Quatro incêndios, uma enchente e um governante que pensou em demolir o prédio e usar a área para fazer uma avenida não foram suficientes para acabar com o Mercado Público de Porto Alegre. O prédio permanece ali, ao lado da Prefeitura e pertinho do Guaíba, há quase 150 anos. E ainda bem, afinal o Mercado é parada obrigatória para todo turista que passa pela cidade.
Comigo não foi diferente. Eu gosto de visitar os mercados de todas as cidades que conheço. Assim que li um pouquinho da história do Mercado de Poa, coloquei o prédio no meu roteiro, com direito a muitas fotos, pausas para um café e, claro, almoço. Com cerveja.
Antes de falar sobre o que você, amigo viajante, vai encontrar no Mercado Público de Porto Alegre, vamos conhecer um pouco da história desse prédio, um dos mais tradicionais da cidade?
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Não tem incêndio que me segure
Porto Alegre era uma cidade pequena, de apenas 20 mil habitantes, e com ruas de nomes simpáticos, tipo Rua da Praia ou Rua da Ponte. Foi nessa época, em outubro de 1869, que o Mercado Público foi inaugurado, centralizando o comércio.
O prédio logo se destacou, sendo a primeira construção daquele porte a ocupar um quarteirão inteiro da cidade. E ainda por cima um quarteirão importante. O problema é que tinha um incêndio no meio do caminho. Quer dizer, um não. Quatro. O primeiro foi em 1912, que destruiu a parte interna do Mercado.
Três décadas mais tarde, novo problema. Mas dessa vez com água. E muita. Foi a enchente de 1941, a maior já registrada na cidade, que alegou o centro e deixou o Mercado debaixo d’água. Segundo o site oficial, até hoje é possível ver a altura que a água atingiu, por meio de uma placa indicativa no Portão Central.
Na década de 70, mais dois incêndios, em 1976 e 1979. Mas o perigo maior foi uma tentativa de demolir o prédio e transformar a área em avenida, na mesma época. Segundo o Guia Histórico de Porto Alegre, foi a pressão popular que salvou o Mercado, que foi então transformado em Patrimônio Histórico e Cultural da cidade.
Mas as peripécias do Mercado Público de Porto Alegre não acabam por aí. Depois de uma longa e bem sucedida revitalização, já no final da década de 90, o prédio ficou lindo. Mas veio o incêndio de 2013, que destruiu 10% da construção.
Quando eu estive lá, em março de 2015, algumas partes do prédio ainda estavam cobertas por lonas, mas isso não atrapalhava em muita coisa. E, numa boa, até que o incêndio saiu barato, pelo menos se você viu os vídeos (assustadores) e notou a altura das chamas. Palmas para os bombeiros.
O Bará do Mercado
Segundo o IBGE, o estado brasileiro com mais adeptos de religiões africanas é o Rio Grande do Sul, que tem 1,5% da população professando Candomblé, Umbanda e Quimbanda, entre outras. Segundo essa matéria do Estadão, todos os dez municípios brasileiros com maior concentração de adeptos de religiões de matriz africana estão no território gaúcho.
Surpreso? Eu também fiquei. E não para por aí: o Mercado Público de Porto Alegre é uma espécie de referência para as religiões africanas. É que lá, no centro da construção, está enterrado o Bará do Mercado.
Como ensina a Wikipédia, Bará é o nome do orixá Exu, no Batuque, uma religião afro-brasileira comum no Rio Grande do Sul. Dizem que o orixá teria sido assentado ali por meio de algum objeto e rituais específicos da fé. O Bará teria sido assentado no mercado por escravos, durante a construção do prédio.
O mosaico que marca o centro do mercado e a localização do Bará, no chão, foi transformado em Bem Cultural de Natureza Imaterial do estado. O site Impedimento tem um texto incrível sobre o Bará do Mercado. Vale a leitura.
Restaurantes, cafés e comidinhas
Cerca de 150 mil pessoas passam pelo Mercado diariamente, número que pode chegar a 250 mil em ocasiões especiais. Além das bancas onde você pode comprar comidinhas (ou fazer as compras do mês), destaque para os cafés e restaurantes.
Durante meus cinco dias em Porto Alegre, estive no Mercado em três ocasiões. Na primeira delas eu aproveitei para conhecer o Café do Mercado, que fica na Loja 103 e vira e mexe é recomendado em revistas e reportagens especializadas.
No segundo dia, fui para almoçar. Os restaurantes do Mercado aparecem com frequência na lista de recomendações da cidade. Lá você vai achar de tudo – até comida oriental. Eu, no entanto, fiquei no básico, acompanhado de uma cerveja. Comi no bar/restaurante Chopp 26. Paguei cerca de R$ 40 pela comida e bebida.
Eu não cheguei a comer lá, mas o restaurante mais tradicional do Mercado é Gambrinus, que é tão velho quanto a República: foi fundado em 1889. Lá você acha opções diversas, de massas até feijoada, mas o destaque fica por conta dos frutos do mar. Para sobremesa, a indicação de muita gente é a Banca 40, uma sorveteria artesanal que funciona ali há oito décadas. Já o bar mais antigo do pedaço é o Chopp Naval.
Mercado Público de Porto Alegre: informações úteis
O Mercado fica no centro de Porto Alegre, ao lado da prefeitura e de frente para o Cais Mauá. Se você estiver a pé, basta procurar pelo fim (ou começo) da Avenida Borges de Medeiros. O mercado funciona das 7:30 às 19:30 (segunda a sexta) e das 7:30 às 18:30 (aos sábados). Entretanto, os restaurantes do segundo pavimento permanecem abertos até a meia-noite, exceto aos sábados, quando todo o prédio fecha às 18h30.
Se você estiver em Porto Alegre num fim de semana, uma boa ideia é almoçar no Mercado e depois encerrar o dia fazendo um passeio de barco pelo Guaíba, de preferência ao pôr do sol. Os barcos saem do cais em frente ao Mercado.
*Imagem destacada: Ricardo André Frantz, CC BY-SA 3.0
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