O longo e prudente histórico de Hillary Clinton nos direitos da mulher

Hillary Clinton: republicanos dizem que é hipócrita da parte dela se apresentar como defensora das mulheres



(SÃO PAULO) -- Os primeiros comentários a respeito do mandato de Hillary Clinton como secretária de Estado não eram muito diferentes dos da foto do “texts from Hillary” (“textos de Hillary”, em tradução livre), onde ela aparece como uma super-heroína de óculos escuros: houve mais mensagens positivas sobre isso do que sobre o episódio A condessa viúva, do seriado britânico Downton Abbey.


“Ela está, pelo que parece, em todos os lugares ao mesmo tempo”, declarou a Newsweek em 2011, “cruzando fusos horários e desafiando o jet lag”. Naquele mesmo ano, Eric E. Schmidt, do Google, classificou-a como “talvez a secretária de Estado mais importante desde Dean Acheson, que ajudou a unificar a relação entre a Europa moderna e os Estados Unidos”.


Depois que John Kerry sucedeu Hillary, contudo, essa avaliação caiu rapidamente. No fim de 2013, o New York Times informou que “pessoas próximas à sra. Clinton temem que, devido à grande cobertura dada ao seu trabalho sobre direitos humanos e ao fato de as manchetes agora estarem sendo geradas pelo hiperativo sr. Kerry, seus esforços em situações diplomáticas mais complicadas tenham ficado eclipsados”. Onde estava o crédito pelo grande trabalho na Líbia, por exemplo?


Pouco mais de um ano depois, ninguém ressalta o legado de Hillary na Líbia. E agora, como tudo leva a crer que ela está se preparando para uma segunda campanha presidencial, até mesmo seu histórico em relação às mulheres está sendo revisto.


Hipocrisia


Republicanos, como sua possível rival Carly Fiorina, argumentam que é mais do que hipócrita da parte de Hillary apresentar-se como defensora das mulheres, enquanto a Fundação Bill, Hillary Chelsea Clinton aceita grandes doações da Arábia Saudita e de outros países com um histórico lamentável nesse setor.


“Quais são, exatamente, as grandes conquistas dela em favor das mulheres?”, perguntou Danielle Pletka, assessora de longa data do Comitê do Senado dos EUA para Relações Externas, que agora está no conservador American Enterprise Institute. “Eu estou muito impressionada com a mudança dela em relação à Arábia Saudita”, acrescentou Pletka, jocosamente. “Ela não vai muito além da conversa”.


Falar não é nada, pelo contrário, é o que os diplomatas fazem. E os presidentes, de quem esperamos um uso vigoroso do púlpito. E até os jornalistas, cujas únicas ferramentas são as palavras.


Status de embaixadora


Melanne Verveer, assessora de longa data de Hillary e a primeira embaixadora dos EUA para os problemas das mulheres no mundo, rejeitou as críticas sobre as doações: “Isso é tão absurdo que prejudica seu desempenho como defensora das mulheres”.


O antigo cargo de Verveer era relativamente um remanso nos governos George W. Bush e Bill Clinton; naquela época, ele estava focado em projetos especiais. Depois, o presidente Barack Obama e Hillary Clinton o elevaram, dando à sua chefe o status de embaixadora e exigindo que o avanço das mulheres fosse integrado a todo o trabalho do Departamento de Estado. Em particular, Hillary focou no nexo entre a participação das mulheres e o crescimento econômico e a proteção das mulheres em áreas de conflito.


“Se as evidências significam algo”, disse Verveer, “as pessoas deveriam olhar para o histórico dela no Departamento de Estado e além dele”.


Lunática narcisista


Certamente, deveriam, e particularmente além do Departamento de Estado, esse histórico é uma mistura. Na vida privada de Hillary, a referência a Monica Lewinsky como uma “lunática narcisista” talvez não tenha sido tão surpreendente, mas também não foi muito fraternal. Nem a forma como ela falou a respeito de sua defesa bem-sucedida, em 1975, de um homem que ela parece ter acreditado que era culpado de estuprar uma menina de 12 anos de idade, em uma entrevista gravada postada pelo site de notícias conservador Washington Free Beacon, em junho passado.


Entre as histórias mais importantes a seu favor, da sua época como secretária de Estado, a principal surgiu com o livro “HRC: State Secrets and the Rebirth of Hillary Clinton” (“HRC: Segredos de Estado e o Renascimento de Hillary Clinton”, em tradução livre). Nele, Jonathan Allen, da Bloomberg, e a coautora Amie Parnes relatam que Hillary ignorou as preocupações com a segurança para visitar refugiados na República Democrática do Congo, em 2009, e se encontrar com sobreviventes de violência sexual.


Como primeira-dama, seu discurso em 1995 na 4a Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, argumentando que “não é mais aceitável discutir os direitos das mulheres de forma separada dos direitos humanos” foi ao mesmo tempo elogiado por sua ousadia e ridicularizado por ser muito brando, já que ela não chamou a China pelo nome.


Uma década depois, ela foi criticada por algumas de suas colegas defensoras do direito ao aborto quando as surpreendeu, em uma reunião com elas, sugerindo que elas deveriam procurar um “terreno comum” com seus adversários e tentar reduzir o número de abortos, que descreveu como “uma escolha triste e até mesmo trágica para muitas, muitas mulheres”.


Em cada um desses casos, Hillary adotou um risco calculado em vez de um risco dramático, com um objetivo específico e alcançável em mente. E é por causa desse caminho que ela escolheu que existe um histórico tão longo para peneirar.





Por: InfoMoney : Bloomberg

Nenhum comentário:

Postar um comentário