De 1994 a 2018, as Copas que me fizeram cair na estrada

Minha vontade de conhecer a Califórnia começou em meados dos anos 1990 e segue forte desde então – mais dia, menos dia, espero finalmente desembarcar por lá. O desejo nasceu no sofá de casa, causado em parte por conta da série Full House (ou Três é Demais), que eu assistia no SBT, mas principalmente pela cobertura da Copa do Mundo de 1994.

É claro que minhas memórias mais fortes do Tetra envolvem a conquista em si: o pênalti perdido pelo Baggio, os gols do Romário, do Bebeto e do Branco, as defesas do Taffarel e a comemoração nas ruas e na minha família, depois do título. Mas, tirando toda essa parte das memórias – grandes responsáveis pela minha relação com futebol – tenho várias lembranças que envolvem os Estados Unidos enquanto destino turístico.

Em 1994, a maioria dos jogos do Brasil foi na Califórnia. Foi por conta da cobertura jornalística da Copa do Mundo que descobri Los Angeles, onde foi a final, contra a Itália, e a semi, contra a Suécia – que teve aquele gol de cabeça do Romário, na entrada da pequena área. Já São Francisco recebeu os confrontos contra a Rússia (2 a 0) e Camarões (3 a 0), pela fase de grupos, e o jogo das oitavas, aquele 1 a 0 suado contra os Estados Unidos.

Os dois jogos fora da Califórnia foram em Detroit, cidade que recebeu aquele empate contra a Suécia, na fase de grupos, e em Dallas, casa do inesquecível 3 a 2 contra a Holanda. Foi a Copa que me apresentou várias atrações turísticas de São Francisco, abriu meus olhos para paisagens incríveis dos Estados Unidos e me contou sobre os parreirais sem fim daquela região do país – isso graças a um trocadilho óbvio que vi no Fantástico, envolvendo as vinícolas da Califórnia e o contestado Carlos Alberto Parreira.

Foi só a minha primeira Copa passar para que um cronômetro começasse na minha cabeça – e foram longos quatro anos até a França. É engraçado como, na infância, o espaço entre as Copas parecia ser não de quatro anos, mas décadas, enquanto na vida adulta é um sopro. A Copa do Brasil foi ontem, né?

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Cuju, o jogo chinês que deu origem ao futebol

Para toda uma geração, as crianças do Tetra, a Copa da França chegou pronta para ensinar o gosto amargo da derrota. Quem acompanhou o Brasil pela primeira vez em 94 se acostumou com um time vencedor e não tinha ideia que ganhar uma Copa é, na realidade, algo raro. Do campo, minhas memórias mais fortes daquele torneio são do corte do Romário, da derrota para a Noruega, na fase de grupos, do 3 a 2 na Dinamarca, nas quartas, e da vitória sobre a Holanda, na semi, em mais uma decisão por pênaltis. E, claro, da goleada da França, de toda a treta envolvendo o Ronaldo, até hoje envolvida em mistério, e do choro pós-jogo.

Mas se as memórias futebolísticas foram menos felizes em 98 do que em 94, do ponto de vista turístico minha relação com a Copa foi ainda mais intensa na França. Como meus avós viveram naquele país, na década de 1970, e meu pai e tios passaram parte da infância lá, eu sempre tive curiosidade de viajar por Paris, Lyon, Marselha e companhia limitada.

Passeio Rio Sena, Paris

Além de aumentar minha vontade de conhecer o país, a Copa foi um mergulho na história francesa. A final, disputada em 12 de julho, pouco antes da Queda da Bastilha, foi o gancho para que revoluções, reis, rainhas, guilhotinas e brioches fossem parar no noticiário nacional. Se os Estados Unidos eu ainda não conheci direito, na França eu estive duas vezes – e em ambas eu me lembrei daquele menino que, entre um jogo e outro, colecionava figurinhas e aprendia sobre cidades com nomes estranhos.

E que sorte a de uma geração que viu o Brasil em três finais de Copa seguidas! De 2002, já quase maior de idade, guardo lembranças ótimas dos jogos, claro. Mas as turísticas são ainda melhores. Aquele torneio foi a descoberta do que é, na prática, o tal do fuso horário. Quer prova maior que o outro lado do mundo existe e está vivendo enquanto dormimos? Acordar de madrugada para ver o Brasil superar, um a um, seus adversários, era entrar, mesmo que deitado na cama, numa viagem para as terras do Japão e Coreia do Sul.

E aquela Copa foi muito além de Tóquio e Seul: pela TV, conhecemos Kobe (onde foi o 2 a 0 contra a Bélgica, pelas oitavas), Fukuroi (que recebeu o 2 a 1 contra a Inglaterra, nas quartas, com aquele gol de falta do Ronaldinho) e Yokohama, que recebeu a grande final, contra a Alemanha, entre outros lugares incríveis.

E assim a vida seguiu, com a Copa de 2006 aumentando meu desejo de conhecer a Alemanha e a de 2010 me dando vontade, pela primeira vez, de conhecer a África do Sul – e essa viagem eu fiz, pouco depois do torneio. O irônico é que a única Copa que vi de perto, a de 2014, foi a que menos me apresentou a novos lugares. Com a competição acontecendo no quintal de casa, fui em jogos, curti a festa e pouco vi o noticiário.

Colômbia e Grécia

Ali o efeito foi diferente e ainda mais fascinante: vi meu país ser invadido por outros. Vi Minas virar Colômbia, Inglaterra e Argentina, vi as ruas de Belo Horizonte serem tomadas por milhares de torcedores de várias cidades do mundo. A Copa se foi, mas deixou uma vontade enorme de repetir aquela experiência, de conhecer dezenas de países num só lugar – e eu jurei que iria para a Rússia.

Como muitos que fizeram o mesmo, não fui, e assisto a Copa de 2018 do conforto de casa. Mas já sonhando com o dia em que desembarcarei na Praça Vermelha. E quem sabe não vou ao Catar? Jurar não custa.

*Imagem destacada: Por Baturina Yuliya, shutterstock.com

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Por: 360meridianos

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