É complicado explicar o que o Nepal representa pra mim. Visitei o país em 2012, depois de passar seis meses na Índia. Meses transformadores em todos os sentidos possíveis: se a Índia foi fantástica, também foi um desafio gigante, como já cansamos de contar aqui no 360. Amei estar lá, mas também odiei profundamente. E pulei de alegria quando o Boing 737 da JetLite deixou o solo de Nova Delhi.
Poucas vezes me senti tão ansioso quanto naquele voo de menos de duas horas. Como seria o Nepal? Diferente da Índia? Um lugar ainda mais incrível? Ainda mais difícil de entender? Ou as duas coisas? Pousamos em Katmandu no começo da tarde. Uma tarde como outra qualquer, no dia 13 de maio. A primeira coisa que chamou minha atenção foi o aeroporto de Tribhuvan, um simpático prédio de tijolinhos. Gostei de cara.
Em minutos eu me apaixonei pelo Nepal, único país cuja bandeira não tem um formato retangular ou quadrado. E pelas ruas de terra, pelo trânsito caótico, pelos tuk-tuks, por um tipo de poluição visual que só a Ásia sabe fazer (e que ninguém faz melhor que o Nepal). A impressão que ficou, depois dos 10 dias que passamos no país, foi a de que o Nepal é uma espécie de Índia mais light: tem tudo que o vizinho gigante tem de bom, mas sem os desafios e problemas que causam tanto impacto em que viaja pela terra do Gandhi.
Nos hospedamos no Thamel, um dos bairros mais incríveis que já vi, cheio de bares, restaurantes e ruelas simpáticas, onde alpinistas compram roupas e equipamentos para trekking e escalada. No dia seguinte visitamos uma das maiores atrações turísticas do Nepal: a Durbar Square de Katmandu, um lugar com séculos de história. Um lugar que hoje virou pó.
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Foto que tiramos em 2012, durante nossa visita ao país
Durbar Square de Katmandu hoje (Foto: @dineshakula, jornalista que está no Nepal, via Twitter)
O terremoto deste sábado atingiu 7.8 na Escala Richter, o mais forte no Vale de Katmandu nos últimos 80 anos. Segundo o site Publico, o Nepal sofre um terremoto fortíssimo a cada 70 anos, mais ou menos. É a instabilidade geológica da região que explica o Himalaia, cordilheira que aumenta de tamanho a cada movimento tectônico. Ou seja, o desastre que ocorreu em 2015 já era esperado há anos. E como a população do Vale de Katmandu aumentou muito desde o último tremor forte, em 1934, era quase certo que um novo terremoto fosse devastador.
Antes e depois do Templo Vatsala Durga, em Bhaktapur (Imagens: The Darjeeling Chronicle)
Além da questão geológica, que não pode ser evitada, há o problema do homem: 93% dos prédios de Katmandu não têm projeto de engenharia. Por isso, a estimativa, caso ocorresse um novo terremoto, era de que até 60% de Katmandu deixasse de existir. Analistas mais drásticos chegavam a sugerir que um novo sismo na região poderia deixar até 100 mil mortos.
Por sorte – se é que se pode falar em sorte numa situação dessas – parece que o tremor do Vale de Katmandu foi bem menos devastador do que o previsto. As autoridades falam em cerca de 1600 mortos no país, incluindo 18 alpinistas que subiam o Everest e foram surpreendidos por uma avalanche.
Mas isso não diminui a força das imagens que surgem do Twitter. As Praças Reais de Katmandu e de Patan, Patrimônios da Humanidade segundo a Unesco, parecem ter entrado na lista de lugares que não existem mais. A torre de Dharahara, monumento nepalês mostrado abaixo, também desabou.
Montagem do @dineshakula, jornalista que está no Nepal, via Twitter
Além da perda devastadora de pessoas, é estranho pensar que lugares incríveis, daqueles que estariam em qualquer seleção de “para visitar antes de morrer”, viraram pó em segundos. Lugares onde eu estive. Lugares que eu gostaria de visitar novamente. Lugares que qualquer pessoa que ama viajar iria adorar conhecer.
Alguns monumentos e templos aparentemente podem ser restaurados, como o Swayambhunath, chamado de Templo dos Macacos, e a Durbar Square de Bhaktapur, a mais incrível Praça Real do Vale de Katmandu. Outros, infelizmente, parecem estar acima de qualquer restauração, pelo menos ao observar as fotos.
O Nepal é o segundo país mais pobre da Ásia, na frente só do Afeganistão, devastado por guerras, os terremotos causados pelo homem. E os problemas do Nepal só estão começando, afinal tremores fortes são esperados para as próximas horas. Depois será preciso lidar com os problemas deixados por terremotos, que normalmente significam mais mortes.
Vídeo feito do Swayambhunath, um templo com vista para todo o Vale de Katmandu
E ainda tem a questão econômica: o Nepal recebe tantos turistas estrangeiros quanto Brasil, que é muitas vezes maior. A economia nepalesa depende do turismo. E o fluxo de turistas ao país já está interrompido – não há voos para Katmandu neste momento. A situação deve permanecer assim por um bom tempo, futuramente por vontade dos turistas, que logicamente evitam áreas de crise.
Foi o dono de uma pousada em Pokhara, também atingida pelo terremoto, que nos tirou rapidamente da cidade, quando protestos violentos tornaram a presença de turistas desaconselhável. Ele chegou a oferecer as próprias milhas áreas para que pudêssemos voltar para Katmandu e pegar nosso voo para Hong Kong. Fica o nosso pensamento positivo por ele e pelo povo nepalês, que nos ajudou de forma inesquecível.
Como ajudar o Nepal?
Estados Unidos e Índia já anunciaram que enviarão ajuda ao Nepal. A União Europeia estuda fazer o mesmo. Algumas ONGs já pedem doações para enviar ao país:
Unicef – Permite doações a partir de 50 dólares
Ammado – Organização levanta fundos para a Cruz Vermelha
World Vision – Página de doações aqui, com valores entre 50 e 250 dólares
Care – Organização humanitária que também tem ações na região. Já permite doações por esse link
Save the Children – Organização de amparo às crianças também já tem página de doações para o Nepal
Fora isso, embora o turismo não seja possível no Nepal desse momento, é importante não deixar o país cair no esquecimento. Superada a tragédia, não deixe de visitar o Nepal por conta da destruição de alguns de seus cartões-postais. O Nepal, teto do mundo, ainda tem incontáveis atrações e coisas fantásticas. Incluindo na conta a simpatia do povo nepalês.
Vale lembrar que outros países do subcontinente também foram afetados, como Índia e Bangladesh. Até a China sentiu os efeitos dos tremores, mas a situação é grave mesmo no Nepal, que foi o epicentro do terremoto.
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Por: 360meridianos
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