Se a Amazônia, os pontos turísticos e a simpatia do povo não forem suficientes para fazer você correr para Belém, então vá pela comida. Basta uma refeição na capital do Pará para seu estômago perceber que entrou num novo mundo. Mundo de ingredientes, sabores e até nomes pouco usuais no restante do Brasil, mas inesquecíveis. Por exemplo, os três nomes usados no título deste texto. Viajar pelo Pará significa descobrir a onipresença do tucupi, o prazer do tacacá e a surpresa da maniçoba, que, devo admitir, à primeira vista não me conquistou. Mas na primeira garfada…
A beleza gastronômica de uma viagem ao Pará é que é possível comer bem por valores relativamente baixos. Na dúvida, comece pelo Ver-o-Peso, a maior feira de rua das Américas. Lá, além de contemplar milhares de garrafas cheias de tucupi, você entenderá que a comida paraense é tão incrível por conta de uma mistura entre os ingredientes amazônicos, as receitas indígenas e os pratos dos europeus e dos negros que foram viver em Belém ao longo dos últimos 400 anos.
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Tucupi
Se sua primeira parada em Belém for no Ver-o-Peso, procure pelas barracas que vendem um líquido amarelo dentro de garrafas pet. É o tucupi, um caldo tirado da raiz da mandioca brava e que inicialmente é venenoso, já que contém ácido cianídrico. É por isso que o líquido é cozido e fermentado, num processo que pode durar até cinco dias e elimina o veneno. Depois disso, o tucupi está pronto para ser usado como tempero em diversos pratos paraenses.
Jambu
Uma erva da Amazônia, usada em muitos pratos que também levam tucupi e que tem capacidade de anestesiar a boca, deixando uma sensação diferente. Por conta dessa caraterística, o jambu vai além da culinária – é usado também na medicina de todos os dias da Amazônia, aquela feita em casa, para ajudar o tratamento de problemas na boca, como uma dor de dente. A planta que faz os lábios tremerem virou até cachaça, mas aí a tremedeira só é parcialmente causada pelo jambu.
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Pato no tucupi
Pato assado e cortado em pedaços. Depois, é fervido no tucupi e leva jambu, que é cozinhado com água salgada. Acrescente arroz e farinha de mandioca. Pronto, taí um dos pratos mais tradicionais da culinária paraense. Eu não estive em Belém durante o Círio, maior festa religiosa do Brasil, mas este é o prato do almoço da celebração.
Tacacá
Tucupi, jambu, camarão e goma de tapioca cozida formam o tacacá, outro prato que reflete o espírito do Pará e também é comum em outras partes do norte do Brasil. É um caldo servido quente e que pode levar pimenta.
O tacacá é servido em cuias e pode ser encontrado em várias esquinas de Belém – basta procurar pelas tacacazeiras, cozinheiras que há décadas fazem o tacacá, conhecimento passado entre gerações. As tacacazeiras foram declaradas Patrimônio Cultural Imaterial de Belém e recentemente a prefeitura passou a organizar um festival anual de tacacá.
Foto: Shutterstock
Maniçoba
“A maniçoba é a feijoada paraense”, ouvi algumas vezes. O prato é feito com folhas de mandioca brava. Folhas que, assim como o tucupi, são cozidas por cerca de cinco dias para eliminar o acido cianídrico. Passado o processo mais demorado, entra a carne de porco, incluindo as partes comuns em feijoadas mais, digamos, pesadas. Costuma ser servida com arroz e farinha. Como eu disse antes, visualmente o prato não conquista. Mas é muito bom.
Foto: Ana Cotta, Wikimédia Commons
Caruru paraense
Mineiro que sou, adoro comidas que levam quiabo. É por isso que fiz questão de incluir o caruru na lista, mesmo que tenha sido um dos pratos paraenses que não consegui provar. O caruru é um prato típico também na Bahia, mas há algumas diferenças no caruru à paraense. É um cozido de quiabo servido quente e que leva camarões secos, tempero verde, farinha e azeite de dendê. Costuma ser servido com arroz.
Queijo e filé marajoara
Três horas de barco separam Belém da Ilha do Marajó, um lugar repleto de mangues, praias incríveis e que guarda o maior rebanho de búfalos do Brasil: são 600 mil animais. Segundo a lenda, os bichos chegaram no Marajó depois de um naufrágio. Assim que pisaram em terra firme, os búfalos sacudiram a poeira, ou melhor, a água, e perceberam que gostavam da nova casa. Hoje, os búfalos são parte da cultura, da vida e da mesa marajoara.
Comece a degustação pelo queijo marajoara. Foi o que eu fiz – e ainda trouxe alguns pacotes para casa. Já o prato tradicional da ilha é o filé marajoara, feito com carne de búfalo e coberto com o queijo da região.
E, claro, o açaí
Nenhuma comida representa melhor o Pará que o açaí. Mas pode esquecer tudo que você sabe sobre o fruto – nada daquela pasta gelada, parecida com sorvete. Nada de granola, banana, morango e muito menos leite em pó. O açaí paraense pode ser servido até com peixe frito e farinha.
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E a culinária do Pará tem muito mais
Meu objetivo não era fazer uma lista fechada, mas ajudar o viajante que se prepara para ir ao Pará, nem que seja apenas decorando alguns termos importantes da mesa do estado. Fora que não virei especialista em comida paraense depois de uma viagem de sete dias pelo estado, né? Por isso não falei do chibé, do vatapá paraense, do pirarucu, do filhote, da farinha d´água e de muitos outros pratos e sabores típicos do Pará.
Portanto, amigo paraense, fica o convite: deixe nos comentários as suas dicas, receitas e comidas preferidas. O resto do Brasil agradece, de estômago satisfeito.
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