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Personagem Maníaco: Geillis Duncan [Outlander]

O arrependimento de se ter somente uma vida para dar pelo seu país.

Geillis Duncan é uma personagem a ser celebrada. Poucas as figuras no universo da série conseguiram ser tão hipnóticas e atraentes como ela. E não é questão de beleza (não que certa cena de ritual noturno não tenha sido sedutora). A escocesa, desde o primeiro momento em que surgiu na tela, manteve um caráter dúbio. Um misto de curiosidade, afeição e desconfiança em relação a Claire. Ela tinha conhecimento sobre ervas e tratamento de doenças e encontrou uma contraparte para compartilhar seu conhecimento. Ela ignorava o choque da Sassenach sobre a crueldade da justiça social da época, mas, momentos depois, fazia a cabeça do marido para que ele reduzisse a pena do acusado. Esse caráter dúbio e ameaçador, apesar de acolhedor, era fascinante. Nós, o público, não conseguíamos deixar de ficar inquietos perto dela, apesar de nos sentirmos magnetizados por ela. E ela tinha conhecimento desse poder sobre as pessoas em seu redor, mas não escondia tal consciência. Como uma mulher conseguia ter um raio tão grande de ação, domínio e ambiguidade em um cenário tão conservador como o século XVIII? The Devil’s Mark trouxe certas informações que criaram um panorama mais completo sobre a personagem. Ela é uma mulher do futuro, assim como Claire, mas, diferente desta, veio de um tempo posterior, o ano de 1968. E, distanciando-se ainda mais da inglesa, ela tinha uma missão.

Depois dos acontecimentos do último episódio, Geillis Duncan é uma mulher presumidamente escocesa, do ano de 1968, vacinada contra a varíola, que retornou ao século XVIII voluntariamente com a missão de fazer a diferença, esperando que sua intervenção na história gerasse alguma mudança importante. Jacobita, ela se casou com um homem poderoso, Arthur, o qual envenenou até a morte e do qual conseguiu desviar em torno de mil libras para a causa dos libertários escoceses. Ela tinha um caso extraconjugal com Dougal Mackenzie, do qual carrega um filho no ventre, pelo qual sentia uma atração que derivava da sincronia jacobita, pela coragem e pelo poder do chefe de guerra do clã. E, durante um julgamento de bruxas, admitiu ser uma adoradora de Satã e que estava carregando o filho dele. Depois disso, foi levada pela população descontrolada e sedenta por sangue, em direção a uma fogueira. Eu já espalhei tantos elogios em relação a Outlander que, para evitar repetição irritante, vou me restringir a dizer: que prazer é ter uma série de TV no ar que tem a coragem de entregar uma figura feminina tão audaz, sagaz e complexa.

Duncan ficou escondia por grande parte da temporada. Dos onze episódios exibidos, esteve presente em somente cinco. Mesmo assim, sua presença era avassaladora. Nos primeiros episódios, ela já questionava Claire sobre sua descrença em relação à magia, afirmava que havia coisas naquele mundo que não eram possíveis de serem explicadas. Ela não tinha certeza, mas sabia que tinha a inglesa era uma peça destoante não somente na Escócia, mas também naquele século. Seus olhares enviesados e as perguntas intrusivas e cheias de suspeita que fez em seu cômodo medicinal entregavam o interesse de alguém com um juízo feito, buscando apenas confirmação. E ela deixou dicas para a inglesa sobre sua verdadeira origem: durante o julgamento, há o momento em que ela pronuncia “fucking”, uma expressão que pouco antes Jamie tinha indicado não saber o que significava, não era parte do vocabulário da época. Mas somente naquele cômodo, durante o julgamento, com a conversa entre somente as duas, é que ela joga as cartas mais claramente. Naquele momento, a escocesa precisava tirar suas dúvidas, confirmar a origem de Claire, mas a resposta que recebeu não era a que queria. A inglesa foi parar no passado em razão de um acidente, durante a lua de mel com o marido. Não tinha agenda, ambições nem motivos para alterar o rumo dos acontecimentos no século XVIII. Geillis sabia que estava além da defesa e da salvação de qualquer advogado e que queimaria, de uma forma ou de outra, na fogueira. Se teria que se sacrificar que fosse por uma causa, pelo seu país, que morreria de mente limpa, tendo a certeza de que faria tudo novamente, sem titubear.

E ela decide se sacrificar por aquela que mais próximo foi de uma amiga. E, como ato de misericórdia, deixa claro para a inglesa sua origem e o pensamento de que era, talvez, possível voltar para seu tempo. Geillis causou uma revolução tão intensa em Outlander, implodiu toda a estrutura narrativa e ainda revirou e fortaleceu simultaneamente o relacionamento entre Claire e Jamie. Não vimos a morte da escocesa, talvez, porque, diante de todo o horror do julgamento, seria uma cena que ultrapassaria os limites. Talvez, porque não deveríamos ter a certeza de que ela morreu. Independente do caso, Geillis tornou The Devil’s Mark o melhor episódio de Outlander, elevou o projeto a um patamar superior, deixou a história mais sombria e destruiu a série que nos acostumamos. Ela contou sua verdade para Claire e, em troca, ganhou uma alteração do rumo da história: a inglesa abandonou seu futuro. Quais serão as repercussões disso?


Por: Série Maníacos

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