Venda de ativos do Citi revela bilionários desconhecidos na América Central

Citi: setor bancário tornou esses homens bilionários, mas ninguém sabia disso (Craig Warga/Bloomberg)

(SÃO PAULO) - Ladeado por compatriotas vestidos com camisas guayabera, Camilo Atala fumava um charuto Rocky Patel e desfrutava da brisa caribenha no Indura Beach Golf Resort, no norte de Honduras.

O grupo se reuniu para discutir a migração infantil em um momento em que Atala, que é coproprietário do resort, fechava um negócio para compra de parte dos ativos do Citigroup Inc. na Nicarágua. Atala havia comprado as operações hondurenhas do Citigroup um ano antes, uma jogada que ajudou a transformar o banco Grupo Financiero Ficohsa no maior conglomerado financeiro de Honduras.

Do outro lado da fronteira, na Nicarágua, Ramiro Ortiz Mayorga estava de olho em outros ativos do Citigroup na região após a aquisição do Banco de la Producción SA, do Equador, em 2013. As aquisições de ambos os banqueiros ajudaram a criar dois dos maiores conglomerados financeiros da América Central.

“Nós acreditamos que os bancos locais têm um papel importante no desenvolvimento econômico do país”, disse Atala, 52, em entrevista em fevereiro. “Nada contra os bancos estrangeiros. Nós somos um player ativo no processo de crescimento”.

O setor bancário tornou os dois homens bilionários, segundo o Bloomberg Billionaires Index. Com um patrimônio líquido de US$ 1,4 bilhão, em grande parte derivado da participação majoritária de sua família no Grupo Financeiro Ficohsa, com sede em Tegucigalpa, Atala é o banqueiro mais rico da América Central. Ortiz, nascido em 1947, tem uma fortuna de US$ 1,3 bilhão, a maior parte dela proveniente de sua participação majoritária no banco nicaraguense Grupo Promerica. Eles jamais apareceram em um ranking internacional de riqueza.

Expansão caribenha

Ortiz começou a erguer seu conglomerado há 24 anos após deixar a empresa hoje conhecida como BAC Credomatic, que foi vendida pelo colega bilionário nicaraguense Carlos Pellas em 2010.

Em suas duas décadas à frente do Grupo Promerica, Ortiz expandiu a empresa a nove países da América Central e do Caribe. Hoje ela possui US$ 11 bilhões em ativos e um valor contábil de US$ 1 bilhão. Ele também mantém uma participação no jornal El Nuevo Diario após resgatá-lo, em 2011, e tem interesses no setor imobiliário e na agricultura.

Mais recentemente, ele vem procurando oferecer serviços bancários juntamente com um canal interoceânico de US$ 50 bilhões na Nicarágua proposto pelo bilionário Wang Jing, de Hong Kong. As empresas de Atala vão da Guatemala ao Panamá e possuem US$ 4,2 bilhões em ativos. Os Atala também dividem o controle da empresa de varejo Colonia com a família Faraj e são donos da incorporadora imobiliária Proyectos Servicios Inmobiliarios.

Pobreza, violência

Após o golpe de Estado em 2009, Atala liderou um conselho empresarial local que fez lobby contra o retorno do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. A pobreza e a violência dispararam em um dos países mais jovens da América Latina após o golpe.

Atala, que já foi ministro de investimentos, contou com uma certa ajuda externa para erguer sua fortuna. A International Finance Corp., do Banco Mundial, fez um investimento de US$ 70 milhões em 2011 para, segundo a empresa, criar empregos expandindo o acesso ao crédito para pequenas empresas.

“Camilo foi inteligente ao vender ações ao Banco Mundial”, disse Jaime Rosenthal, um colega hondurenho que dirige a empresa Grupo Continental. “O Ficohsa atualmente está crescendo no ramo de cartões de crédito, um dos segmentos mais rentáveis dos mercados financeiros em Honduras”.

Falha em política

O IFC apurou as práticas adotadas para os empréstimos do Ficohsa em um relatório de um ombudsman, em agosto de 2014, que apontou que a instituição não entendia completamente o ambiente operacional arriscado e os clientes do banco. Entre esses clientes estão a Corporación Dinant, uma empresa de azeite de dendê africano (óleo de palma) ligada ao tráfico de drogas que foi acusada de usar de violência para desapropriações forçadas de terras de agricultores.

A Dinant nega qualquer irregularidade. O porta-voz Roger Piñeda disse, em resposta por e-mail, que a empresa está cooperando com os investigadores e que desarmou suas equipes de segurança em uma tentativa de estabilizar a situação.


Por: InfoMoney : Bloomberg

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