Quatro grandes problemas globais pressionam o Vale do Silício

(SÃO PAULO) – A estação de ganhos acaba de começar, e ainda estamos começando a ter um mapa de onde as companhias de tecnologia ao redor do mundo enfrentam problemas. O desempenho financeiro de uma companhia de tecnologia global não tem relação apenas coam quantos gadgets ou anúncios ela é capaz de vender. Tensões geopolíticas, mudanças cambiais e dificuldades econômicas podem afetar os resultados de uma companhia.

Alguns novos desenvolvimentos globais poderiam criar grandes efeitos no futuro, como os problemas do Google com reguladores da EU mostraram recentemente, e transições de mercados que ainda afligem companhias, como o desejo de mercados emergentes por smartphones mais baratos. Veja uma lista dos maiores fatores que apertam os ganhos de companhias de tecnologia dos EUA.

1. O dólar forte

Quando o valor do dólar é alto em comparação com outras moedas, isso normalmente significa que a economia do país vai bem, e o dinheiro dos turistas em férias vai mais longe. Mas ainda que isso seja bom para o norte-americano médio, o dólar alto afeta companhias de tecnologia do país justamente onde mais dói: o lucro. A tecnologia é especialmente vulnerável a flutuações cambiais, porque é uma indústria muito global.

As vendas internacionais valem menos quando as moedas locais são convertidas novamente em dólares. O Facebook perdeu 7% em crescimento de lucros sob o efeito do dólar no trimestre passado, de acordo com a companhia. Na IBM, o impacto foi de 8 pontos percentuais. A Micrsoft sofreu um golpe de 3%, e espera que isso piore no trimestre atual, quando a companhia deve sofrer um corte de 4%, de acordo com a previsão do diretor financeiro Amy Hood. A VMware culpou o câmbio – e apenas o câmbio – pela sua redução de previsão, e o diretor financeiro Jonathan Chadwick enfatizou isso mais de uma vez em uma conferência com analistas.

As companhias seguraram bem durante o início do aumento do dólar no ano passado, mas elas realmente começaram sentir dificuldades em dezembro, diz John Lovelock, pesquisador chefe da Gartner. Esse foi o momento em que técnicas financeiras como hedge de moedas estrangeiras, prática comum usada para minimizar riscos de desvalorização, deixaram de ser usadas em muitas companhias. “A rápida mudança no dólar de dezembro a fevereiro foi uma surpresa para todos”, disse Lovelock. “Eles ficaram sem cartas para jogar”. Para competir com os efeitos do câmbio as companhias dos EUA podem precisar aumentar preços, como a Apple fez na Rússia em novembro, ou tentar degradar ofertas de produtos em certos países para baratear a produção – por exemplo, menos memória em telefones ou menos serviços em certos produtos, segundo Lovelock.

2. Ressaca de impostos no Japão

O Abenomics está perdendo seus fãs em casa. Mercados globais de eletrônicos e companhias de e-commerce estão sendo punidos pelo imposto criado por Abe em abril de 2014. Gastos de consumidores caíram imediatamente após a implementação (o que era esperado), e a economia ainda não se recuperou totalmente (isso não era esperado).

A escalada da taxa, de 5% a 8%, deflacionou a recuperação da economia no Japão, que estava obtendo ganhos em 2013, levando o país a uma recessão no ano passado. A Apple e a Amazon relataram desaceleração no país, atribuídas ao novo importo aos consumidores.

Nesse ponto, o problema pode ser maior para a Microsoft, que conta com o Japão como seu maior contribuinte geográfico por lucro após as vendas nos EUA caírem US$550 milhões no último trimestre. Diferentemente de alguns outros países, onde empresas assinam licenças de muitos anos por programas da Microsoft, a maioria dos lucros com o Office e o Windows no Japão vem de compras diretas. Quando ninguém está comprando, isso vira um problema.

3. Reguladores antagônicos da China

A relação complicada entre a China e os EUA sempre acaba respingando no setor privado, e companhias de tecnologia carregam o fardo de situações políticas e diplomáticas com as quais têm pouco a ver. Desde maio, quando os EUA multaram cinco oficiais militares por supostamente roubar segredos corporativos, Pequim passou a pressionar companhias norte-americanas.

A Apple, o Google e a Microsoft foram alvos recentes de críticas pela mídia estatal do país. A China procura acabar com tecnologia estrangeira em bancos, empresas militares estatais e agências chave do governo até 2020, disseram pessoas familiarizadas com o assunto em dezembro. Investigadores anti-monopólio da China estão atrás da Microsoft, e entraram em seus escritórios em quatro cidades no verão passado. O governo disse que a Microsoft por evasão fiscal, e o Windows 8 foi foi excluído da lista de compras oficial do governo. Nos dois últimos trimestres a Microsoft reportou que questões geopolíticas na china estão prejudicando as vendas no país, e Hood diz que não espera que as condições mudem nesse trimestre.

O CEO da Cisco John Chambers disse recentemente a analistas que a companhia ainda vê desafios para vendas de equipamentos de rede na China, levando a um declínio de 19% em seus negócios no último trimestre. A maior vendedora EMC culpou a China, bem como a Rússia (veja mais depois), por um declínio em seu negócio principal, dizendo que as vendas mais fracas do que o esperado ocorreram devido a “escrutínio crescente de compras de tecnologia norte-americana nos setores de governo e serviços financeiros”.

Mas não entre em pânico. É possível sair de uma briga com reguladores chineses. Uma investigação antitruste na fabricante de chips Qualcomm acabou com uma multa de US$975 milhões e novos termos no mercado de smartphones para licenciamentos de produtos da companhia. Dois meses depois, a Qualcomm teve progressos em negócios na China. A empresa disse que os novos acordos garantiram negócios futuros no país.

4. A ira de Putin

O relacionamento conturbado da Rússia com os EUA está deixando muitas companhias de tecnologia menos desejáveis. O país está tentando diminuir sua dependência em softwares estrangeiros – parcialmente como uma resposta a sanções e parcialmente por receios quanto a espionagens fortalecidos pelos vazamentos de Snowden. Nesse mês, o ministro de relações exteriores Nikolay Nikiforov assinou um plano pare substituir softwares feitos fora da Rússia até 2025. Isso é uma má notícia para a HP, IBM, Microsoft, Cisco e Oracle, bem como a alemã SAP, que teve renda de US$8,1 bilhões no país em 2013.

Companhias norte-americanas como a Microsoft e a EMC começam a sentir o aperto. Em abril, a EMC disse que a economia russa afetou os ganhos do último trimestre. Em fevereiro, o CEO da HP notou “constantes desafios” na Rússia, “onde preocupações políticas e econômicas são constantes”. Mesmo companhias menores como a F5 Networks, de Seattle, estão sentindo apertos. O CEO de lucros Manny Rivelo diz: “A Rússia é uma carta selvagem por todos nós por conta doa ambiente político. Não é tão fácil vender lá quanto era dois anos atrás”.

Além de orgulho nacionalista, comprar localmente é mais atrativo quando a moeda está fraca, porque os produtos domésticos são relativamente mais barato, diz Lovelock. As capacidades tecnológicas da Rússia são limitadas, mas “eles estão tendo algum sucesso”, ele diz. “Mas não há um Windows russo ou uma base de dados da Oracle russa, por exemplo”.


Por: InfoMoney : Tecnologia

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