Selina mostra que o poder é paradoxalmente proporcional à dependência!
Uma das primeiras ações de toda nova administração presidencial são as ações de paz (ou não) no Oriente Médio, especialmente a relação com Israel, um dos principais aliados norte-americanos. Oportunidade perfeita para Selina deixar sua tão sonhada “marca”. Assim, a presidenta recebe (em um indefectivelmente sensual vestido vermelho) a comitiva do Primeiro-Ministro israelense em um jantar oficial: sua primeira visita de estado.
Enquanto acompanhamos os preparativos, temos Mike como “a face da administração”, na função de Porta-Voz. Não poderia haver face melhor do que o mais desastrado integrante do staff de Selina com um bigode tingido. Quanto mais Mike tenta ocultar sua ineficiência e a da Presidenta, mais latentes elas ficam! Aliás, é bastante curioso acompanhar como Veep retrata bem este aspecto pessoalizado dos bastidores da política: os políticos carregam seu staff consigo nos cargos que ocupam, a despeito de aspectos formais ou capacitação.
Gary, por exemplo, passa de primeiro-aspone da Veep para uma função de organização dos cerimoniais. Como sempre, em sua atávica ânsia para agradar Selina, ele acaba se tornando um problema ao esbanjar nos gastos com a decoração do jantar – gastos extravagantes são sempre um prato cheio para a imprensa.
Já Dan é deslocado para fazer lobby no Congresso para a aprovação do projeto Families First de Selina. O que ele não contava é que o Vice-Presidente Doyle tenha colocado Jonah para integrar a tarefa. Jonah, como sempre, é a nêmesis de Dan, atrapalhando tudo ao oferecer aos deputados mimos irreais (como uma partida com a presidenta ou uma sessão privada de cinema com Scorsese). Foi de Dan uma das mais ácidas frases do episódio, ao tentar convencer um congressista da relevância do projeto: “Crianças são como pequenas start-ups humanas”. Perfeita descrição da desumanização e distanciamento da vida real que os bastidores da política promovem!
Nas suas funções de relações-públicas, Kent informa à Selina que Catherine não está contribuindo para sua popularidade. A pobre Catherine mais uma vez paga o pato não apenas pela megalomania da mãe como por ter que se adequar à toda a exposição exigida pelo “cargo” de Primeira-Filha, algo que nunca desejou.
Como sempre, Selina continua transformando em shit tudo o que toca. Sua implicância estética com um quadro exposto na Casa Branca (e que Gary mandou retirar) se transforma num incidente, já que aquele era o único quadro de um artista indígena nativo. Isto rende ainda uma fina ironia do Primeiro Ministro israelense que cortou: o quão irônico é que Selina esteja falando em ocupação no Oriente Médio se os próprios americanos ocuparam um continente que eram de outro povo? Em paz com Israel, em guerra com os índios: Selina é o exato contrário de Mel Gibson! Hahahahah =)
Mas novamente Selina e Gary demonstram todo o poder cômico de sua relação. Após Gary cometer vários erros em sua sofrência pela atenção de Selina, ambos explodem em uma discussão privada (que em muito lembra àquela cena no banheiro quando Selina descobriu que o presidente iria renunciar). Selina explode com ele, perguntando inclusive quando foi que ele tinha se tornado Primeira-Dama. Gary retruca, expondo como ele era indispensável (“I’m your calendar, I’m your Google”), bem como todos os sacrifícios que fizera por ela. Nada mais correto. Indiscutivelmente, esta é a dupla dinâmica da série. A sintonia entre Julia Louis-Dreyfus e Tony Hale é algo raro.
Veep segue em uma temporada promissora, com diálogos cada vez mais frenéticos, ácidos e que oferecem uma descrição da política tão realista, mas tão realista que seria trágica… se não fosse cômica.
Por: Série Maníacos
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