Mad Men 7×10: The Forecast

O que você vê no futuro?

Durante anos, nos acostumamos a ver Don Draper se aproveitando do momento. Seja em seus tempos de Dick Whitman ou como um publicitário estabelecido, o personagem sempre mostrou grande desprezo pelas consequências de seus atos, se focando em resolver seus problemas daquele momento. É isso que o levou a suas constantes traições, desaparecimentos e sua fatídica carta ao New York Times. Quando nos aproximamos do fim de sua jornada, no entanto, podemos vê-lo finalmente contemplando o que pode vir a acontecer com ele, sua empresa e o mundo como um todo. Explorando esse aspecto, The Forecast entrega mais um episódio temático, e dá mais um passo importante em direção ao fim de Mad Men.

Escrito por Jonathan Igla e Matthew Weiner e dirigido por Jennifer Getzinger, o episódio se foca em um artigo que Don precisa escrever sobre o que vê para o futuro, a pedido de Roger. Sem ideias, ele recorre a colegas como Ted, Peggy, Meredith e até mesmo Sally e suas amigas para saber o que falar. Enquanto isso, procura compradores para seu recém esvaziado apartamento. Já Joan vai para a Califórnia entrevistar um novo executivo, e conhece Richard Burghoff no processo. A partir dali, vive um romance meteórico com ele. Finalmente, Betty se reencontra com Glen, o que desperta velhos sentimentos entre eles, para repúdio de Sally.

Essa metade final da derradeira temporada de Mad Men tem uma consistência narrativa invejável, conseguindo aproveitar seus personagens em tramas que convirjam para o objetivo de seus episódios. Em The Forecast, a série explora o futuro. Ainda que isso signifique olhar constantemente para o passado. Podemos ver isso na trama que o episódio traz para Betty. A presença de Glen sempre foi importante para o desenvolvimento da personagem, quando ainda era casada com Don. Aqui, o garoto representa o futuro do mundo, envolvendo a Guerra do Vietnã, e também a força dos velhos erros do passado em relação à personalidade de Betty.

Aliás, é interessante como o episódio cria convergência entre ela e Don. Quando o vemos aceitando os flertes de Sarah para desespero de Sally, mesmo que não tenha nenhuma intenção de fazer qualquer coisa com a garota, imediatamente entendemos o paralelo com relação a Betty e Glen. Em New Business temos um momento parecido, mostrando que Weiner cria uma lenta reaproximação entre Don e Betty, mais no sentido de personalidade do que emocional.

Já que falamos de futuro, nada mais justo do que The Forecast utilizar jovens adolescentes como um símbolo deste. Assim, a cena em que Don ouve das amigas de Sally suas opiniões sobre o futuro se torna um dos momentos mais icônicos do episódio. A certeza das meninas sobre o que querem chega a deixar Draper assustado, já que ele não tem ideia do que vê em relação a esse assunto. É uma forma irônica de Mad Men colocar seu protagonista em uma situação patética, se vendo obrigado a recorrer a pessoas com muito menos experiência de vida do que ele.

Isso também se aplica a Joan. Sabemos pelo que a ruiva passou durante os anos para chegar ao emprego de seus desejos. Mas também sabemos que ela acredita que sua vida está apenas começando. Dessa forma, quando tem seu relacionamento com o vivido Richard, que já não está disposto a lutar por mais nada, Weiner estabelece muito bem um contraste de realidades. Afinal, se ela está interessada em viver um novo amor, Richard não tem nenhum interesse em criar outros filhos. Mesmo que ele tenha se rendido a ela no final do episódio, é de se esperar que essa trama ganhe outros desdobramentos nos últimos quatro capítulos, para que a história de Joan se encerre.

Mas, de novo, Mad Men se foca de forma quase total em seu protagonista. E se em outros momentos explorou constantemente a solidão do personagem após o fracasso de seu casamento, em The Forecast o vemos sem nenhuma prognóstico para seu futuro. O cenário depressivo que o episódio cria é excepcional, cercando Don de dúvidas, chegando a recorrer até mesmo à sua secretária para obter ajuda.

Isso acontece porque Don Draper não tem ideia do que é futuro. Vivendo sempre de atitudes impulsivas, ele nunca chegou a fazer um planejamento desse tipo. Por isso, mesmo com sua criatividade quase ilimitada, não consegue evitar recorrer até mesmo a revistas tratando da década de 1970, buscando qualquer tipo de inspiração para escrever seu artigo. Também não é por acaso que, ao pedir a ajuda de Peggy, reage sarcasticamente a cada sonho que sua funcionária revela a ele, já que para ele não passam de delírios irracionais. Assim como é natural que Ted também se atrapalhe para falar do assunto, já que tem diversos aspectos em comum com Don.

Todas essas dúvidas se estendem à vida pessoal de Don. Precisando urgentemente vender seu apartamento, ele não consegue nem alugar alguns móveis para tornar sua casa menos triste e deprimente. Até mesmo sua corretora diz que o local exala a fracasso, em um dos poucos momentos em que Don ouviu essa palavra dirigida a ele. Por isso, quando ela de alguma forma consegue fechar um negócio, e ele finalmente se vê livre do local em que seu segundo casamento ruiu, o vemos encostado na porta, encarando o vazio, enquanto a câmera lentamente se afasta insinuando que Don agora tem todo um futuro pela frente. Mas sua expressão de dúvida não consegue mentir: ele não tem ideia do que fazer agora, mesmo diante da possibilidade de um recomeço.

Com essa consistência, The Forecast é mais um bom exemplar dessa última temporada de Mad Men. Não carrega consigo o brilho de Severance ou New Business, mas mantém o bom nível que nos levará ao final dessa brilhante criação de Matthew Weiner.


Por: Série Maníacos

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