Depois dos 30: o começo da quarta década de vida

Eu soprei as velinhas, entrei em pânico com a saída da casa dos vinte e muitos e chegada nos trinta e até escrevi um texto sobre o assunto, em que refleti sobre essa importante etapa da vida. Tudo isso foi em novembro do ano passado, há inacreditáveis seis meses – logo logo eu estarei mais próximo do aniversário de 31 anos que do dia em que fiz 30.

Desde então, abracei o trintão que há em mim e continuei no processo que já tinha iniciado lá em novembro, quando percebi que todos os alvos que a gente faz para cada fase de vida deveriam servir só como isso: alvos, algo que indica o caminho a ser percorrido, mas que jamais deveria causar desespero ou tristeza, caso os objetivos são sejam alcançados. Afinal, a vida é aquela coisa que acontece enquanto estamos preocupados fazendo planos.

Como a maioria dos leitores do 360 e minhas duas companheiras de blog têm menos de 30 anos, resolvi escrever este texto para mostrar que sim, há vida depois da barreira dos 30, caros amigos. E ó: a mudança nem dói tanto assim. Mas, se você deixar, pode ser grande. Não por conta da idade em si, mas porque fazer 30 anos, pelo menos no meu caso, me levou a refletir sobre a vida, sobre o que eu tinha feito até então e o que eu gostaria de fazer – e quem eu gostaria de ser – daqui para frente. Reflexão leva ao autoconhecimento e traz mudanças. E mudanças, por mais que aquela voz interior que clama pela inércia indique o contrário, são importantes.

Aos 30, continuei viajando. Nos últimos seis meses estive no Ceará, em Tocantins, no Rio Grande do Sul, além de viagens por minha querida Minas Gerais e passagens frequentes por São Paulo. Parece muito, mas viajei menos que no primeiro semestre do ano passado. Para quem trabalha com viagens e se coça toda vez que fica mais de três semanas longe da estrada, decidir viajar um pouco menos não foi fácil.

ESTRADA - ARGENTINA - Cachi

É meu objetivo conhecer e mapear os lugares turísticos mais importantes do Brasil o quanto antes, para trazer as dicas para o 360 e permitir que o blog continue a crescer. Só que eu estava com uma obsessão irrealista de viagens, encaixando uma atrás da outra. O resultado? Gastos acima do ideal e uma fila quilométrica de textos para fazer no blog. Para vocês terem uma ideia, foi só agora que finalizei as séries sobre a Ilha do Marajó e Fernando de Noronha, viagens que fiz em agosto e setembro do ano passado. E ainda nem comecei a escrever sobre Fortaleza e Jericoacoara (CE), Vale dos Vinhedos (RS), Jalapão (TO) e Tiradentes (MG), lugares que visitei nos últimos seis meses.

Viajei tanto a trabalho que não consegui colocar os outros objetivos profissionais em prática. Por isso, planejei não visitar novos destinos em Abril e Maio, recusei alguns convites para encarar a estrada e me concentrei em escrever sobre os lugares que já tinha visitado e em cumprir com outras tarefas do blog. Deu certo, com o fim da fila de textos do Marajó e de Noronha.

Aproveitando a tendência de desacelerar, passei a pensar melhor sobre o futuro. Durante quatro anos, tive um objetivo principal: fazer este blog dar certo. Junto com a Naty e com a Lu, lutei para transformar o 360 em realidade, para monetizar o blog e para permitir que um estilo de vida mais livre, sem horários, sem local fixo de trabalho e com uma tendência nômade, fosse possível para nós três. O alvo foi alcançado em 2014 e a situação financeira melhorou na metade de 2015, mas isso trouxe outra questão. Trouxe o “e agora?”

Computador - nomade digital - trabalho

A possibilidade de trabalhar de qualquer lugar do mundo ampliou tanto as escolhas que as dificultou, enquanto a conquista alcançada passou a fazer com quem tudo que veio imediatamente depois tivesse jeitão de anticlímax. De repente, voltei a ter pressa, porque todas as coisas que eu tinha sonhado durante anos eram possíveis. Escrever um livro? Possível. Morar em Nova York? Possível. Passar um temporada na Europa? Possível. Dar outra volta ao mundo enquanto trabalho de cafés e hotéis perdidos na Ásia ou na África? Possível. Como escolher dentre tantas opções, principalmente quando se pode fazer todas elas  e quando você quer tudo isso ao mesmo tempo?

Foi aí que percebi o óbvio, que não há necessidade de correr. A vida é curta, mas não tão curta assim. Os 30 anos não são um toque de recolher, como se alguém batesse na porta, falasse que a festa acabou e que agora é preciso levar uma vida de adulto. Os 40 também não são, nem os 50, os 60…

A vida acaba, mas até lá dá para realizar sonhos. E, spoiler alert, essa tal de vida de adulto, em que responsabilidades tomam todos os seus sonhos, não precisa nunca ser a sua vida. Abrir mão de todos os sonhos é uma consequência de inúmeras coisas, mas não da chegada de uma certa idade. Fosse o contrário a Norma, uma senhora de 90 anos diagnosticada com câncer terminal, não estaria percorrendo de carro os Estados Unidos há mais de um ano, num motor home guiado pelo filho.

Na série de filmes “Máquina Mortífera”, o personagem Roger Murtaugh repetidas vezes diz “I’m definitely too old for this shit”, (eu definitivamente estou muito velho para essa merda), toda vez que tem que encarar as perseguições e problemas do dia a dia de um policial. Mas, ao contrário do que a boca diz, as pernas de Murtaugh correm, pulam e continuam com toda força, fazendo o que tem que ser feito. Ele não é muito velho para fazer o que quiser, por mais que ache o contrário. Nem ele, nem eu, nem você. Essa é a conclusão dos primeiros seis meses deste ano: life goes on. Curta o percurso, inclusive em seus momentos mais simples.

muito velho para essa merda

Sim, eu quero morar em Nova York e na Europa por algum tempo e aproveitar para fazer cursos de idiomas por lá, mas quem disse que precisa ser agora ou no ano que vem? Posso querer fazer outra viagem de volta ao mundo, mas em tese esse planejamento é tão possível hoje como será daqui a alguns (ou muitos) anos.

A vida não precisa ser uma montanha-russa, cheia de emoção e com adrenalina o tempo inteiro. Compartilhar coisas simples, como o aniversário de um amigo, um Natal em casa ou um Dia das Mães em família, é tão importante quando viver grandes aventuras. Ou até mais, porque são essas pessoas que fazem todas as aventuras terem sentido.

Na ânsia para fugir da zona de conforto e viver coisas grandiosas, é preciso ter cuidado para não impedir a alegria das coisas simples, ao encaixar um alvo audacioso atrás do outro. Provavelmente não teremos, neste planeta, tempo de fazer tudo que queremos, de visitar todos os lugares que queremos, de ser todas as pessoas que desejamos ser. Mas há tempo para fazer muita coisa.

Ao fazer 30, optei por desacelerar, por curtir as coisas simples da vida e por não me preocupar em excesso com alvos audaciosos e aventuras mirabolantes. Elas serão possíveis em 1, 5 ou 40 anos, enquanto eu tiver o privilégio de andar neste planeta. Ou vocês acham que não serei um sessentão mochileiro?

O Balin também estava muito velho pra essa merda toda, mas mochilou com o Bilbo até a Montanha Solitária

Fiz, depois dos 30, coisas que gostaria de ter feito aos 20. Minha primeira tatuagem, por exemplo, veio depois dos 30 (outras virão). Foi só depois dos 30 que comecei a fazer terapia e percebi a beleza libertadora do autoconhecimento, em ser quem você é, se preocupando menos com o que pensam os outros. Embora meu estilo de vida continue no modo sedentário que gosta de uma cervejinha, meus planos de viagens passaram a ser mais aventureiros e agora quero encarar trilhas e subir montanhas, literalmente. Monte Roraima, me aguarde. Ainda não sei quando, mas vou chegar em breve.

No mais, entendi que problemas, derrotas e perdas acontecem ao longo da vida, mas pouco a pouco as coisas entram nos eixos, muitas vezes sem a gente notar. Como escreveu Guimarães Rosa, num trecho que citei no texto sobre a chegada dos 30, “O correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Acrescento: coragem e um pouquinho de paciência.

*Imagem destacada: Shutterstock

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Por: 360meridianos

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