Doze anos morando num quarto de hotel. Entre 1968 e 1980, bastava procurar pelo quarto 217 para encontrar Mario Quintana, hóspede mais importante do Majestic, hotel luxuoso do centro de Porto Alegre.
Quintana nasceu em Alegrete, quase no fim do Brasil. Ou no começo, depende do ponto de vista: a cidade fica no sul do Rio Grande do Sul, mais perto do Uruguai e da Argentina que da capital do estado. Aos 20 anos, ele percorreu os cerca de 500 quilômetros que separam Alegrete de Porto Alegre. E se apaixonou por POA. Pela Porto Alegre das décadas de 20 e 30, veja bem, cidade ainda com espírito de interior e longe da modernidade.
Foi aquela Porto Alegre, talvez junto com as lembranças de Alegrete, que marcou a vida e a obra do poeta. Não faltam poemas, versos e declarações de amor para a cidade que deixou de existir, para a cidade que teimou em se modernizar. Quintana sentia falta das ruazinhas, como em “A rua dos Cataventos”.
Dorme, ruazinha… É tudo escuro…
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos…
POA é uma das casas da literatura brasileira, afinal foi a moradia de muitos escritores e poetas. Além de Quintana, Porto Alegre se orgulha de Érico Veríssimo, Moacyr Scliar, Luís Fernando Veríssimo e muitos outros. Por isso, a cidade foi recriada em poemas e livros diversas vezes. Outra obra famosa de Quintana é “O Mapa”.
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei…
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
Como é visitar a Casa de Cultura Mario Quintana
Não é muito comum a gente colocar poemas aqui no blog, mas essa introdução era fundamental para deixar clara a ligação entre Mario Quintana e POA. Ligação que hoje, mais de 20 anos após a morte do poeta, fica evidente num lugar: a Casa de Cultura Mario Quintana, que certamente merece uma visita.
Veja também: O que fazer em Porto Alegre
Esse centro cultural funciona no prédio do antigo Hotel Majestic, onde o poeta morou. Na década de 80, após o fechamento do hotel, o prédio foi adquirido pelo governo gaúcho. A revitalização demorou alguns anos, mas logo POA ganhou mais uma atração turística.
Lá você vai encontrar bibliotecas, teatros, discotecas, diversos espaços para exposições, jardins, salas de cinema, espaços para a realização de oficinas e, claro, o quarto onde Mario Quintana viveu por 12 anos.
Meu primeiro contato com as obras dele foram na adolescência (e já tive até um blog batizado em homenagem a um dos poemas de Quintana). Por isso, ver de perto o quarto de hotel que foi a casa dele por tanto tempo era um dos passeios que eu mais queria fazer na cidade.
Aproveitei que estava por lá para conhecer o Café que fica no terraço do Hotel – e tem uma vista interessante da cidade. Fiquei alguns minutos por lá e prometi voltar na hora do pôr do sol. Só que deixei isso para uma segunda-feira, dia em que o café está fechado. Evite cometer o mesmo erro.
Além disso, destaque para o prédio em si. Construído a partir de 1916, o Hotel Majestic era audacioso para a época. Ocupa os dois lados de uma travessa, que são interligados por passarelas. As colunas, janelas e varandas também chamaram minha atenção.
Depois de conhecer a Casa de Cultura Mário Quintana, aproveite para gastar seu tempo em outros espaços culturais da cidade, como a Usina do Gasômetro e o Santander Cultural, que ficam perto. E caminhe olhando para cima, afinal Quintana escreveu sobre céu da cidade, em “Carta”.
Em vão procuro…
mas só vejo de bom, mas só vejo de puro
este céu que eu avisto da minha janela.
E assim querida,
eu te mando este céu, todo este céu de Porto Alegre
e aquela
nuvenzinha
que está sonhando, agora em pleno azul!
Serviço
Endereço: Rua dos Andradas, 736,Centro
Segundas-feiras: 14h às 21h
De terças a sextas-feiras: 9h às 21h
Sábados e domingos: 12h às 21h
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