Mad Men 7×09: New Business


Afinal, essa temporada tem ou não cara de ser a última?


Por se tratar de um contido estudo de personagem, Mad Men nunca foi uma série recheada de acontecimentos bombásticos e enlouquecedores. Até por conta disso, é considerada por alguns como uma produção “chata”, arrastada. Assim, é natural que sua última temporada não pinte um cenário em que vemos claramente os caminhos tomados por Matthew Weiner para cada um de seus personagens importantes. Mesmo assim, é interessante ver como o showrunner tem capacidade de desenhar, lentamente, um agonizante fim para seu protagonista, que podemos ver com clareza em New Business.


Escrito por Tom Smuts e dirigido por Michael Uppendahl, o episódio trata principalmente do divórcio de Don. Desesperada para se livrar de seu infeliz casamento, Megan decide aceitar qualquer acordo, e só quer recuperar seus pertences. Mas, enquanto isso, se encontra com sua família para receber uma série de questionamentos sobre suas escolhas de vida. Tentando escapar da futura ex-mulher, Don procura continuar seu relacionamento com Diana, que se abre cada vez mais com seu novo amante. Finalmente, Stan vive uma crise existencial quando conhece uma famosa fotógrafa, que o faz questionar alguns de seus valores artísticos e em relação a seu casamento.


Novamente, Mad Men procura investir em um episódio riquíssimo em coesão. Assim, se essa sétima temporada não caminha a passos largos para finalizar os arcos de seus personagens, ainda assim os aproveita de maneira sublime. É verdade que a súbita trama a que Stan é submetido parece repentina, mas, em um episódio focado em relacionamentos tortos e sem propósito, o fato dele ignorar seu casamento para se entregar a um momento ardente – e o vermelho da sala escura sugere exatamente isso – ao qual o honesto desenhista jamais sucumbiria em momentos passados. Assim como Kenneth em Severance, Stan aqui tem a função de corroborar o foco do episódio. Dessa forma, Weiner coloca, aos poucos, seus coadjuvantes em uma posição para que suas histórias possam ser finalizadas.


Roger, ao menos em New Business, tem o mesmo propósito. Se em momentos anteriores seu relacionamento com Marie comprovava sua parceria com Don, aqui ele revela o quanto essa cumplicidade o faz peça de uma enorme vingança. Por se tratar de um personagem tão importante, é curioso que Mad Men o esteja utilizando com esse propósito, e é de se esperar que a série desenhe algo mais importante para ele em um futuro próximo. Mesmo assim, seu diálogo com Don, em que chega a comparar Megan à sua ex-mulher Jane, reafirma a proximidade dos dois amigos, que tem o péssimo hábito de cometerem os mesmos erros ao longo dos anos.


Aliás, por falar em Megan, o trabalho de Weiner com a personagem é brilhante. Mad Men tem tido como foco exibir ao espectador a destruição que Don Draper é capaz de criar com as mulheres com que se relaciona. New Business procura, a todo momento, colocar Megan como uma mulher fragilizada por seu divórcio, querendo apenas se livrar daquilo o mais rápido possível. Assim, não é estranho que não se veja compelida por brigar por mais coisas. No entanto, quando a vemos se encontrar com o marido, acompanhamos um enorme esforço inicial dela para rejeitar qualquer coisa que tenha a ver com Don. Mas, ao ver a obscena cifra oferecida por ele, é curioso vê-la ceder e aceitar a fortuna de um milhão de dólares. Por ser interesseira? Claro que não. Apenas por estar destruída pelo universo corruptor a que foi submetida por anos.


Mesmo Don não é culpado por tentar comprar sua liberdade e o perdão de Megan. É interessante como a série o pinta como vítima de seus próprios atos. O protagonista é, sem dúvida nenhuma, uma figura perdida e destruída por conta de suas más decisões. Seu relacionamento com Diana tem justamente esse propósito. Ao mesmo tempo em que ela é tratada como apenas mais uma na vida dele, como podemos ver durante a constrangedora viagem de elevador ao lado de Sylvia, Mad Men a transforma em um espelho do publicitário. Por esse motivo, New Business procura investir no passado trágico da garota, e em sua necessidade de escondê-lo compulsivamente. Aliás, se a relação entre eles é curtíssima é exatamente por isso, já que ela, mais lúcida, consegue enxergar o dano que se entregar a um homem como ela faria. Já Don, sem nada a perder, jamais chega a compreender esse cenário.


Por falar nas mulheres da vida de Don Draper, a participação de Betty é curta, mas extremamente poderosa. A maneira sorridente com a qual a mãe de seus filhos o recebe, afirmando estar pensando em cursar psicologia, é uma forma de Mad Men mostrar ao espectador a posição inferior em que Don se encontra. Se em Severance o víamos com diversas mulheres, e ainda assim tínhamos certeza de sua desolação, New Business procura transmitir a mesma mensagem através de Betty. Além disso, o episódio traça um belo paralelo entre ela, feliz e esbelta, e Megan, totalmente despida de sua dignidade. Se nos lembrarmos que na quinta temporada Betty, com vários quilos a mais, observa o belo corpo de Megan desejando não ter sido destruída por seu casamento, essa mensagem passa a ter ainda mais impacto. Ao vermos a mãe de Sally recuperar sua felicidade, não é difícil imaginar que o mesmo acontecerá com Megan.


Don, por outro lado, dificilmente terá a mesma sorte. Colecionando inimigos por onde passa, seja de ordem profissional ou pessoal, não é surpresa que vinganças contra ele sejam tramadas. Considerando que ele se recusa a encarar qualquer tipo de mudança (o fato dele estar vestido de terno enquanto vai a um jogo de golfe sugere isso), é natural que se sinta cada vez mais sozinho. Nada melhor para ilustrar isso, que a bela última cena de New Business, que o mostra, em um plano bem aberto, isolado em seu próprio apartamento, consumido pela desolação criada por si mesmo, ainda que em um ambiente riquíssimo fornecido por seu inegável talento.


Por conta dessa poesia visual criada por Mad Men, não posso deixar de dizer que já sinto saudades.





Por: Série Maníacos

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