[Flashback] Six Feet Under 1×11: The Trip

 DILLON MICHAEL COOPER (2001-2001) 

É difícil encarar certas verdades da vida. Independente de ser um desafio ou um defeito, tendemos a fugir de um confrontamento quando sabemos que isso levará a alguma mudança que pode nos tirar da sensação de conforto. David luta para aceitar a si mesmo, com suas qualidades e falhas. Brenda tem que encarar a face maquiavélica e perturbada de Billy. Ruth tem que aceitar que, mesmo que deseje e abrace novas possibilidades, há a necessidade de mudar o próprio interior. E Frederico tem que enfrentar a finitude aleatória da vida em um momento sensível de sua jornada de pai: o nascimento do filho. The Trip foi um episódio que permitiu que as figuras que povoam o universo de Six Feet Under tentassem fugir de suas próprias amarras, no entanto fossem retrazidas à realidade, na qual tiveram que encarar seus demônios. Um episódio que trouxe a sensibilidade e a humanidade característica da série, explodindo o terreno para o final da temporada.

Brenda percebeu que sua vida foi desperdiçada por uma mentira. Ela largou a ida à universidade para estar próxima do irmão que alegadamente teria tentado se matar. Ela largou um futuro por nada. Naturalmente, ela ficou sem chão e sua incapacidade de administrar seus próprios sentimentos e planos sobre o que precisa fazer dali para a frente fica escancarada no desespero com que ela tenta fugir de seu mundo e ir a uma convenção de diretores funerários. Ela não queria confrontar Billy e, assim o ato de usar a etiqueta com o nome de Jasmine demonstrava sua vontade de ser outra pessoa naquele momento. Foram situações de completo escape, expostos na forma que ela destrinchava a futilidade de Vegas, aventurava-se pela cidade e flertava com o jogador no cassino. No entanto, isso tinha que ter uma interrupção.

Billy carregou, desde sua primeira aparição, uma atmosfera sufocante de instabilidade emocional em suas costas. Suas ações, suas opiniões e, até mesmo, seus olhares levantavam uma tensão em torno de quem estivesse perto dele. Em The Trip, vimos ele atingindo os níveis mais profundos de sua instabilidade. Ele aparentava ser um maníaco, agia como um louco e nem mesmo isso foi capaz de sensibilizar o olhar anteriormente cego da irmã. Quando o rapaz diz que precisa de ajuda, ele não está mentindo, mas a fixação dele na irmã é o erro principal da equação. Ele precisa de ajuda médica: o fato de ter seguido Brenda até Vegas é a prova de que suas ações extrapolam os limites normais. E ela, diante da verdade em sua frente, não se conteve, colocou todos os xingamentos, todas as decepções e os sentimentos magoados para fora e, finalmente, se impôs perante o irmão. Resta agora descobrir até que ponto escalarão as ações de Billy, depois da rejeição de Brenda e a exposição de suas intenções e mentiras passadas. Vale um elogio a Rachel Griffiths, que soube administrar sabiamente a moral abalada e o desejo de fuga da personagem sem descaracterizá-la ou transformá-la em uma caricatura.

Ruth, por outro lado, tem uma compulsão por controle. Isso é uma característica sua que aflorou desde o piloto da série. Quando as coisas começam a fugir de seu controle, ela fica nervosa e fantasia com coisas absurdas (a falta de certeza absoluta sobre a sexualidade do filho é um belo exemplo de como sua imaginação pode voar quando ela perde as rédeas das situações). E o plot dos arranjos de flores foi belo por usar uma metáfora simples e mundana, como a própria personagem, para fazê-la encarar a necessidade de libertar mais sua própria pessoa. Por isso, havia a necessidade de conseguirmos enxergar a mudança sofrida pela matriarca através dos arranjos e, que trabalho técnico excepcional. O primeiro arranjo de flores que ela faz no curso era tão colorido, mas tão morto, entediante. O segundo não ostentava tantas cores, mas era vivo, com uma rebeldia jovial e energizante. Mais um passo dado pela matriarca em busca da própria felicidade.

Claire continuou em sua jornada destoante em prol do resgate de Gabe. O rapaz não tem mais ninguém e a garota é o último elo que o prende à vida. Sua overdose provavelmente foi proposital e Claire foi sagaz em perceber isso rapidamente. A trajetória de Dimas é trágica. Ele cometeu seus erros no passado e agora sofre um soco atrás do outro das circunstâncias da vida. Mesmo que tenha humilhado a jovem Fisher, a dor do rapaz é tão forte que torcemos para que ela consiga levá-lo a uma situação melhor que a que se encontra no momento. Mesmo assim é inegável que a relação está carregada em aspectos depressivos, ao ponto de o “Eu te amo” trocado pelos dois ter doido mais que inspirado sentimentos acolhedores.

Frederico teve sua chance de ter uma participação mais importante na trama da série e não desperdiçou. A morte do bebê foi a mais triste da série até o momento e o desenrolar de seu serviço funerário foi sufocante, trágico e humano em uma escala assustadora. O roteiro de Rick Cleveland e a direção de Michael Engler foram magistrais ao construir uma atmosfera de tensão crescente em torno do nascimento do filho de Rico principalmente pelos sentimentos espelhados do rapaz frente a perda do casal de clientes. Mas nenhum momento nesse plot foi mais tristemente belo que o tratamento do corpo feito por Frederico quando seu estado emocional gritava para estar a milhares de quilômetros dali. Resta saber se o rapaz deixará o sentimento de lado ou desenvolverá uma superproteção em torno do filho.

David deu continuidade à libertação de sua vida sexual, vivendo o alter ego Jim, um homem simpático na internet, mas rude pela manhã. Ele segue tentando se manter em uma jaula, restringindo seus movimentos e opiniões de forma a não deixar que seu interior tome de conta e ele seja ele mesmo para os outros. E, por isso, o discurso no congresso foi tão importante: ele saiu do script, deixou de lado as palavras sem inspiração que tinha preparado e deu vazão para que ele pudesse levantar a sua moral, a da sua empresa, a dos outros diretores funerários independentes e celebrar a memória do trabalho que o pai fazia, ao mesmo tempo que atacava o diabo em forma de corporação, Kroehner. Seu olhar vívido, a expressão empolgada e o fulgor de ter se desafiado, alcançado apoio dos outros e de si mesmo foram um testamento do trabalho incrível de Michael C. Hall.

Mesmo assim, o bar de stripper, que levou à exposição de sexualidade fez com que David entrasse em suas espirais autodestrutivas. O mais amargo dessa última espiral foi o fato de que as pessoas, de fato, não demonstraram hostilidade ao saber que ele era gay. Ele poderia ter rido, brincado, bebido e aproveitado mais o seu status de celebridade e herói dos funerários indie. Mas ele foi se aventurar em sexo inseguro com um garoto de programa em uma garagem qualquer. Em sua última tentativa de se flagelar, David atingiu o fundo poço, tendo que enfrentar o olhar reprovador e decepcionado de Keith, cujo adeus proferido assumiu um contorno mais definitivo e categórico. Será que David seguirá em sua espiral de autodestruição e autocontenção ou tentará erguer sua vida?

Six Feet Under dá continuidade com sua humanidade cativante e emocionante, deixando as emoções elevadas e os nervos aflorados para os dois episódios finais da temporada.


Por: Série Maníacos

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