É engraçado como as coisas acontecem na vida da gente. Até o meio do ano passado eu estava meio perdida na vida e com a ideia fixa de fazer um mestrado em Produções em Conteúdos Digitais na UFRJ que nunca abria inscrições. Mas, assim, do dia para a noite, eu mudei de ideia e decidi que queria mesmo era estudar alguma coisa na área das narrativas.
Na busca por um curso que eu nem mesmo sei se existe, acabei trombando pela décima vez com o mestrado em Jornalismo de Viagens da UAB (Universidade Autônoma de Barcelona) e, num desses impulsos de empolgação que eu sempre tenho e que em geral são os que definem os novos rumos da minha vida, me inscrevi.
Nos meses que se seguiram, eu quase mudei de ideia inúmeras vezes. Não sabia se queria estudar isso mesmo, não sabia se queria vir morar em Barcelona (a louca, né?), não sabia se meu dinheiro ia dar conta do custo de vida da cidade com o euro nas alturas e não sabia se queria contrair uma dívida para pagar o valor do curso. Mas um dia, quando eu conversava com a Luíza sobre isso, ela me disse: “você não é uma pessoa que costuma desistir das coisas”. E, no fundo eu sabia que, por mais que eu não tivesse tão certa de que esse era o melhor caminho para mim naquele momento, eu viria de qualquer forma.
E mais uma vez a vida me mostrou que a gente tem que arriscar, por maior que seja o medo ou a nossa resistência em sair da zona de conforto. Quase três meses depois de ter chegado à Barcelona, eu estou bem feliz com a minha decisão. Por isso, se você se interessou ou tem curiosidade sobre esse máster, deixo aqui algumas informações e impressões que teriam me ajudado a evitar tantas dúvidas antes de vir.
A Universidade Autônoma de Barcelona
A Universidade Autônoma de Barcelona, ou UAB para os íntimos, é uma universidade pública fundada na década de 1960. Formada por 56 departamentos e 13 faculdades, é pioneira em fomento à pesquisa na Espanha. Em 2012, foi considerada a melhor universidade do país e classificada na posição 176 no ranking mundial de universidades. É uma universidade catalã, porém, por seu perfil internacional, que busca atrair estudantes de diferentes contextos culturais, acaba oferecendo diversos cursos 100% em espanhol ou inglês.
Possui um campus em Bellaterra – uma vila a mais ou menos uma hora de Barcelona – que é onde fica a Faculdade de Comunicação e as aulas do Máster em Jornalismo de Viagens. O campus é acessível pelas linhas de trem S2 e S55, que sai da Plaça Catalunya e passa pelas estações Diagonal e Gracia, o que torna bem fácil o acesso para quem opta por viver em Barcelona.
Quem preferir ficar mais perto pode morar na Vila Universitária que fica dentro da universidade. Nesse caso, porém, você vai estar perto das aulas e longe de todo o resto. Eu preferi aproveitar a oportunidade de ver de perto a vida em uma das cidades mais apaixonantes do mundo, mas essa decisão depende do que você valoriza mais.
A proposta do Máster
O mestrado em Jornalismo de Viagens da UAB é o único do gênero no mundo. Sua proposta é oferecer um conjunto de conteúdos de caráter teórico-prático para prover aos profissionais do jornalismo e outras pessoas interessadas nas ferramentas necessárias para tratar do tema “viagens” nos mais diversos meios de comunicação, entre eles rádio, TV, internet e impresso, além de ajudar aos estudantes a encontrar caminhos para criar seus próprios projetos relacionados ao tema.
É um máster próprio, o que quer dizer que, na nossa classificação brasileira, corresponderia a uma pós-graduação. Isso significa ele é mais voltado para o mercado de trabalho que para a pesquisa acadêmica e também que não nos dá acesso ao doutorado. O idioma do curso é 100% espanhol (pode confiar) e também é oferecido na versão online em espanhol e em inglês.
Currículo e atividades
O máster não possui disciplinas fixas, mas módulos que são desenvolvidos ao longo do ano. Dentro dos módulos, temos matérias de 9 horas/aulas sobre temas relacionados. Seguem os módulos e os temas estudados até agora. Voltarei para atualizar conforme eu progrida no curso.
Viagens, descobrimento e aventura: Os pontos centrais desse módulo são desconstruir visões preconceituosas/etnocêntricas das culturas, nos ajudar a perceber o outro e refletir sobre as viagens como um processo de transformação, mais que um simples deslocamento. Estudamos Antropologia, a importância das viagens como uma forma de trocar e difundir conhecimento e como a humanidade sempre necessitou das viagens para seu desenvolvimento.
Narrativas de viagem: Aqui temos um olhar sobre os relatos de viagem que sempre acompanharam o homem em suas andanças desde de a antiguidade. Traçamos um histórico dessas narrativas até os dias de hoje. Também temos aulas de literatura de viagens e de escrita criativa, além de ver algumas técnicas de design para ajudar a contar sua história.
Técnicas avançadas para produção jornalística em audiovisuais
Ciberjornalismo e viagens 2.0: Aprendemos os princípios de produção de conteúdo para web e as ferramentas necessárias para relatar histórias em diversos suportes digitais.
Turismo, gestão cultural e estudos de caso: associações, instituições e ONGs
Recursos e especializações para o jornalista de viagens
Practicum
Geografias, culturas do mundo e os viajantes
Trabalho de fim de máster: No início do curso, os estudantes são divididos em grupos. Cada grupo terá um destino de viagens na Europa ou no norte da África selecionado por sorteio e deverá desenvolver um produto relacionado ao Jornalismo de Viagens nesse destino. Para isso, cada estudante recebe uma bolsa de 600 euros para visitar o destino nos meses de julho ou agosto. Este ano, os destinos foram Berlim, Sofia, Riga, Estocolmo, Nápoles e Marrakesh. Meu grupo saiu com Berlim. A defesa do projeto é em novembro.
Parte do meu grupo entrevistando um jornalista para a Bitácora
Além dos módulos, o curso conta com algumas atividades extras:
- Bitácora: Cada grupo precisa criar um blog que servirá como diário de bordo do curso e onde vai escrever artigos e reflexões referentes aos conteúdos vistos ao longo do ano. Se quiserem ver como é, podem visitar o do meu grupo.
- Miniguia de viagem: É preciso desenvolver um guia temático de Barcelona com até 10 páginas.
- RGBTv: Os estudantes produzem um programa de TV com o tema viagens.
- Revista RGB: Uma revista de viagens que, a cada edição, aborda o tema a partir da escolha de uma cor.
- Provas: Ao longo do ano, há três provas que abarcam os conteúdos vistos nos módulos e leituras da bibliografia.
- Livro: Além do projeto final, os estudantes também escrevem um livro coletivo sobre as viagens daquele ano. Os temas mudam a cada edição. Este ano, escreveremos sobre a gastronomia dos destinos visitados.
- Conferências e seminários: Somos convidados a participar de diversas conferências e seminários optativos durante o ano.
Rumo a Berlim: meu grupo do Mestrado
Processo de inscrição
O processo de inscrição é bem simples. Basta enviar um currículo no modelo europeu e documentos por meio do link de inscrição online. Não é necessário enviar carta de intenções ou comprovantes de proficiência na língua, embora eu recomende que você tenha pelo menos um nível intermediário de espanhol para fazer o curso. É preciso pagar uma taxa de inscrição de 30 euros e, após aceito, o valor da matrícula de 4050 euros, que pode ser dividido em duas vezes. Eu já contei sobre o processo de legalização dos documentos em outro post.
Perfil dos Estudantes
A maior parte dos estudantes na minha turma é formado em Jornalismo ou em áreas relacionadas à Comunicação. Em segundo lugar vêm os estudantes de turismo. A turma, no entanto, é bem diversa e possui gente de outras áreas profissionais, como letras, administração e até podologia.
O mestrado também busca diversidade cultural e atrai gente de todo o mundo. Ainda que os espanhóis e a galera da América Latina sejam maioria, também tenho colegas da Índia, China, Rússia, Itália e Estados Unidos, por exemplo. A turma não é muito jovem e o pessoal que acabou de sair da graduação é minoria. A maior parte já teve alguma vivência profissional antes de chegar ali.
Possibilidades profissionais
Quem estuda jornalismo sabe que o mercado não está pra peixe em qualquer lugar do mundo. É assim no Brasil, é assim na Espanha e é assim em todo lugar. Ainda mais para uma área tão especializada e concorrida como o Jornalismo de Viagens (admita, é o emprego dos sonhos de muita gente).
Apesar disso, trabalhar em redações deixou de ser, há muito tempo, o único caminho para o profissional de comunicação. E é isso que eu acho mais legal no máster, porque o tempo inteiro eles nos incentivam a pensar nossos próprios projetos. Além disso, o curso também te possibilita trabalhar em outros projetos que envolvam turismo e comunicação, incluindo órgãos de promoção de destinos, agências de viagem, social média, etc.
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Por: 360meridianos
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