Bolsa: opções podem tornar negociações mais difíceis para investidores (ChinaFotoPress via Getty Images)
(SÃO PAULO) – As pessoas que gerenciam o gigante fundo soberano da Noruega fizeram uma descoberta. Acontece que quando o comércio de ações é realizado em muitos lugares diferentes, pode ser mais difícil para investidores conseguir um bom acordo – ou ao menos conseguir saber se estão fazendo um bom acordo. Uma reportagem da Bloomberg disse o seguinte:
“’Há uma taxa de aluguel em todos esses intermediários’, disse Oeyvind Schanke, diretor de estratégia de fundos de ativos, disse por telefone na sexta-feira. ‘tentamos convencer as pessoas de que precisamos trazer um poucoa disso de volta para onde começamos ao levar os participantes a encontrar-se, criando uma utilidade que está lá para a fatia de blocos de transações de tamanho institucional”.
Para mim, o que eles chamam de “utilidade” tem outro nome: mercado financeiro.
Na verdade, esse nome provavelmente não daria certo, porque o mercado possui uma definição muito específica. Em um artigo lançado na semana passada, o Norges Bank Investment Managment define as transações ocorridas na bolsa como “espaços transparentes e iluminados” onde outras pessoas podem ver seus pedidos. A bolsa de valores evoluiu para trabalhar dessa maneira por diversas boas razões, mas isso sempre foi um problema para investidores com grandes blocos de ações para comprar ou vender – em uma transação, o preço se move contra você quando outros no mercado reagem ao conhecimento de que alguém está tentando vender uma tonelada de ações.
Como resultado, havia uma tradição de “transações no degrau acima” que ultrapassam o piso da troca. Iniciada nos anos 1960, conforme investidores institucionais como fundos de pensão começaram a ocupar o papel principal em mercados de ações dos EUA, corretoras – com a liderança do Goldman Sachs – construíram um negócio de bloquear transações nas quais eles corriam o risco de mover grandes blocos de ações. Em 1986, a Instinet automatizou esse processo com um leilão “after-hours” que combinava pedidos no preço de fechamento do dia. Vladimir Markov e Tito Ingargiola escreveram em um artigo informativo de 2013:
“Isso se mostrou popular, conforme permitia que participantes do mercado realizassem negociações com pouco ou nenhum impacto de mercado quando elas realmente fossem negociadas, e prevenia o vazamento de informações quando um acordo não fosse alcançado, já que os pedidos não eram expostos ao mercado luminoso”.
Markov e Ingargiola trabalharam no Liquidnet (Markov ainda trabalha), outro “reservatório de blocos de mercado às escuras” que começou suas operações em 2001. No início dos anos 2000, transações bloqueadas eram um quarto do volume de ações dos EUA. Com a crescente fatia de ações detidas por instituições e novas maneiras espertas de conseguir negócios como a Liquidnet, você poderia imaginar que negociações em blocos continuaram a crescer.
Em vez disso, em meio a uma explosão de competição, encorajada por reguladores e permitida pela tecnologia, esse tipo de negociação entrou em colapso. Em 2012, menos de 5% das ações negociadas em mercados norte-americanos estavam em blocos de 10.000 ou mais. Em vez de negócios em grandes blocos, as instituições agora quebram seus pedidos em pedaços muito menores que então são encaminhados algoritmicamente por corretoras para qualquer troca ou liquidez que pareça oferecer o melhor preço.
Ou algo do gênero – os muitos parágrafos que os noruegueses dedicam a estratégias de transações com algoritmos no jornal as semana passada não são inteiramente compreensíveis para um leitor leigo. O cenário de negócios pelo qual eles tentam navegar parece estar no mesmo universo que Michael Lewis descreveu em “The Flash Boys”. Mas muito mais confuso, da perspectiva de um investidor. Os noruegueses acreditam que estão fazendo um ótimo negócio, e aprenderam a evitar algumas enrascadas, mas eles gostariam muito se pudessem voltar a negociar mais de suas ações em grandes blocos.
Na verdade, ações em bloco vêm ressurgindo timidamente, tanto da maneira amis antiga, com corretoras, quanto em versão eletrônica. Muitas novas transações em blocos foram lançadas recentemente, entre elas a IEX, startup no coração da reportagem de Lewis.
Mas isso não é necessariamente melhor, porque, como escrevem os noruegueses, “a probabilidade de encontrar um acordo diminui geometricamente com o número de locais”. Em outras palavras, conforme o número de ações negociadas em bloco cresce, as chances de que você encontre alguém disposto a comprar essas 20.000 ações de suas mãos encolhe.
Você pode imaginar que a competição resolveria esse problema levando todas as negociações em blocos a um agrupamento vencedor, mas na verdade a competição entre blocos tem levado a “rápidas mudanças no mercado relativo, lideradas pela estrutura de taxas, bem como serviços complementares oferecidos pelo local de trocas”. Em um dia, um bloco é o melhor; no dia seguinte, o cenário é outro. É muito difícil para os investidores manterem um radar. É por isso que os Noruegueses gostariam de ver investidores institucionais juntos, construindo ou promovendo a construção de uma utilidade de ações em blocos. De um artigo da Bloomberg:
“Somos a favor de reduzir o número de espaços para negociações em blocos”, disse Schanke. “Apenas um provavelmente seria perfeito”.
Agora lembre-se, isso é como as coisas funcionavam no passado, quando a bolsa de valores possuía algo próximo de um monopólio nas negociações de ações listadas. Mudanças regulatórias e tecnológicas quebraram esse monopólio. Mas acontece que nas bolsas de valores, um monopólio pode ser útil.
Por: InfoMoney : Bloomberg
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