A última ceia.
Bates Motel tem trilhado com bastante sucesso o caminho de Norman Bates rumo a sua psicose. A cada episódio nos distanciamos daquele Norman que conhecemos no início da série e vamos nos aproximando de uma figura mais fria e que carrega consigo certo ódio misturado com diversas incertezas. Fica cada vez mais difícil sentir empatia pela figura de Norman.
Por tal motivo esse momento soa tão irônico, belo e doloroso. Nós já sabemos o final da história, e ele está longe de ser feliz, e ver aquela cena com a família e alguns bons amigos reunidos chega a ser estranho uma vez que a casa vazia é uma marca dos Bates. Essa inversão que precede o momento em que Norman invade o quarto de sua mãe enquanto ela dorme cria um terrível contraste. Norma é uma mulher que carrega consigo diversas dores, e apesar de todas as falhas nós sempre a enxergamos como uma vítima das circunstâncias.
Deixar Caleb participar do jantar foi um ato nobre e corajoso. Vemos ali o quanto Norma está disposta a ceder para que finalmente consiga ter uma vida feliz ao lado da família. E uma vez que conhecemos o desfecho infeliz, é normal que nos sintamos alegres com essa felicidade momentânea, mas culpados por sabermos que ela não durará. E nesse contexto o título do episódio cai perfeitamente bem, uma vez que faz uma alusão a última ceia, com Cristo compartilhando o pão com seu futuro traidor.
A beleza de um episódio tão bem estruturado pode acabar passando despercebida, mas é necessário reconhecer que The Last Supper é, até o momento, o episódio com mais “alma” da temporada. Ele reúne todas as qualidades técnicas da série, junto ao desenvolvimento da trama que a cada dia se transforma junto com seus personagens.
Um foco em Romero”
É engraçado como do meio da temporada pra cá Bates Motel consertou 80% dos erros que vinham prejudicando o andamento da trama. Entre eles estava o desenvolvimento de grande parte dos personagens, onde infelizmente se encontrava o xerife Romero, que vinha sendo utilizado de forma repetitiva e cansativa pelo roteiro. E se semana passada ficamos de frente com a força do personagem, aqui foi possível conhecer um pouco do passado dele enquanto ficávamos diante de sua fraqueza, possibilitando que enxergássemos o ser humano por trás do “Super Romero”.
Para a surpresa de Romero, o nome de sua falecida mãe estava na lista contida no pen drive e isso acabou levando a seu pai, que se encontrava preso, e que há algum tempo ele não tinha contato. A partir desse encontro podemos enxergar como Romero admira sua mãe, e culpa o pai pela morte dela. Após uma visita pouco proveitosa, e se vendo sem saída ele recorre a ninguém menos que Norma, mostrando como a relação dos dois evoluiu ao longo desses três anos da trama.
E é bom ver que a série tem aprendido a aproveitar melhor cada um de seus personagens, envolvendo o passado deles na trama central, e criando arcos interessantes a partir da mesma. Eu particularmente acreditava que essa trama do pen drive não renderia muita coisa além daquilo que já havia sido apresentado, mas estava enganado. Vamos aguardar um pouco mais para ver onde isso vai dar, e como acabará afetando Romero.
Um foco em Norman”
Fazer o psiquiatra sair correndo: conquista desbloqueada.
No início da review eu afirmei que empatizar com Norman tem se tornado uma missão cada vez mais difícil. Notem que a cada semana vemos o personagem mais distante de todos que o cercam. A transição de Norman Bates vítima para Norman Bates antagonista é algo que a série tem alcançado com naturalidade, e o roteiro vem eliminando, com bastante cautela, muito daquilo que é agradável no personagem.
Façamos uma rápida análise:
- Norman e Emma: Aquilo que era o sonho de diversos fãs da série vem deixando de ser com a chegada de Dylemma. Isso mesmo, o relacionamento de Dylan com Emma se tornou o mais novo “ship” da trama, deixando pouco espaço para Norman desenvolver um romance com ela.
- Norman e Norma: O relacionamento entre mãe e filho não se encontra em sua melhor fase. Apesar de Norma abraçar Norman após Finnigan sair correndo, vemos claramente que o relacionamento entre os dois se encontra abalado e permeado pela desconfiança.
Ou seja, os dois relacionamentos que humanizavam o personagem se encontram em crise, e isso começa a fazer com que o público passe a enxergar Norman de outra forma. Ele acaba perdendo a afinidade do telespectador, e passa a assumir o papel de “do contra”. Enquanto todos sorriem ele está emburrado, enquanto todos se alegram com a presença de Caleb ele se irrita. Norman contrasta com todos ao seu redor, feito um estranho na multidão.
A maior dúvida aqui talvez seja: Até que ponto enxergaremos em Norman a vítima? Será que Bates Motel será capaz de criar no público um ódio pelo personagem? Ou abordará isso de uma outra forma? De qualquer maneira o que temos visto até aqui é uma ótima desconstrução do mocinho da trama (é necessário reconhecer que nos dois primeiros anos foi justamente o que Norman representou na série).
E quando Finnigan confronta o personagem é possível ver como Norman se encontra num estado de agressividade. Ele rapidamente o acusa de ter dormido com Norma, e pergunta se isso foi bom ou não. Finnigan então questiona o porquê de isso ser tão importante para ele, chegando a indagar se Norman desejaria dormir com a mãe, o que mais tarde vem a ser confirmado na cena (e que cena) que encerra o episódio ao som de Tonight You Belong To Me.
E conhecendo o passado de Norma nós podemos ter noção do que esse fato representa. Tanto que a fortíssima cena acaba ganhando um belo aspecto artístico graças à execução e a música de fundo, algo que Bates Motel é mestre em fazer.
Após entregar um episódio explosivo na semana passada, Bates Motel nos apresenta The Last Supper que consegue manter o ótimo ritmo conquistado pela temporada e entregar momentos fundamentais para a estruturação de novos arcos, e desenvolvimento das tramas que já estavam abertas. Um episódio recheado de cenas excelentes, e com momentos que emocionam facilmente aqueles que se importam com esses personagens.
Por: Série Maníacos
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