A fabricação de um novo herói americano.
Olá, amigos! Cá estou eu, Guto Cristino, me aventurando a escrever um texto sobre Survivor. Começo fazendo essa apresentação para deixar claro que não, não sou nenhum Diogo Pacheco. Nosso expert no jogo social mais interessante das Américas teve um pequeno problema de saúde e não pôde escrever nesta semana, mas está se recuperando e, na próxima, já estará de volta. Por ora, vocês vão ter que se contentar comigo, mesmo.
E certas coincidências da vida seriam divertidas se não fossem trágicas. Justamente na semana em que eu sabia que escreveria sobre o reality, minha torcida número 1 da temporada, aquela onde está o meu foco absoluto desde o segundo episódio, é a eliminada da semana. E escrevo com o coração esmigalhado em pedacinhos, mas vamos primeiro compreender o desdobrar dos eventos do episódio.
É interessante a maneira como os dois challenges da semana se apoiaram em puzzles e ainda assim foram, ambos, vencidos por Joe, sempre visto como uma grande ameaça física. Poderíamos até dizer que isso coloca um alvo em suas costas, mas a verdade é que esse alvo já está lá muito antes de Joe vencer challenges, e ele está fazendo o que precisa fazer, mesmo. Acho que todos sabemos muito bem que, assim que Joe perder um immunity challenge, ele estará fora, não importa que manobras a edição queira fazer até o TC para nos induzir a pensar o contrário.
Não podemos dizer que Joe não está lutando. Suas escolhas na hora da pizza foram bastante respeitáveis, levando em conta que ele escolheu a dedo aqueles que tinham alguma chance (ainda que próxima de zero em alguns casos) de flipar para o lado dos No Collars.
O que me incomoda em Joe, e vem me incomodando em toda a tribo vermelha desde o início (com exceção de Jenn, essa linda) é que eles parecem contar muito com o fato de serem lindos, carismáticos e pessoas “do bem” e acham que isso é suficiente para atrair aliados. Joe deveria, com a ajuda de Shirin, ter se aproximado melhor do grupo da pizza e feito uma abordagem agressiva. Se a ideia era não dizer nada, e ainda falhar miseravelmente em esconder a pista para o idol, que ele levasse Jenn, Hali, Shirin e talvez Tyler ou Carolyn. Assim, poderia ficar tranquilo e ter muito mais chances de manter a relíquia em mãos “amigas”.
E é diante da “traição” de Tyler (que nem fez nada tão errado assim) que a edição trabalhou duro para construir seu novo herói. Jeff andou afirmando que os EUA irão amar o vencedor de Worlds Apart, e, conhecendo Jeff e conhecendo os EUA, é altíssima a chance de estarmos falando sobre Mike, o puritano, o homem de fé (e que, pobrezinho, teve até mesmo sua fé insultada por uma pecadora imunda), o trabalhador, o cara que dá o sangue, o suor e a dedicação por tudo na vida, inclusive pelo Idol. A edição vem, há três episódios, corroborando totalmente essa teoria. Em Keep It Real, porém, houve um esforço sobre-humano nessa direção na sequência que mostra a saga de Mike em busca do Idol que ele tanto almejou. O discurso de “o sucesso só vem quando se trabalha duro”, as imagens fortes ligadas a um grande esforço, o choro e a emoção do momento em que ele finalmente encontra o Idol, a dancinha… parece até que tudo foi feito sob medida para que a “Merica” ame esse cara para todo o sempre. Pra mim, a edição heroica de Mike já deixou para trás grandes lendas de Survivor, e é comparável à de Stephenie, nossa musa solitária de Palau. Ou seja, ela realmente pode não significar nada além da construção de um bom personagem em busca de audiência, mas, se Jeff estiver falando a verdade (o que nem é uma aposta tão segura assim, vamos combinar), pode ser que, desta vez, estejamos realmente diante de um vencedor.
Existe, porém, uma ameaça bastante velada à edição de Mike, e ela atende pelo nome de Shirin. Todo episódio faz questão de dizer que Shirin é rejeitada. Ela é insultada, ela sofre bullying, e ela parece ter todo e qualquer um de seus momentos de superempolgação de fã exaltados episódio após episódio. Apesar de Shirin estar totalmente por baixo em termos de estratégia, sua edição funciona perfeitamente bem para aquele nicho de fãs mais ferrenhos de Survivor. Ela é irritante, mas seu superfandom e seu histórico de bullying abre espaço para uma boa dose de identificação. E, depois do episódio de hoje, está claro que ela é a única pessoa da aliança minoritária com uma (leve) chance de chegar à final do programa.
Falando em aliança minoritária, foi difícil alimentar a ilusão de que os No Collars tinham qualquer chance de sair intactos desse episódio. Mas é importante dar crédito à aliança das meninas: descobrir que Sierra é o elo mais fraco da união azul e ainda mirar em alguém que ela odiava foi uma boa tentativa, e é uma informação que até pode ter alguma utilidade no futuro. O problema é o seguinte: Sierra foi desprezada demais pela edição nos primeiros episódios, e isso me faz crer que ela está longe de ser uma personagem game-changer. Se eu fosse apostar hoje, diria que Sierra é a Jefra de Worlds Apart (com a ressalva de que já gosto absurdamente mais dela do que da ex-beauty por motivos de personalidade): aquela que ameaça flipar, mas no fim das contas, fica com medo e vai sendo usada pelos líderes de sua aliança até ser eliminada por eles.
Shirin também vendeu muito bem a ideia do flip para Tyler, mas o fato de ele jamais ter discutido essa possibilidade com Carolyn, sua grande aliada, não deu muita margem à possibilidade de acreditarmos nisso. Fui para o tribal council com esse pensamento, mas cheio de esperança de estar errado. Infelizmente, não estava, e Halizinha, minha querida jogadora de bastidores que tem muita empatia e talento pra lidar com pessoas, acabou ficando mais na promessa. Foi muito fofinho vê-la, toda ingênua, chocada com a própria eliminação por ter acreditado no papinho da aliança feminina de Sierra. Essa foi uma clara evidência de que, embora maravilhosa no social, estrategicamente Hali foi uma jogadora bem mais fraca do que gostaríamos. Acredito que, diante das sugadores de airtime chamadas Shirin e Jenn e com essa eliminação pra lá de precoce, dificilmente Hali tem chance de ser chamada novamente, e nem posso considerar essa provável decisão um erro da produção.
No fim das contas, Keep It Real foi um episódio bastante previsível e nada animador para quem tem pavor de um pagonging da aliança favorita do Brasil, o que nem de longe significa que não tenha sido um episódio digno e interessante de ser assistido em razão do bom trabalho da edição. Mas ele também serviu para, como bem disse o título, cairmos na real: em Survivor, o bom-mocismo é a receita perfeita para uma tocha apagada. E, se Joe, Jenn e Shirin não compreenderem isso o mais rápido possível e usarem uma abordagem mais agressiva para continuar no jogo, logo se juntarão a Hali no banco dos espectadores de luxo.
Ranking da temporada:
1 – Mike: independentemente de ser um herói fabricado pela edição, Mike vem provando episódio após episódio que é um jogador de calibre gigantesco. Além de estar há três episódios controlando os votos de sua aliança, sua espionagem e seu assédio moral em busca do idol lhe rendeu um ótimo fruto que pode muito bem se tornar a diferença entre um líder bem sucedido e um líder eliminado em um típico blindside de parte da própria aliança.
2 – Shirin: eu odiava Shirin como raramente odiei uma participante mulher de Survivor, mas agora já a considero pacas, porque inimigos dos meus inimigos são meus amigos, e, enquanto esse pagonging não se consolidar, sou #TeamNoCollar até a morte (bati na madeira depois de escrever “pagonging”, não se preocupem). Nesse episódio específico, ela jogou direitinho ao induzir os votos em Dan para tentar trazer Sierra para sua aliança, e também mandou bem em sua conversa com Tyler, que pode até mexer com a cabeça dele para eventuais movimentos futuros.
3 – Tyler: está acima de Carolyn porque já ficou bastante evidente que seu jogo social é impecável. Tem gente demais, de alianças completamente distintas, interessada em trabalhar com ele. Mas está abaixo de Shirin por um motivo simples: ele contou para Mike tudo sobre a localização do Idol, e ainda assim, este último conseguiu encontrá-lo e Tyler não parece ter se preocupado minimamente com isso. Se a ficha dele não cair e ele não revelar aos aliados que existe um ídolo provavelmente em posse de Mike, seu status de jogador cairá bastante. Pode ser eliminado a partir do momento em que outros homens fortes caírem, mas acho bastante improvável que isso aconteça por esse motivo. Eu apostaria que ele sai na boca do FTC por ser uma ameaça social, não uma física. Mas muita água vai rolar até lá, e eu acho que Tyler pode e vai influenciar bastante a direção dessas águas.
4 – Carolyn: continua sendo uma véia linda que manja muito do jogo. Perdeu alguns pontinhos pela aparente ingenuidade de entregar a pista de bandeja para Joe, mas nada que manche muito seu histórico. É uma das poucas jogadores low-profile (se não a única) que vejo com reais chances de vencer.
5 – Joe: eu diria que ele tem chance zero de ganhar, mas é até válido contar com a improvável chance de Joe fazer o Terry e ir galgando seu caminho para o FTC por meio de desafios vencidos. Cacife pra isso ele certamente tem.
6 – Jenn: ficou bem apagada nesse episódio e não sei se vai ter chance de fazer nenhuma grande jogada além da que já fez, mas já é uma retornante certa em temporadas futuras. Ao meu ver, só escapa da eliminação no próximo episódio se Joe perder o desafio de imunidade, o que pode dar a ela uma pequena chance de voltar a se tornar relevante.
7 – Rodney: está mais alto no ranking do que eu gostaria, e isso se deve unicamente pela possibilidade de o vilão conseguir alguma coisa com sua ideia maluca de aliança aleatória. Se a aliança majoritária for esperta, cedo ou tarde eles tentarão tirar Mike, e Rodney pode acabar se revelando o articulador desse movimento (ainda que ele dê errado por causa de um ídolo com o qual eles não contam).
8 – Sierra: nunca foi fácil confiar em sua promessa de flipar, e agora ficou quase impossível. Provavelmente os primeiros episódios tenham mesmo sido um sinal de que Sierra passará praticamente em branco por esta temporada. Ficou em oitavo porque tenho alguma afeição e respeito por ela como pessoa, mas é só.
9 – Dan: eu não acho que essa estratégia de intimidar um jogador como ele fez com Shirin seja inteligente, mas ela andou funcionando para um certo Russell Hantz, e pelo menos ele tentou alguma coisa para minimizar a chance de imprevistos contra sua aliança. Eu o odeio, mas aprecio o esforço burro e ridículo por seu valor televisivo.
10 – Will: não é um jogador tão ruim quanto o rótulo de traidor o faz parecer, mas no fundo é uma grande piada, pois não tem uma aliança realmente sólida com ninguém e, se der muita sorte de a promessa e a expectativa de Rodney se cumprirem (o que já é uma suposição bem generosa), fica no máximo em quarto. Só espero que não dure a esse ponto.
Por: Série Maníacos
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