Meu eu do futuro reclama há anos do procrastinador do passado. Acho que tudo começou na escola, quando eu aprendi que deixar as tarefas ou estudos para última hora não era sinônimo de não conseguir fazê-las. O procrastinador ganhou experiência na faculdade, quando adquiri o hábito de virar noites para fazer trabalhos inteiros – trabalhos com data limite para a manhã seguinte, mas que tinham sido marcados semanas antes.
Ao entrar no mercado de trabalho, meu procrastinador foi dominado e preso. Eu lidava com prazos, metas e horários fixos, algo que o jornalismo chama de deadline. Prazos tão curtos que não havia tempo para deixar para depois tarefas importantes.
Mas se o procrastinador não atuava mais na minha vida profissional, ele continuou presente na minha vida pessoal. Sabe aquela mudança de vida que você quer fazer? Aquele hábito saudável que você quer começar a ter, tipo fazer exercícios ou se alimentar melhor? É muito fácil deixar isso tudo para você do futuro. Culpa do procrastinador do presente.
Quando comecei a trabalhar de casa, primeiro com frilas e depois somente com este blog, o procrastinador voltou a atuar. Trabalhar de casa é confortável. Bom. Relaxante. E, você pode imaginar, tudo isso forma um baita convite para a procrastinação. Já me peguei assistindo séries quase inteiras durante a tarde, tudo para correr atrás do prejuízo quando o sol se põe. Já deixei tarefas importantes para a última hora, por conta da cara convidativa da cama logo depois do almoço.
Em 2016 completarei três anos trabalhando no esquema home office. Neste tempo, aprendi algumas coisas para procrastinar menos, produzir mais e, mais importante, ter uma vida menos estressante e mais feliz.
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Procrastinação não é exclusividade de trabalhar com algo que não gostamos
Eu adoro o que faço. Viver deste blog foi um desafio enorme – muito mais complexo do que entrar na faculdade, me formar e arrumar um emprego legal. Alcançar este objetivo, depois de anos de planejamento, foi fantástico.
Além disso, viver de um blog de viagem envolve viajar bastante, por mais que o dia a dia passe longe de ser na beira da praia tomando caipirinha e vendo a vida passar. Assim como qualquer trabalho, o meu tem coisas boas e ruins, tarefas enriquecedoras e chatas, dias memoráveis e dias para esquecer, mas não tenho como negar que gosto bastante da minha vida profissional.
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Dito isso, é preciso combater um mito: a procrastinação não é sinônimo de infelicidade no trabalho e também afeta quem ama o que faz. Uma pesquisa da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, concluiu que esse hábito pode ser genético e tem ligação com a impulsividade.
É algo que vem dos nossos antepassados, que tinham a tendência de resolver problemas imediatos por questão de sobrevivência – por exemplo, se preocupar com o que vou comer hoje em detrimento de qualquer tarefa mais complexa e de efeitos a longo prazo. A impulsividade era uma vantagem evolutiva do homens das cavernas.
No mundo moderno, questões do dia a dia viram hábitos e demandam decisões menores, enquanto as mais complexas, que exigem planejamento, demandam o centro da nossa atenção. O problema é que o mundo atual oferece um monte de distrações, questões nem tão importantes assim, mas que num primeiro momento parecem mais urgentes do que determinada tarefa que tenha um prazo mais amplo.
Eu começo a escrever um texto. Dou uma olhadinha no Facebook. Acabo um parágrafo. “Olha que legal esse texto que fulano compartilhou.” Volto a escrever meu artigo. Alguém chama no Whatsapp. Uma notícia importante começa a circular pelas redes sociais. E assim eu demoro cinco horas para escrever um texto que poderia estar pronto em duas.
Pode ser necessário diminuir a influência de questões urgentes, mas pouco importantes ou completamente desnecessárias. Saia do Facebook. Não olhe o Whatsapp toda hora que o telefone apitar – eu deixo o meu longe toda vez que começo uma tarefa importante e demorada.
E resista ao Fomo, ou Fear of Missing Out (medo de estar por fora). Abrir dezenas de abas com portais de notícias ou sites em geral, supostamente para saber tudo que acontece no mundo naquele momento, é um baita convite para procrastinar. Coisas importantes acontecem o tempo todo – e algumas vezes você não será o primeiro a saber. Lide com isso.
Quero procrastinar menos para produzir mais – e trabalhar menos
Eu tenho um problema com textos sobre procrastinação feitos para empresas. É que muitas vezes a lógica é impedir o funcionário de perder tempo, tornando a produtividade dele maior, mas dando benefícios reais somente para o patrão, que exige todos os minutos pagos ao funcionário.
Por mais que eu ame meu trabalho, eu quero procrastinar menos para trabalhar menos. Quero ter mais tempo para fazer outras coisas: para ler um livro, ver um filme legal, praticar um esporte, estar com minha família e meus amigos e, claro, viajar, tudo isso sem me sentir culpado por não ter cumprido alguma tarefa ou por ter serviço acumulado na mesa do escritório. A vida não se resume a trabalho. Ainda bem.
Esse era um dos meus maiores problemas quando trabalhava de carteira assinada e tinha um horário a cumprir, de 9h às 18h. Por mais produtivo que eu fosse, eu ainda teria um horário fixo para voltar pra casa. Hoje, no entanto, acabar as tarefas antes da hora significa poder relaxar. E isso não tem preço.
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Para os que trabalham da forma tradicional, de 9h às 18h, resta lutar por uma mudança na forma como o mundo corporativo funciona. E procrastinar menos pode ser o primeiro passo, já que assim você mostra ao seu chefe que produtividade não tem nada a ver com uma quantidade fixa de horas por dia na empresa. Por outro lado, isso também garante menos estresse na hora de cumprir prazos e ajuda a eliminar o sentimento de culpa.
Passo a passo para procrastinar menos
Eu tinha passado o dia na frente do computador, mas produzido pouco. O relógio marcava 22h e eu ainda estava escrevendo o texto do dia – texto que precisaria ser revisado, editado e publicado. Cansado, com dor nas costas e doido para me jogar no sofá e ligar a TV, eu me perguntei como diabos a tarefa mais importante do dia tinha ficado para tão tarde.
Como eu expliquei acima, eu resolvi parar de procrastinar justamente para evitar esse tipo de situação. Eu queria ficar menos tempo na frente do computador e mais tempo relaxando. A questão não era produzir mais. Mas produzir melhor, em menos tempo e de forma menos estressante. Para alcançar esse alvo, tomei algumas atitudes.
Saiba quais são as tarefas do dia.
A minha primeira tarefa do dia é listar as tarefas do dia. Coloco num papel tudo que não pode ficar para amanhã. Vou cortando os itens da lista ao longo do dia – quanto mais cedo a lista chegar ao fim, mais tempo eu terei para mim.
Faça as coisas mais complicadas primeiro.
Eu tinha o costume de começar o dia pelas tarefas mais simples, aquelas que não demandam nem 20 minutos. Hoje, prefiro encarar o que há de mais complexo e demorado. No meu caso essa tarefa normalmente é escrever um texto. Assim eu faço a tarefa mais complicada quando ainda estou cheio de disposição e encaro os itens mais simples da lista quando começo a me cansar.
Trace metas e prazos coerentes – e faça a cobrança você mesmo.
Como vocês sabem, o 360meridianos tem três autores. Por isso, cada um de nós tem dois sócios prontos para cobrar pelas tarefas, exigir que prazos sejam seguidos e que metas sejam alcançadas.
Fazemos uma reunião de pauta semanal, para definir todas as tarefas da semana. Além disso, até o ano passado fazíamos reuniões trimestrais, para planejar coisas mais complexas e determinar aonde queríamos chegar com o blog a longo prazo. Para evitar a procrastinação, agora faremos uma reunião de planejamento por mês, além das reuniões de pauta semanais.
Traçar metas e prazos é fundamental para fazer a roda girar. Se você não tem um chefe ou sócio para cobrar resultados, faça a cobrança você mesmo.
Divida o tempo em períodos menores.
Foi isso que fizemos ao tornarmos a reunião de planejamento mais frequente. Assim é possível acompanhar o andamento das tarefas mais de perto, principalmente aquelas que demandam muito tempo – até semanas ou meses.
Mas a dica vale também na divisão das tarefas diárias. Se eu tenho cinco tarefas para fazer num dia, separo partes do dia para realizar cada uma delas – e vou cortando itens da lista.
Elimine as distrações.
Como uma das minhas tarefas é acompanhar diariamente a página de Facebook do blog, eu tinha um problema de distração com a rede social. Eu entrava no Facebook para trabalhar, via algum link legal e não procrastinava o link: o texto não ficava na lista de leitura para depois, para um momento de ócio. Ao contrário, tirava 10 minutos do meu trabalho. Some quantas vezes isso pode acontecer durante um dia e faça as contas. É muita coisa.
Para resolver este problema, passei a fazer todas as tarefas que envolvem o Facebook de uma vez, saindo da rede social para realizar outras coisas. Como o Facebook acaba sendo ferramenta de comunicação, vez ou outra que desligo o serviço de mensagens para todo mundo durante o expediente, exceto pessoas com quem eu realmente preciso de falar. A mesma coisa vale para Twitter, Instagram, Whatsapp e até para distrações físicas, como um livro ou revista que ficam perto do computador.
Saiba quando enrolar. E faça isso de forma produtiva.
Você tem uma tarefa enorme pela frente, mas uma reunião está no meio do caminho, daqui a 30 minutos. Nesses casos, eu evito a tentação de enrolar até a hora da reunião. A melhor saída é fazer aquelas tarefas mais simples da lista, as que demandam pouco tempo, e encarar o mais complexo assim que você não tiver compromissos pela frente.
Pense nos objetivos de longo prazo. E na recompensa.
Eu passei a não diferenciar a minha vida pessoal da minha vida profissional. Se tracei o alvo de ler quatro livros por mês, tenho que ter tempo para isso. Se resolvi que quero ir ao cinema uma vez por semana ou viajar de forma mais frequente, não posso deixar minha vida profissional entrar nos meus momentos de lazer. Para isso, é fundamental ser produtivo.
Pensar na recompensa, em como a vida ficará melhor por não procrastinar, ajuda a não cair na tentação das demandas urgentes, mas desnecessárias. Eu sei que a situação não é a mesma para quem não faz seu próprio horário, mas não procrastinar pode evitar a necessidade de fazer hora extra ou de levar trabalho para casa, por exemplo.
Pense em como a procrastinação te faz mal, por mais que aquele meme legal que está circulando pelas redes sociais possa ser um alívio momentâneo. Pense em como não procrastinar pode permitir que você relaxe mais.
No fundo, procrastinar menos envolve fazer menos coisas, não mais. Basta dedicar tempo para fazer logo as coisas mais importantes.
*Fotos deste texto: Shutterstock
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Por: 360meridianos
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