O tempo está próximo.
O que torna a nossa época tão enfadonha é o fato de que todo mundo hoje em dia tem uma opinião (quase sempre genérica e superficial) sobre tudo. A mediocridade disfarçada de discurso inteligente, o otimismo exagerado e falso, e a tentativa de projetar a qualquer custo uma autoimagem de pessoa realizada e decidida, transformam o cotidiano num deserto lúgubre e infértil que apenas serve de solo para a criação de novas ilusões e utopias. E estes falsos conceitos podem, por sua vez, nos levar ao radicalismo e à insensatez. Pois, como a História nos mostra, a convicção cega de que se está sempre certo é o primeiro passo para a destruição de todo pensamento crítico e também o prenúncio do fim das liberdades, pois todo aquele que se acha com a total razão quer impor violentamente a sua visão de mundo aos outros. A ignorância ainda reina no mundo, de certo modo, ainda estamos vivendo na “Idade Média”, só que agora é muito pior, pois temos nas mãos as ferramentas necessárias para a construção de um mundo melhor e não as usamos.
A única solução possível para os problemas que enfrentamos agora (pode parecer clichê infelizmente) é a educação e a formação de cidadãos conscientes e capazes de pensar por si mesmos. Como bem disse Henry: “O século 21 não inventou a guerra, a fome ou a morte”. Problemas, todos nós temos, porém o que muda é a resposta que cada um procura dar ao seu problema, e também o entendimento que cada um tem das causas que o originaram.
Neste episódio, tivemos uma participação muito ativa de Henry McCord na trama. Elizabeth queria que o marido fizesse apenas uma ligação para o líder do grupo religioso fundamentalista, porém o presidente preferiu que ele fosse pessoalmente à Bolívia para tratar do assunto, o que me pareceu uma atitude inverossímil, porém tratarei disso mais à frente. O que vale salientar aqui é que as duas tramas principais deste episódio possuíam o mesmo tema, e, de certa forma, se complementavam num diálogo harmônico e constante. O tema, a meu ver, foi o da autonomia de pensamento, o direito inalienável que todos temos de chegarmos às nossas próprias conclusões sem sermos usados como massa de manobra ou, usando outra metáfora mais simples, como peões em um jogo de xadrez.
Na primeira e principal trama, vemos a secretária de Estado tentando impedir um suicídio coletivo de cidadãos americanos que participam de um grupo religioso fundamentalista cristão que prega o fim do mundo para a próxima “quinta-feira”. Depois que o congressista Larry Ames é feito refém pelo grupo, Henry vai até a Bolívia para conversar e tentar dissuadir o líder deste culto a não prosseguir com seu projeto de sacrifício coletivo. Henry tenta mostrar ao reverendo Wesley, líder do grupo, que tal ato (cruel) deve ser livre e consciente, pois não podemos deixar que outras pessoas morram por causas que não são suas, morram por ideias alheias ou por conceitos e interpretações das quais não tenham o menor entendimento. A réplica do reverendo é de que todos ali estavam de livre e espontânea vontade, porém é uma verdade inegável que somos facilmente manipulados por ideologias e visões de mundo majoritárias, é sempre mais fácil seguir a corrente do que nadar contra ela. E, como conversar com fundamentalistas nunca resolveu muita coisa mesmo, a missão acaba com um saldo de 37 mortes. Porém, convencer um extremista religioso é bem diferente de convencer a própria filha, ou não!?
Isso nos leva à segunda trama do episódio, àquela em que Elizabeth e Henry ficam com cara de tacho ao conhecerem o novo namorado da filha.
Não é à toa que Stevie gosta tanto de seu novo trabalho “não remunerado”, a garota parece que está amando… Porém, quem não gostou nem um pouco dessa história, foram os pais, os charmosos Henry e Elizabeth McCord. Confesso que adorei a apresentação improvisada e inesperada do namorado Arthur Gilroy (39 anos, chefe, divorciado e com uma filha, hum…), apresentação esta que acabou se transformando em um interrogatório acerca da vida, profissão e reais intenções de Arthur para com Stevie. Eu sei que todos gostariam de fazer parte desta adorável família, mas este é um privilégio para poucos.
Voltando à questão principal, o zeloso pai Henry teme que sua filha seja manipulada pelo novo namorado, deixando de fazer análises próprias e tomando como verdade tudo o que o namorado diz. Como bem sabemos, o amor pode produzir em nós estranhos efeitos, como por exemplo, acabar gostando de algo que nunca demos importância ou que não gostávamos antes por causa da influência do parceiro, alguns chamam isso de falta de personalidade, porém, de qualquer forma, não somos seres muito racionais (gostamos de ouvir a voz do “coração”). O medo de Henry é sensato e correto, precisamos ter uma consciência própria, não nos deixar levar por discursos falaciosos. No entanto, o que Henry não percebe (e Elizabeth salienta) é que sua filha não é qualquer garota, ela é uma McCord.
Quanto ao problema da falta de verossimilhança que eu citei acima, eu gostaria de pontuar algumas coisas. Eu sei que criaram para Elizabeth e Henry um “background” impressionante. Ela, uma ex-agente muito experiente da CIA. Ele, ex-piloto de caça, professor universitário com passagem pela NSA (Agência de Segurança Nacional). Estas habilidades possibilitam que a serie tenha uma maior variedade de recursos narrativos, porém não podemos negar que, de certa forma, uma ida do marido da secretária de Estado para resolver um problema relacionado a fanáticos religiosos em outro país é, no mínimo, bem incomum, assim como a viagem de Elizabeth ao Irã foi também algo pouco plausível. Não estou reclamando, pois gosto muito da série, só estou pontuando algo que seria inverossímil ou, pelo menos, pouco provável de se acontecer no mundo real. No entanto, de uma forma geral, estas “liberdades narrativas” da série são sempre bem usadas, tornando Madam Secretary muito aprazível de se acompanhar. E a segunda temporada, para a nossa felicidade, já faz um bom tempo que está garantida.
P.S.: Eu não poderia deixar de falar um pouquinho sobre Matt Mahoney, o homem responsável por escrever os discursos de Elizabeth. Trata-se de um personagem bem cômico, e, às vezes, até meio infantil. Matt levou uma bronca de Mike por causa de sua falta de discrição. O seu trabalho é fazer a estrela da secretária de Estado brilhar mais forte, e não concentrar todos os holofotes em si mesmo. Aos poucos, ele aprende.
Por: Série Maníacos
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