Wilson Fisk não é o típico vilão de super-heróis que você está acostumado.
Mais do que uma história de origem do vigilante da cozinha do inferno, a série Demolidor irá construir o background de Wilson Fisk e sua ascensão ao poder. Porém, a forma adotada é completamente diferente de tudo o que já foi feito na televisão para retratar um vilão de história em quadrinhos. A regra é subverter e o resultado está próximo da perfeição. In the Blood quebra a regra do chefão da máfia, que fica por trás dos panos apenas confabulando, planejando e eventualmente colocando a mão na massa. Sim, Fisk faz tudo isso, mas nós já sabemos, o que nos é apresentado se torna um lado bem mais humano, algo que já é característica base de Demolidor.
Toda série precisa de um vilão, de um antagonista, mesmo que ele não trilhe o caminho mais conhecido, mostrando animosidade e antipatia, o sucesso (ou fracasso) de qualquer produção mora as mãos do bad guy. Quando lidamos com uma série de super-herói então, é mais do que importante, é fundamental que exista alguém de peso para representar tudo aquilo que o mocinho luta contra. Mesmo quando os objetivos dos dois é bem similar.
Mas e quando o nome a ser temido surge com um ar de excluído e inseguro? Pessoas confiantes demais, com ar de superioridade e exageradas, afastam o público, o que não as tornam personagens ruins, ou mal trabalhados. É difícil se relacionar com Loki, por exemplo, apesar de gostarmos do personagem pela sua canastrice. O mesmo vale para Tony Stark, ele não é o tipo de cara que você para e pensa: “Poxa, nós somos iguaizinhos”. Agora, quando você analisa através da luz de Wilson Fisk, é possível se aproximar. Essa é a fórmula que a série propõe e utiliza em sua construção, com personagens humanos. Mais urbano do que isso, impossível. E quando falo urbano, não estou me referindo as ruas e imagino que a própria Marvel também não esteja, não totalmente. Estamos falando do comum, do que acontece em qualquer cidade, onde tudo o que é possível. Do vilão que poderia muito bem ser um político que você elegeu. E também do herói de rua, claro.
Entretanto, apesar de ter um pouco mais de Fisk, o foco se divide com Claire. Sabe aquele risco que eu comentei na review anterior? Aquele do problema do herói martirizado, que se afasta de todos a sua volta para não prejudicar ninguém? Pois bem, mesmo com Claire sequestrada, espancada e quase morta, o discurso do “você precisa se afastar de mim, não é seguro”, não veio. A série é bem ágil, não poupa cenas para construir seu ritmo mais acelerado. Em um momento você Fisk em um jantar, no outro, Claire apanhando. Tudo fica melhor ainda quando ela libera aquela risada histérica, o herói chegou. Com certeza apenas mais uma cena de luta (no escuro dessa vez) para elevar a minha estima para com a série, que está se mantendo excelente neste quesito.
Eu vou ser bem claro, romance não é uma das características mais marcantes de Demolidor, do personagem e também da série. Claire, como eu já havia dito antes, serve (e deverá permanecer) como uma voz da consciência, alguém que tem o conhecimento da identidade do vigilante e sabe de sua missão. Porém, Matt não sabe o que está fazendo. A cena com o celular, o ar de flerte entre os dois e a pouca (quase inexistente) química entre Rosario Dawnson e Charlie Cox só me deixou um pouco receoso de que mais cedo, ou mais tarde, eles venham a desenvolver qualquer tipo de caso romântico. O mesmo vale para Karen e Foggy, ou a temorosa possibilidade de um triângulo incluindo o Matt e muito drama.
Algumas coisas porém ainda não fazem muito sentido, como por exemplo os irmãos russos na prisão, conforme foi apresentado no começo do episódio. É mais uma daquelas cenas que servem apenas para tomar alguns minutos em tela. Nós sabemos que os dois são capazes de qualquer coisa, descobrimos esta característica muito antes, quando eles ordenam o sequestro de um garotinho e espancaram seu pai no meio da rua. Teria sido melhor se a série tomasse esses minutos para demonstrar uma conexão mais humana, mas eu até entendo, humanizar todos os antagonistas deixaria o artificio muito desprezível. Vamos enxergar Vladimir e Anatoly como eles realmente merecem, dois bandidos de rua e tráfico, pouco capazes de realmente pensar nas consequências de seus atos.
E pobre Anatoly, que de tão perspicaz e mais pensante que o irmão, fez exatamente a única coisa que ele não deveria ter feito, interrompeu o jantar de Wilson Fisk. Não sei bem o que ele pretendia, já que é proibido até mesmo citar o nome do chefão, imaginem invadir um restaurante em que ele está jantando com uma bela curadora de arte. Bad move. Mas a morte do personagem vai além do grotesco, ela faz exatamente o que esperamos de um vilão comum, crueldade e violência. Demonstrando a volatilidade de Fisk e o quão perigoso ele realmente é. Conseguimos entender sua motivação, mas suas atitudes deixam bem claro, ele não deve ser provocado.
Por isso, In the Blood fez um excelente trabalho. Passando a imagem de que Fisk era um homem dos bastidores, nos aproximando de um indivíduo que quer se conectar, apaixonar, que tem problemas em falar com uma mulher bonita e que se sente diminuído na frente dela. Para depois o colocar esmagando a cabeça de um de seus associados, sem parar, da forma mais assustadora possível. Apenas mais um momento para eternizar nesta primeira temporada de Demolidor. Uma primeira temporada que está construindo uma das melhores histórias de origem para um herói e de quebra, para um vilão. E eu tenho certeza que vocês nunca imaginaram que a Disney poderia ser tão sombria e sangrenta.
Ester eggs e outras informações
- O ator que interpreta o irmão russo que perdeu a cabeça já interpretou um cego, na série Teen Wolf.
- Ben Urich investigou a respeito do passado de Karen Page, bom, nos quadrinhos ela teve uma vida bem conturbada, com direito a abuso de drogas e participação em uns filmes de entretenimento adulto.
- Nos quadrinhos o Rei do Crime é casado, com uma Vanessa Fisk.
- O Sr. Potter que Fisk pede para que Wesley ligue a respeito do terno pode ser Melvin Potter, o vilão conhecido como Gladiador.
Por: Série Maníacos
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