpur, é do tipo permanente, não improvisado, como o de Melbourne, e há de tudo lá, duas longas retas, curvas de alta, média e baixa velocidade, trechos em aclive, declive, curvas cegas, um S bem rápido, o calor costuma ser intenso, enfim, o GP da Malásia será o real parâmetro para se entender melhor o potencial de cada escuderia ao menos até o GP da Espanha, quinto do campeonato, dia 10 de maio. Lá as escuderias quase lançam uma nova versão de seus monopostos.


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nasr tem estreia brilhante



Depois de Hamilton, Rosberg, Vettel e Massa veio Felipe Nasr , brasiliense de 22 anos, da Sauber , estreante na F-1. Simplesmente brilhante! Foi possível imaginar, sexta-feira, a ansiedade de Nasr, dentro do cockpit, nos boxes, vendo os concorrentes treinando e ele e o companheiro, Marcus Ericsson, parados. Se entrassem na pista a justiça australiana sequestraria os bens da escuderia, por Guido van der Garde ter vencido a disputa judicial.


Nasr trabalhou a vida toda até aquele momento para, finalmente, estrear na F-1. E por um motivo bem pouco comum, potencialmente capaz de comprometer até mesmo a participação da Sauber nas primeiras etapas, tinha apenas de assistir a tudo.


Felipe Nasr GP da Austrália Fórmula 1 (Foto: SRDJAN SUKI / EFE)Brasiliense Felipe Nasr empolgou em sua estreia na categoria (Foto: SRDJAN SUKI / EFE)


Perdeu o primeiro treino livre, importante para ele pois não conhecia o traçado australiano, e com tudo isso, o profundo desgaste emocional e o tempo menor de preparo, correu como um piloto de sucesso e experiente. Rápido, não colocou uma roda fora da trajetória normal. Foi pressionado a maior parte do tempo por Daniel Ricciardo e mesmo assim terminou a etapa de abertura do Mundial em notável quinta colocação.


A eficiente preparação realizada na pré-temporada, quando completou 2.979,5 quilômetros, menos somente de Rosberg, demonstrou ter sido decisiva no desempenho de Nasr na Austrália. Competiu com autoconfiança de chamar a atenção, em especial para um estreante.


Felipe Nasr não contém as lágrimas após ótima estreia na Fórmula 1 (Foto: Luiz Demétrio Furkin / TV Globo)Nasr se emociona ao falar sobre o 5º lugar no GP da Austrália (Foto: Luiz Demétrio Furkin / TV Globo)


Foi agressivo na largada e na relargada, em seguida à saída do safety car, realizou ultrapassagens nessa hora, defendeu-se do ataque de Ricciardo, soube administrar o ritmo de corrida, ora exigindo mais ora apenas mantendo o australiano atrás de si, preservando os pneus, enfim, tudo o que se espera de um piloto talentoso mas com experiência. Nasr apenas tem talento, capaz de levá-lo a ser campeão europeu de Fórmula BMW, com 17 anos, campeão britânico de Fórmula 3, com 19, e disputar o título da GP2 nos dois últimos anos.


O piloto de Brasília já passou uma mensagem ao paddock: “Com um carro mais rápido e equilibrado poderia ter feito ainda mais”. Se Nasr confirmar ao longo da temporada a mensagem, poderá sonhar em se transferir para uma equipe de mais recursos, onde o seu diretor jurídico não venda duas vagas no time a três pilotos, como fez Monisha Kaltenborn, da Sauber.


Para não estender demais a viagem pelos ensinamentos da primeira corrida do ano, é imprescindível parar em frente ao motorhome da Renault, fornecedora da unidade motriz da RBR e da STR . Na sexta-feira, antes de completar 50 quilômetros com sua primeira unidade motriz, Ricciardo parou. E teve de passar para a segunda.


O regulamento permite, este ano, apenas quatro unidades por piloto. Muito provavelmente o australiano irá ser punido nas provas finais por ultrapassar o limite de quatro unidades. Além dele, Max Verstappen, da STR, também de Renault, enfrentou problemas na unidade e até abandonou.


Os dirigentes da RBR já não são mais delicados nos seus comentários sobre a Renault. “Andamos para trás”, afirmou Adrian Newey, consultou técnico. “Vergonhoso”, disse Helmut Marko, representante do proprietário, Dietrich Mateschitz.


Ricciardo gp australia formula 1 (Foto: Reuters)Equipe RBR segue tendo dificuldades com a unidade motriz da Renault (Foto: Reuters)


Já Christian Horner, diretor, vai além. Pede para a FIA “equalizar” a competição, encontrar formas de as unidades não apresentarem diferenças tão significativas de desempenho.


- Fizeram isso quando dominávamos, a exemplo de mudar o mapa eletrônico do motor, proibir o escapamento aerodinâmico, por que não fazer algo semelhante agora? - questionou Horner.


Ricciardo explicou uma das principais dificuldades da unidade motriz da Renault:


- Não é possível pilotar nosso carro, a potência surge de repente - disse o piloto australiano, frustrado por receber a bandeirada em sexto, com uma volta a menos de Hamilton. Resultado humilhante para uma organização que de 2010 a 2013 venceu tudo.


Para tornar o modelo RB11 minimamente guiável, a Renault reduziu a resposta de potência de sua unidade. A revolta de Newey decorre do fato de ele, Horner e Marko cobrarem uma postura distinta da direção da Renault, reconheça as severas dificuldades de sua unidade. Os franceses parecem não estar conscientes de suas responsabilidades. “Eles te ouvem, mas não fazem nada.” O projeto de a RBR correr com unidade própria deve, agora, sair do papel.


É pouco provável que a escuderia austríaca possa, de um GP para o outro, se inserir na luta com Ferrari e Williams pelo terceiro lugar no pódio. Dependerá muito do avanço da Renault com a sua ineficiente unidade motriz.


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a fórmula 1 está mais rápida



A diferença entre a melhor volta de 2014 em Melbourne, de Rosberg, 1min32s478, e a deste ano, de Hamilton, 1min30s945, é de 1s533. Durante a corrida, a média foi ainda maior, dois segundos. Mesmo assim, a maioria fez um único pit stop, este ano, ao passo que o diretor da Pirelli, Paul Hembery, afirmou que a empresa seria mais agressiva na escolha dos pneus. Ao menos na Austrália demonstrou exatamente o contrário. A escolha dos pneus supermacios e macios, em vez dos macios e médios teria tornado a corrida menos previsível e mais emocionante.


Por fim, um breve comentário a respeito da estreia da McLaren-Honda. Fernando Alonso não deve ficado nada triste por não ter disputado o GP da Austrália. Seu companheiro, Button, terminou em penúltimo no grid – o último foi Kevin Magnussen, substituto de Alonso -, com um tempo 5s92 pior do de Hamilton. E enquanto o inglês vencedor da prova completou 58 voltas, Button, apenas 56. É uma diferença inquietante, daquelas de não dar margem a mudanças importantes ao longo da mesma temporada.


button gp australia formula 1 (Foto: Reuters)Button foi o último a completar a prova, com muita dificuldade para guiar sua McLaren (Foto: Reuters)


Será interessante acompanhar a reação de Alonso, em Sepang, quando as dificuldades do modelo MP4/30-Honda tendem a ser ainda piores em razão de a pista ser mais rápida. A Honda trabalha com um regime bem mais baixo de rotações na sua unidade. O limite é 15 mil rpm, para mantê-la funcionando.


Ao mesmo tempo, vão perguntar ao espanhol qual a sua visão da velocidade e confiabilidade do modelo SF15-T da Ferrari, recusado por ele. Por não confiar no seu sucesso decidiu deixar a equipe. A Caterham abandonou a F-1 e a Marussia tenta voltar. Mas seu papel, de largar nas últimas colocações e não poder aspirar melhores resultados, está agora sendo interpretado pela McLaren-Honda com impressionante fidelidade.


Qual será o comentário de Alonso depois do primeiro dia de treinos em Sepang, caso venha mesmo a ser autorizado a competir?





Por: formula 1

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