Revenge 4×17: Loss


Revenge e paz, a combinação mais improvável do mundo televisivo.


É curioso como Revenge vive de explorar, da forma mais novelesca possível, os sentimentos conflitantes que é capaz de gerar no espectador mais envolvido com a série. É claro que precisamos ser realistas e compreender que o roteiro de Revenge é um dos trabalhos mais avacalhados da nossa watch list, mas também é necessário destrinchá-lo para encontrar os pequenos tesouros que são responsáveis por despertar tanto amor por esse universo glamuroso e crocante.


A começar por nossa protagonista, que é um poço de ódio e egocentrismo, mas que, ao mesmo tempo, tem coração. Acompanhamos sua história e compreendemos sua sede de vingança porque é impossível considerar que uma infância como a dela não gere sérios efeitos coleterais na personalidade de uma pessoa. Sabemos que Emily tem um bom coração, nem que seja bem lá no fundo.


Com o tempo, outras personagens foram ganhando essa mesma tridimensionalidade. Victoria tem uma expulsão de casa aos 16, uma mãe que a odiava e dois estupros, sendo que o último deles causou uma gravidez indesejada cujo fruto precisou ser abandonado contra a sua vontade. Se isso não é bagagem e se isso não é motivo suficiente para humanizar a aparente vilã e gerar empatia, a humanidade está perdida.


E, apesar de todo o ceticismo – e consequente falta de envolvimento com a personagem – do público, o mesmo processo tem acontecido com Margô, a nova vilã (temporária, diga-se de passagem) do pedaço. Margô caiu de pára-quedas no meio da guerra de Ems. Viu seu amigo de infância, recém-descoberto amor e pai do seu filho ser morto e ter seu nome jogado na lama, em uma situação suspeita. Ela sabia que haviam armado para Daniel, como Ems sabia que haviam armado para seu pai. E, assim, Margô foi atrás de sua vingança. No meio do caminho, ela descobriu certas verdades por meio de Victoria, mas a ira já havia consumido a racionalidade da jornalista naquele ponto, e essas verdades não foram suficientes para inocentar Emily da culpa indireta pelo que aconteceu a Daniel.


Agora, as duas primeiras estavam realmente disposta a uma trégua, de fazer o que era certo. E, após perceber que Lyman morreu enquanto tentava cumprir uma missão dada por ela (que aqui também culpou Emily, e desta vez finalmente foi mesmo injusta, mas não havia como alguém deduzir algo diferente), Margô revelou seu lado humano. Ela compreendeu o que Ems já sabia desde quando começou a executar seu plano, e o que Victoria aprendeu neste último ano de amadurecimento: toda Revenge tem efeitos colaterais que gerarão arrependimento. Ela estava disposta a desistir de tudo, quando, não mais que de repente, o who contratado – que devolveu de graça a amostra de sangue do Jack sem real necessidade – quis mandar na série e influenciá-la a seguir em frente. Ainda assim, Margô não se convenceu facilmente.


E foi essa Margô relutante que foi abordada por uma Emily que, após um apelo de seu pai – outro que passou pelo mesmo processo que Ems e Vicky e agora está na vibe “sou da paz” – tentou, pela primeira vez, colocar seu lado humano acima do vício em vingança. Não vou mentir pra vocês: eu vejo Revenge justamente para me deliciar com personagens malignas destruindo umas às outras, mas até o meu coração gelado ficou tocado aqui. Eu me peguei pensando que nem Emily, nem Victoria, nem Margô eram pessoas suficientemente ruins para merecerem um final infeliz, e que talvez a paz fosse realmente a melhor alternativa.


Mas fiquei bem quietinho até esse bom sentimento passar. Porque, sim, ainda estamos falando de Revenge, e sim, ainda queremos destruição. Assim, aquele táxi sem noção que atropelou Margô (sério, quem estava dirigindo, o Ray Charles???) e confirmou nossa previsão de meses atrás de que esse bebê seria perdido (já pode considerar Loss o título de episódio mais spoileador da história de Revenge?) foi realmente providencial. Providencial não apenas para garantir que o ódio da jornalista ficasse mais aceso do que nunca, mas também para trazer Victoria novamente para o lado negro da força, que a gente tanto ama. Sinceramente? Não julgo Margô nem um pouco. Não foi fingir que sei como é a dor de uma mãe que perde um filho, mas já passei por perdas suficientes para entender o impulso de Margô, o ódio, a necessidade de culpar Emily.


Esse foi, inclusive, o meu momento favorito de Loss, um bom episódio que conseguiu elevar novamente a peteca que a trinca de episódios anterior havia deixado cair. Porque, no fim das contas, se não fosse esse momento “os escrúpulos que se danem” da nossa francesa, ainda estaríamos na fase mais chata e entediante pela qual Revenge já passou, com aventuras de Ems e Vicky completamente independentes e que parecem até mesmo pertencer a séries diferentes. Não mais. Ems, prepare-se! Rainha Victoria está de volta!


Observações:


- Loss marca o retorno da oscarizada Helen Hunt como diretora em Revenge, depois de já ter comandado o episódio 2×15: Retribution.


- Boa parte do episódio girou em torno da tentativa de livrar Jack da prisão, mas eu não consigo achar que esse arco, que obviamente não daria em nada, merece nossa atenção. O mais legal mesmo foi ver Revenge trazendo aleatoriamente Stevie Florrick Grayson de volta só pra brincar de tribunal. Foi quase bonitinho-fofinho-cuti-cuti ver Revenge se esforçando para ser The Good Wife, tadinha. Mas é lógico que a série tinha que revengear a brincadeira e fazer Stevie começar a gritar feito uma louca com a juíza e ser presa. Divertidíssimo!


- Não sei se é falta de inteligência minha ou se o roteiro ficou ruim, mesmo, mas eu vi e revi a cena entre Margô e Victoria e continuo tão perdido quanto a rainha esteve em relação ao motivo por que a jornalista votou contra a doação em favor da Daniel Grayson Foundation. Afinal, ela queria proteger o filho do quê? E como é que votar contra o protegeria?


- “Darling, this is very sweet, but you know I prefer firemen”. Louise, mostrando como sua relação com Nolan é a coisa mais maravilhosa que Revenge tem a nos oferecer. Eu preferiria que ela lidasse com isso sozinha, mas estou curioso pra saber como eles cuidarão do caso da morte de Lyman. Será que Ems também se tornará cúmplice ou Nolan guardará o segredo da esposa?


- O novo boy assistente social do Nolan é meio insosso, mas parece ser bacana. E é do pessoal de humanas, ou seja, merece ao menos nosso voto de confiança.





Por: Série Maníacos

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