“Às vezes eu acho que a presidência é a ilusão da escolha”, disse Frank Underwood no último episódio. A prova desse argumento veio nesse Chapter 37. House of Cards apresentou, em detalhes, a política em suas facetas positivas e negativas desde sua première e agora a atmosfera se fechou, de vez, no pessimismo. Para que o congressista pudesse triunfar, Peter Russo teve que morrer. Para que o vice-presidente pudesse galgar além, Zoe Barns foi lançada aos trilhos. Para que Francis se mantenha na presidência, serão necessárias mais tragédias? Qual o limite do egoísmo e do egocentrismo do presidente? À medida que Francis passa a considerar que o universo gira mais próximo ao seu umbigo, o mundo em seu redor parece desmoronar mais rápido.
As pessoas que pertencem a sua teia de aliados, progressivamente, passam a se rebelar contra a unilateralidade underwoodiana e os resultados são os mais diversos. O problema que emerge na verdade é: quando escapar da teia de lealdade? Até que ponto se está preparado para arcar com os meios em prol dos fins? Vale a pena abrir mão de suas crenças e, até mesmo, do seu próprio senso de existência para alcançar mais poder? Já dizia Hozier, em From Eden: “Idealismo reside na prisão. Cavalheirismo caiu em sua espada. Inocência morreu gritando”. Abraçando a interpretação dos versos do compositor da forma mais pessimista possível, Frank se revela um elemento que larga quaisquer veias morais e éticas, destrói ideais, levando ao ponto de devastar a vida e a noção individual de quem decide andar a seu lado.
Em um episódio em que a sujeira do debate político foi seu ponto central e em que Francis Underwood conseguiu uma vitória eleitoral finalmente, o destaque ficou nas mulheres. Em vários momentos, ao longo da temporada, emergiram elogios ao elenco da série, que é, indiscutivelmente, espetacular. No entanto, não há palavras nem linhas suficientes para descrever o trabalho primoroso de Molly Parker e Robin Wright em Chapter 37. No quinto episódio, em prol de entrar na chapa do presidente, Jackie lançou sua candidatura para roubar votos de Heather Dunbar. Apesar de ter uma personalidade dura e ser capaz de ações abrasivas para conseguir o que quer, Sharp passou a se questionar sobre os benefícios de permanecer como uma marionete de Underwood, fazendo coisas que iriam em direção oposta a suas crenças, podendo prejudicar sua própria tentativa de construir uma família com Alan.
O auge veio nesse décimo primeiro episódio, no qual foi pedido a ela que dissesse coisas irreais e que poderiam ser usadas contra ela na primeira oportunidade e manchar sua imagem política e pessoal. E então foi o momento de Parker brilhar: ela conseguiu iniciar o debate com um nível de dureza beirando a crueldade, no entanto, como previsto por ela, tudo voltou contra ela e aí foi a vez de Dunbar atingir com força e atacá-la pesadamente para o presidente, logo em seguida, cimentar a lápide da ex-militar. A atriz então administrou, em seu olhar e suas expressões (sempre escondidas ao máximo por ela), o misto de vergonha, derrota e decepção enquanto ouvia as palavras da outra candidata e no carro com o marido. E, quando conversa com Frank sobre o debate, ela enxerga sua monstruosidade sem censuras pela primeira vez e a expressão de horror beirando o pranto de Sharp é mais uma prova do quanto Underwood deixou aflorar seus piores instintos nesse terceiro ano.
Claire pintou o cabelo de loiro novamente, uma vez que o público simpatiza mais com mulheres de cabelo claro. Ela também discursou para um grupo de mulheres e reforçou a segurança sobre a figura política de seu marido. Ela assistiu um pedaço do debate junto aos voluntários e aos trabalhadores da campanha, porque o marido estava na TV e a moral da equipe precisava ser aumentada ou mantida. Claire literalmente deu sangue para a campanha do marido. A primeira-dama atuou como uma marionete eleitoral de Francis. Mas onde esteve sua felicidade? Onde esteve sua pessoa frente a tudo que ocorre em seu redor? O que é Claire Underwood dentro do circo que se tornou a corrida presidencial? Calma, mas esgotadamente ela afirmou: “É só um espetáculo. Para quem consegue mais pontos, não é?”. Não há a motivação política quanto ao futuro do país nem em relação à carreira do marido.
É inegável, porém, que seu momento máximo foi durante a doação de sangue. Durante uma crise de tontura, ela afirma “Eu não odeio fazer campanha. O que eu odeio é quanto eu preciso de nós”. Claire sabe que a relação que mantém com Frank é destrutiva. No início, o objetivo dos dois poderia ter sido o mesmo, mas isso não é a realidade há tempos. Ela ficou precisa em uma teia da qual não consegue se desvencilhar mais por achar que passou o período de sua vida em que poderia fazer isso ou por não acreditar que conseguiria algo melhor. Mesmo depois de ter mostrado trabalho e sagacidade política na ONU, durante o debate, seu nome emerge unicamente quando o tema era falta de experiência. Francis retirou dela o que ela considerou até então sua grande chance de tomar as rédeas profissionais de sua vida e o que restou a ela foi, em uma leitura de livro infantil para crianças de uma escola, ela ler “Eu não sei o que fazer” e sua expressão depressiva e confusa mostrar que isso na verdade era a realidade. E, para quem quer saber o que é atuação de alto nível, reassista as cenas de Claire no episódio somente prestando atenção aos olhos dela. A história toda esta contada ali, nos olhares de Robin Wright, escondida sobre suas ações de esposa em campanha.
Frank Underwood deixou claro que a dinâmica entre ele e qualquer aliado não é igualitária e que o tipo de lealdade que lhe interessa é incondicional. Em uma total falta de compreensão do cenário que o cerca, ele perde Jackie Sharp, que endossa Dunbar e equilibra a eleição novamente, Remy Danton, funcionário que pode destruir sua candidatura, e está perdendo Thomas Yates, porque até este já percebeu que a verdade pedra angular do presidente não é ele, mas a esposa.
P.S.: Rachel está viva e um final trágico se anuncia entre Stamper e ela.
P.S.: Jackie oferece seu endosso, mas Dunbar recusa em prol de ética eleitoral (não vender cargos antes de ganhar as eleições). As decisões de cargos serão tomadas por mérito. Até onde vai a ética e a moral de Dunbar?
P.S.: Palmas lentas e fervorosas para a diretora Agnieszka Holland, que conseguiu driblar o debate política, destacar as emoções conturbadas das personagens da série e retirar atuações primorosas do elenco.
Por: Série Maníacos
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