Talvez você não goste de óperas. Eu, por exemplo, não entendo muito. Não sei diferenciar os compositores ou nomear as mais famosas, mas devo saber assoviar uma ou outra música. Mesmo não sendo uma grande entendida das óperas e muito menos uma frequentadora assídua desse tipo de espetáculo, quando a oportunidade de assistir a uma ópera num Teatro Romano do século 2 surgiu, tudo que eu quis foi conseguir um bilhete para esse programa.
Mas logo a guia me dissuadiu do plano: “olha, provavelmente já está lotado”, disse ela. “E, além disso, os bilhetes costumam ser bem caros. Mas você sempre pode tentar vir aqui meia hora antes do espetáculo e talvez consiga encontrar um ingresso”. Claro, isso foi um balde de água fria.
O tal Teatro Romano fica em Plovdiv, na Bulgária. É um dos teatros antigos mais bem preservados do mundo. A construção foi concluída no século 2 a.C., quando o Imperador Trajano governava o império. Nessa época, o nome da cidade era outro: Philippopolis, uma importante cidade para o Império, por conta da localização bem no meio dos Balcãs. Naquela época, esse era um dos principais prédios públicos da cidade. Além de apresentações teatrais, a população também se reunia ali para assistir lutas de gladiadores e espetáculos com animais.
Ainda estão preservados as frisas, colunas e estátuas, assim como 20 fileiras de mármore, com inscrições dos antigos donos dos assentos, aqueles cidadãos honorários que tinham lugares cativos nas apresentações. O Antigo Teatro de Plovdiv funcionou até o século 4, quando sofreu com um incêndio durante uma invasão de Átila, o Uno.
E assim caiu no esquecimento até ser redescoberto nos anos 70, por conta de um deslizamento de terra. Desde o início dos anos 80, o espaço é usado para apresentações culturais da cidade, além de ser aberto a visitação.
Voltando para minha história, no dia seguinte eu saí para passear pela cidade e me deparei com um pequeno quiosque no centro. Havia duas moças vestidas com fantasias de espanholas e um cartaz em búlgaro que não fazia o menor sentido para mim.
Normalmente eu não paro em quiosques e muito menos dou atenção para vendedores nas ruas, mas nesse dia eu parei quando a moça fantasiada me chamou. Sorte a minha. Elas estavam vendendo os últimos lugares para a ópera na noite seguinte. E com desconto!
O ingresso na área das arquibancadas custou 10 lev, ou seja, 5 euros. Uma pechincha. A espanhola me alertou para ir bem agasalhada, pois, apesar de ser verão, o teatro é todo aberto e o vento seria frio. Ah, e qual era a ópera? Carmen, do francês George Bizet. Por acaso, justo uma dessas óperas que eu sei assoviar uma música ou outra. Provavelmente vocês conhecem também, ó:
A apresentação estava marcada para 21h, mas cheguei um pouco mais cedo para conseguir pegar um lugar melhor, já que na minha área do teatro os assentos não eram marcados. Claro, já estava bem cheio. Além dos lugares de mármore, que eles colocam uma almofadinha, tem uma arquibancada de madeira, que foi onde eu fiquei. Sinceramente, não era o lugar mais confortável do mundo para passar mais de 2h30, mas pelo menos eu consegui uma posição que dava para ver o palco bem centralizado.
A montagem de Carmen foi em italiano (a original é em Francês), o que para mim foi uma sorte, porque eu falo um pouco de italiano. Havia dois telões com legenda em búlgaro, que eu ignorei solenemente.
Mesmo com a minha compreensão limitada e meu lugar não muito confortável, achei emocionante a experiência de assistir um dos clássicos da ópera num teatro romano tão antigo. As músicas eram lindas e a cada mudança de cenário eu imaginava pessoas há séculos e séculos fazendo a mesma coisa que eu estava fazendo – ou pelo menos algo parecido.
Se você tem vontade de ter uma experiência assim, é bom saber que em Plovdiv sempre tem alguma espetáculo especial para o antigo Teatro Romano, especialmente no período do verão, de junho a setembro. Para conferir a programação, veja o calendário cultural da cidade (em inglês).
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Por: 360meridianos
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