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Jericoacoara: o paraíso é logo ali

Logo ali de mineiro, ou seja, longe pacas, pelo menos se você tentar chegar em Jeri no modo econômico. Eu fiz isso. Peguei um ônibus em Fortaleza, às 18h30. Cerca de 300 km separam a capital do Ceará de sua praia mais famosa, um número que pode ser entendido de forma simples: quase sete horas de viagem. Ou seja, eu deveria chegar em Jeri por volta de 1h da manhã. Mas cheguei quando os relógios marcavam mais de três.

É que Jeri, uma antiga vila de pescadores cercada por dunas, está dentro de um Parque Nacional, o que dificulta a construção de rodovias até lá. Por isso, o ônibus mesmo, confortável e com ar-condicionado, só vai até Jijoca de Jericoacoara. O resto do percurso, mais de uma hora, é feito numa jardineira, um veículo com tração nas quatro rodas e capaz de vencer o mar de areia que separa Jijoca do paraíso.

jericoacoara-ceara

A jardineira atrasou, o que tornou a troca de veículos mais demorada que o previsto. Clientes brasileiros nervosos de um lado, um francês que mora em Jeri revoltado do outro, e a jardineira chegou no momento em que o clima entre os viajantes começava a ficar tenso. Entrei no ônibus. Ufa, agora estamos quase lá.

Mas o mundo em forma de areia que é preciso superar era maior do que eu esperava. Jardineira atolada, marcha à ré e muito balanço. Dunas que não acabam mais e – surpresa – o mar logo ali, do lado da janelinha. No céu, estrelas que nenhum morador de cidade grande está acostumado a ver. E até eu, que não entendo de astronomia, identifiquei uma ou duas constelações, com destaque para o nosso Cruzeiro do Sul.

A jardineira enfim chegou em Jeri, mas a areia não acabou – as ruas da vila também são assim. Vila que é simpática e cheia de restaurantes e bares, alguns deles ainda em funcionamento no meio da madrugada, quando chegamos lá.

Existe algo especial nos lugares que são muito difíceis de serem alcançados. Enquanto eu estava na jardineira, cansado, doido para dormir e balançando loucamente, pensei. “É bom que essa tal de Jericoacoara seja mesmo incrível”. É.

Isso ficou claro no primeiro dia, quando desci pelas ruas de areia até a Praia de Jericoacoara, que fica pertinho da vila. Mar lindo, águas mornas, uma duna enorme à minha esquerda e incontáveis velas no canto direito, a composição de um cenário inesquecível.

jericoacoara, no ceara

Os ventos que sopram em Jeri não sopram em qualquer lugar. Ponto mais ao norte do Ceará, Jeri recebe ventos constantes que vêm da África. E o mesmo vento que sopra dunas para lá e para cá, a ponto de soterrar Tatajuba, uma vila vizinha, empurra as velas de kitesurf e de windsurf. Incontáveis esportistas, muitos deles gringos, desembarcam em Jeri todos os anos. “Alguns deles ficam meses por aqui”, explicou Tiago, o guia de um dos passeios que fiz por lá. É fácil entender a razão.

Os ventos que transformam Jeri num dos melhores lugares para essas práticas esportivas no Brasil tornaram a vila popular entre estrangeiros. Diversos idiomas se misturam nas areias da Rua do Forró – se muitos brasileiros não fazem ideia de onde fica Jericoacoara, os gringos parecem não ter esse problema.

jericoacoara, ceará

Mas não foi sempre assim. Jeri já foi realmente uma vila de pescadores (hoje ninguém mais pesca por lá, garantiu o guia). Mas isso foi até a década de 80, quando o Washington Post desembarcou em Jeri, listou a praia como uma das 10 mais bonitas do mundo e colocou esse cantinho do Ceará no mapa turístico mundial.

Mas os brasileiros conhecem Jeri por outros dois cartões-postais. Marquei presença num deles no primeiro dia de viagem, ao pôr do sol. Bastou caminhar por 40 minutos morro acima para avistar a Pedra Furada. Gente, é claro, não falta por ali, mas isso não prejudica a experiência.

Jericoacoara, Ceará

Mas o símbolo máximo de Jeri, aquele que faz milhões de brasileiros sonharem com essa praia, mesmo não sabendo onde fica ou como falar esse nome, não é mar, mas lagoa. Várias lagoas. Lagoas com água, cara de Caribe e jeitão de preguiça. Preguiça com direito a redes.

jericoacoara, Ceará

Vou falar a verdade: eu achava que esse negócio de deitar numa rede, com a bunda na água e só metade do corpo submerso, ia ser bom só na foto. Que ia cansar. Que o balanço poderia incomodar. Mas eu já estava há uma hora lá, no balancê das ondas e com um copo de cerveja na mão, quando eu percebi o óbvio. Aquilo era bom. Era ótimo, principalmente depois que eu deixei a câmera de lado e passei a curtir o momento.

Jeri melhorou o conceito de praia ao institucionalizar o direito à preguiça. E com água doce e ondas, afinal os ventos não param de soprar nem nas lagoas.

Mangue seco em Jeri

E a viagem teve mais. Teve vila que foi coberta por dunas. Teve mangue. Teve passeio pelas dunas, inclusive com uma dose de adrenalina. Teve passeio de barco, avistamento de cavalos marinhos, cenários incríveis e restaurantes e bares interessantes. Porque Jeri é para relaxar, mas  também tem vida noturna e um pouco de agito.

jericoacora, Ceará

É claro que nada é perfeito. O turismo, essa atividade que movimenta bilhões e nem sempre é sustentável, já começa a cobrar seu preço. Me assustei com a quantidade de veículos que andam pelas praias e pela areia. O Ricardo Freire, do Viaje na Viagem, vai lá desde que Jeri ainda era uma vila de pescadores. E garante: algo precisa ser feito, caso contrário o paraíso pode ser perdido.

Jericoacoara, Ceará

Será uma pena. A imagem que quero guardar de Jeri não é essa, mas a de um lugar que é sinônimo de esportes e preguiça. Culpa do vento, que permite ondas e kitesurf, redes dentro d´água e windsurf. Um lugar que o vento deixou até a árvore preguiçosa, procurando um lugarzinho para se deitar.

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Por: 360meridianos

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