Como planejar uma viagem para Fernando de Noronha

Fernando Noronha é o destino dos sonhos do brasileiro. E não sem motivo. Eu nem tinha descido do avião quando percebi que estava chegando num lugar especial – foi quando, minutos antes de pousar, olhei pela janelinha e vi toda a beleza que Noronha faz questão de esfregar na cara do viajante.

Se a ilha já é linda do alto, da terra as descobertas continuam. Baía do Sancho, Baía dos Porcos e os Dois Irmãos. Precisa de outros argumentos? Noronha tem. Basta enfiar a cabeça debaixo d’água para descobrir mais um ângulo do paraíso.

Ok, tenho certeza que você já está convencido a ir para lá. Mas o problema é que essa viagem não é das mais simples, tanto do ponto de vista do dinheiro quanto da organização. É por isso que montei este texto, com o passo a passo para você organizar sua viagem para Fernando de Noronha. Vamos lá?

Onde fica Fernando de Noronha?

Começando do básico, mas porque é necessário, afinal essa é a dúvida de muita gente. Fernando de Noronha é um arquipélago do Brasil. Fica no Oceano Atlântico e faz parte de Pernambuco. Recife, a capital do estado, está a 545 quilômetros de Noronha. Natal, no Rio Grande do Norte, fica a 360 km.

Portanto, a forma mais comum de chegar em Noronha é de avião, sempre fazendo conexão ou em Natal ou no Recife. Gol e Azul voam para lá. O valor das passagens varia de acordo com a cidade de origem e a época do ano, mas a média histórica indica tarifas acima dos R$ 1200, ida e volta.

É possível achar preços melhores e até resgatar sua passagem com milhas. Eu fiz isso – garanti minhas passagens com oito mil milhas do Smiles. Na ida, tente marcar lugar nas janelas do lado esquerdo do avião. Você será premiado com um voo panorâmico de oito minutos.

A temporada de cruzeiros em Fernando de Noronha costumava ser entre novembro e março, mas nos últimos anos esse tipo de turismo, que trazia pouco dinheiro e benefícios para a ilha, mas deixava uma série de problemas, chegou a ser descontinuado.

É preciso acompanhar a situação ano a ano para ver se haverá mudanças. O cruzeiro que ia para Fernando de Noronha, em 2014, era Louis Aura. Mas eu confesso que não vejo vantagem nos cruzeiros, mesmo que eles voltem. O melhor é dormir vários dias na ilha, como mostra o próximo tópico.

Quanto tempo ficar

Eu fiquei cinco dias inteiros. Foi bom, mas gostaria de ter ficado mais. É uma viagem cara e que você dificilmente fará com frequência. Por isso, vale a pena esticar a estadia – uma semana por lá é uma boa pedida, com tempo de sobra para fazer todos os passeios e ainda relaxar. Tem mais tempo para curtir o paraíso? Sorte sua.

Também é possível ficar menos tempo, mas, numa boa, você vai embora com vontade de voltar. Não que isso seja ruim.

Quando ir

Novembro a Março: Essa é a temporada do surf, que tem seu auge em janeiro. Nesse mês, só os melhores encararam a Cacimba do Padre, praia onde ocorrem importantes campeonatos de surf.  Por outro lado, o mar mais agitado pode dificultar a vida de quem não é surfista e até inviabilizar alguns passeios, como os de barco. As festas dessa época também são concorridas, com destaque para o Réveillon.

Março a Julho: É a baixa temporada, por conta das chuvas. Isso torna a ilha mais barata. Se achar uma passagem com preço bom, compre. E não deixe que chuvas ocasionais estraguem seu bom humor.

Agosto a Outubro: A melhor época, pelo menos se você não for surfista. Essa é a temporada do snorkeling, ótima para quem quer ver as belezas de Noronha fora da superfície. O melhor mês, segundo muita gente que mora em Noronha, é setembro, quando a visibilidade debaixo d’água chega a impressionantes 60 metros! Eu estive em Noronha em setembro e recomendo.

Temos um post detalhado sobre esse assunto, analisando a vida em Noronha mês a mês.

Onde se hospedar

Reserve sua hospedagem com antecedência, principalmente se você não estiver viajando na baixa temporada. Fernando de Noronha é uma ilha pequena e com poucas opções de hotéis e pousadas. Por isso, é comum que os quartos sejam reservados meses antes da viagem. Deixe para a última hora e você terá um problema.

Sobre a localização, a Vila dos Remédios é a melhor escolha. Você estará perto das praias e da vida noturna da ilha. Outra alternativa, essa com opções mais baratas, é a Vila do Trinta. Por fim, há os bairros Floresta e Floresta Nova. Neste texto aqui você acha um relato detalhado de como são cada uma dessa regiões, além de uma lista de hotéis e pousadas com bom custo/benefício.

Pague a taxa com antecedência (e planeje-se)

É preciso pagar uma taxa de preservação ambiental para entrar em Noronha. Essa taxa, que é de R$ 51,40 por dia de permanência na ilha, pode ser paga no aeroporto ou pela internet, no site oficial. Eu recomendo que você faça o pagamento online, alguns dias antes da viagem, e chegue na ilha já com os documentos que compravam isso, diminuindo seu tempo na fila.

Não que a fila para pagar na hora seja grande, mas assim você evita perder mais minutinhos preciosos. Se optar por pagar no aeroporto, você poderá pagar com dinheiro ou cartão.

Após a sua entrada, o fiscal te dará um papel que comprova o pagamento da taxa. É preciso guardá-lo para apresentar na hora de ir embora. Importante: se resolver esticar sua permanência, volte ao aeroporto e pague o restante da taxa.

Veja também: Fernando de Noronha, o exterior do Brasil

Compre o ingresso do Parque Nacional

A maior parte da ilha é uma área de proteção, o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. É preciso pagar um ingresso para entrar nessa área, que inclui lugares como a Baía do Sancho ou a Praia do Sueste, dois pontos tradicionais de mergulho.

A taxa para brasileiros é R$ 89. Estrangeiros pagam R$ 178. O ingresso vale por 10 dias e pode ser comprado online, no site do Parnanoronha. Se você comprar pela internet, ainda precisará ir a um dos pontos de vendas na ilha, para trocar seu ingresso pela carteira do parque.

Você também pode comprá-lo na própria ilha – esse ticket não é pedido na hora do desembarque. São três pontos de vendas. O mais próximo da Vila dos Remédios fica no Bosque dos Flamboyants. Os outros dois ficam na sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e no Posto de Informação e Controle da Baía do Sancho. Sempre saia de casa com a carteira do parque, que pode ser pedida até nos passeios de barco, que entram na área do parque nacional.

Agende suas visitas

Algumas áreas do Parque Nacional são berçários de vida marinha, por isso há uma quantidade máxima de pessoas permitida por dia nesses lugares. Para garantir sua presença, é necessário agendar um horário no ICMBio. Não dá para fazer isso online – é preciso ir até a sede do instituto, na Vila do Boldró, levando seu ingresso do Parque Nacional.

Faça isso o quanto antes, de preferência no dia que você chegar na ilha (a agenda abre 10 dias antes da data pretendida). O agendamento pode ser feito de segunda a sexta, de 8h30 às 12h e de 14h às 18h, e aos sábados, das 15h às 18h. Esses passeios são de graça, a não ser que você escolha uma opção que precise de guia, como a trilha longa do Atalaia. Por falar nisso, existem quatros passeios pelas piscinas naturais que exigem agendamento:

Piscina do Atalaia – Foi o passeio que eu fiz. Você caminha por cerca de 40 minutos até a Praia do Atalaia, que pode ser alcançada a partir da Vila do Trinta. Lá fica uma piscina natural onde é possível ver filhotes de peixes, moreias, polvos e até pequenos tubarões.

Você não pode usar protetor solar para entrar na piscina, para preservar a vida marinha. Além disso, o uso de colete salva-vidas é obrigatório. Não que a piscina seja funda – a água bate no joelho. O colete serve área evitar que os visitantes pisem na área, auxiliando na flutuação. O uso de nadadeiras é proibido nessa e também nas outras piscinas.

Piscina da Pontinha – Para chegar lá é preciso percorrer uma trilha de quase quatro quilômetros, o que torna obrigatória a contratação de um guia.

Enseada dos Abreus – O guia que me acompanhou em alguns passeios disse que a Enseada dos Abreus é o lugar mais bonito de Noronha. Depois de um depoimento tão forte, tentei agendar uma visita, mas os horários estavam esgotados. Você pode até fazer a trilha sem agendar, mas não entrará nas piscinas naturais.

Piscina da Ilha São José – Essa piscina é mais profunda, o que dispensa a obrigatoriedade do colete. O guia para te levar até lá também não é obrigatório, mas a recomendação é que você contrate o serviço, já que a trilha não é das mais fáceis.

O que levar

Tenha em mente que quase tudo que é vendido em Noronha vem do continente. Por isso, evite deixar para comprar determinados produtos lá. Leve um estoque de protetor solar. Convém não se esquecer de um repelente, sabonetes e shampoo, principalmente se você ficar numa hospedagem domiciliar.

No mais, roupas de praia, óculos escuros e câmera, inclusive uma para tirar fotos debaixo d’água, se você tiver. Por recomendação da Cíntia, do blog A Fragata Surprise, eu levei um snorkeling. Valeu a pena. Se não quiser, é possível alugar o equipamento por lá (R$ 10 – R$ 20 por dia). Também dá para alugar câmeras subaquáticas (R$ 50 – R$ 70 por dia).

E viaje leve. Se você conseguir não despachar a mala, melhor. Eu fiz isso. Desci do avião, apresentei as taxas já pagas e peguei um táxi. Menos de 30 minutos depois do pouso eu já tinha feito check-in no hotel e estava a caminho da Praia do Cachorro. Você não vai querer perder um minuto sequer.

Quanto vou gastar?

Só pelo preço médio das passagens e as taxas obrigatórias você já deve ter visto o óbvio: custa caro. Some também o preço da hospedagem, que dificilmente sai por menos de R$ 250 por dia, em pousadas simples. O combo de passeios mais comum, que inclui o Ilha Tour e um passeio de barco, custa outros R$ 300.

A alimentação também pesa, da cervejinha na praia (no mínimo R$ 8 a lata) ao almoço. Por fim, há o custo com a vida noturna e os passeios especiais, como o mergulho de cilindro. Tudo na ponta do lápis, eu gastei R$ 3 mil na minha viagem. E não paguei a passagem, que foi resgatada com milhas. Sobre esse assunto, escrevi um texto explicando quanto custa viajar para Fernando de Noronha. Não deixe de ler.

E por falar em dinheiro, saque uma quantidade razoável  e leve com você, mas não é preciso carregar toda a grana da viagem no bolso. A maioria dos lugares aceita cartão e há bancos na ilha. Há uma agência do Santander na Vila dos Remédios e uma do Bradesco na Vila do Trinta, além de um caixa do Banco 24 horas, no aeroporto. Clientes do Banco do Brasil podem sacar dinheiro nos Correios, que fica na Vila dos Remédios. Lá também fica uma Casa Lotérica, que atende clientes da Caixa.

O que fazer

A maioria dos turistas chega em Noronha e corre para uma das praias urbanas (cachorro, Meio e Conceição) para ver o pôr do sol. No dia seguinte,  primeiro dia inteiro, o passeio tradicional é o Ilha Tour, uma espécie de apresentação da ilha vendido em diversas agências e que dura o dia inteiro. O passeio de barco e o mergulho a reboque são outras opções.

Há também as trilhas que precisam ser agendadas, citadas acima. Mas o momento mais mágico que tive em Noronha foi durante meu batismo, num mergulho de cilindro. Recomendo fortemente. Sobre isso, leia o texto sobre mergulho em Fernando de Noronha.

Fez todos os passeios básicos? Agora é hora de relaxar e voltar nos lugares que você mais gostou. Eu voltei algumas vezes na Baía do Sancho, na Praia da Cacimba do Padre e na Baía dos Porcos. Ahh, o pôr do sol em Noronha é sempre um espetáculo. Não perca esse show por nada.

Viagem para Fernando de Noronha: locomoção na ilha

A Ilha é muito pequena e dá para fazer quase tudo a pé. Quando caminhar não for possível, vá de ônibus. Uma linha percorre toda a ilha, com um ônibus saindo de cada sentido, um do Porto e outro da Praia do Sueste, a cada 30 minutos, de 7h às 23h30.

Se o ônibus falhar e a perna cansar, vá de táxi.  As corridas raramente passam de R$ 30, como mostra a tabela da Associação de Taxistas de Noronha. Por falar nisso, faça o percurso do aeroporto para sua pousada de táxi, pelo menos na chegada. É que muitas agências de viagem e pousadas oferecem um transfer gratuito, mas não te contam que a cortesia inclui uma parada na agência, assim que você sair do aeroporto, para tentar vender pacotes turísticos. Economize seu tempo e sua paciência. Por outro lado, eu usei esse transfer para voltar para o aeroporto e foi tranquilo.

Eu não alugaria um buggy. É caro, o combustível vai te custar um rim (R$ 5 o litro) e o veículo é complemente dispensável.

Respeite a natureza

Noronha é um paraíso que precisa ser preservado. Não jogue lixo no chão, recolha qualquer detrito que você encontrar e respeite a vida marinha. Perseguir peixes e tartarugas, por exemplo, dá multa. E altíssima. Nadar ou entrar em lugares proibidos também pode custar muito caro – para o meio ambiente e para você, caso um fiscal te pegue fazendo bobagem. Viu uma piscina natural linda e transparente? Pode não ser permitido entrar ali – na da foto acima, por exemplo, não é. Pergunte. Sempre.

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