As muralhas de Girona resistiram por sete meses, impassíveis perante os 35 mil soldados de Napoleão que sitiavam a cidade, em 1809. Os franceses só venceram na base da fome e das doenças, perigos que muralhas medievais não ajudavam a conter. Napoleão tomou Girona em dezembro daquele ano, mas a vitória durou pouco: em quatro anos os franceses deixaram a região.
Esse é só um capítulo da história dessa cidade da Espanha, que tem 96 mil habitantes e fica 90 quilômetros de Barcelona. Fundada por romanos, escolhida como moradia por judeus e conquistada por muçulmanos e por Napoleão: Girona tem muita história para contar. A cidade foi sitiada 25 vezes e capturada em sete ocasiões ao longo de seus mais de dois mil anos de vida.
Hoje, Girona é uma das mais importantes cidades turísticas da Catalunha. Apenas 1h30 de carro (e 30 minutos num trem de alta velocidade) são necessários para deixar Barcelona e alcançar Girona, distância que torna esse um dos bate e voltas mais comuns para quem viaja por essa parte da Europa. Se você estiver viajando em maio, aí Girona vira uma opção fantástica, já que a cidade recebe anualmente um festival de flores.
Por outro lado, passar algumas noites em Girona não é má ideia – eu tive essa oportunidade e gostei bastante. Além de aproveitar a noite da cidade, ao fazer de Girona sua base é possível conhecer melhor os lugares ao redor, como Figueres e o Theatro Museu Dalí e a Costa Brava.
Potencial turístico que tende a aumentar, já que Girona foi escolhida como um dos cenários da próxima temporada de Game of Thrones, que vai ao ar em 2016. Essa é sua oportunidade de conhecer uma cidade medieval, romana, judaica, muçulmana e que faz parte dos Sete Reinos. Tudo ao mesmo tempo.
O que fazer em Girona
Comecei meu passeio pelas margens do rio Onyar, o principal cartão-postal de Girona, que lembra bastante Florença, na Itália. Casinhas coloridas ajudam a construir o cenário – o mais incrível é que é possível se hospedar ali, já que algumas das Casas del Onyar são alugadas para turistas, como expliquei nesse texto aqui.
A rua paralela ao rio é a Rambla Llibertat, um centro comercial com bares, restaurantes, lojinhas e um calçadão simpático. Se você cruzar a ponte de Sant Agustí, estará na Plaça de la Independência, uma das mais importantes da cidade. Eu jantei ali, num dos muitos restaurantes que tomam conta do lugar. Essa praça foi construída no século 19, em estilo neoclássico, e seu nome é por conta daquelas guerras travadas contra Napoleão.
Nessa mesma região está a Basílica de Sant Feliu (7 euros), que fica às margens do rio Onyar e foi construída no século 14, em estilo gótico. Não entrei, mas parei para ver a Leoa de Girona, uma estátua que virou lenda urbana na cidade: dizem que se você beijar a bunda do bicho, garantirá o direito de voltar em Girona. A moda pegou e há até uma escadinha para facilitar a vida do turista-beijador-de-bundas.
Quer um beijo?
Em seguida nosso grupo seguiu para os Banhos Árabes (2 euros). Construída em plena Idade Média e inspirada nos famosos Banhos Romanos, essa construção está bem conservada e vale a visita, até mesmo por conta do preço baixo de entrada. Saiu do banho? Hora de seguir, cada vez mais, para o coração da antiga Girona medieval.
Grandiosa. Assim é a Catedral de Girona (7 euros), uma igreja de mil anos que funciona como o coração da cidade. E olha que esse local era usado para objetivos religiosos há bem mais tempo: ali existiu outro templo católico, que foi substituído por uma mesquita, que no ano de 908 foi reconsagrada como um templo cristão.
Suba os 86 degraus até a Catedral e faça questão de visitá-la por dentro, afinal ali está a segunda maior nave de um templo gótico do mundo.
A região ao redor da Catedral conserva os prédios históricos de Girona. É por ali que fica o Bairro Judeu, também chamado de “Call“, um dos mais bem conservados da Europa. Os judeus se mudaram em massa para Girona a partir do século 12, fazendo com que a cidade tivesse uma das maiores comunidades e escolas judaicas da Europa. No entanto, em 1492, os reis católicos expulsaram os judeus da Espanha. O bairro judeu guarda um pouco dessa história. É impressionante andar pelas ruelas e labirintos formadas por casas da Idade Média.
Outro templo importante da cidade é Sant Pere de Galligants y Sant Nicolau (4,5 euros). O tal do Sant Pere é um monastério beneditino do século 12, enquanto o Sant Nicolau é uma igreja.
A eficiente Muralha de Girona, capaz de deter o avanço de Napoleão por meses, não é mais a mesma. Assim como ocorreu em muitas das cidades medievais da Europa, partes das muralhas foram retiradas no século 19, para permitir o crescimento da cidade.
Girona mantém uma parte de seus muros, que hoje viraram atração turística. É possível percorrer o que sobrou das muralhas, passando por praças, áreas arborizadas e chegando em mirantes com vista para a parte velha e a parte nova de Girona. Eu fiz o passeio, começando por uma entrada ao lado da Catedral.
E já que é para falar de construções históricas, não deixe de ver o que restou da Força Vella, uma construção militar romana que foi a base de Girona por quase mil anos.
Girona também conta com museus, como o Museu de História Judaica, o de Cinema e o de História Catalã. Só entrei no primeiro deles e fiquei pouco tempo, mas você acha informações sobre os museus da cidade no site oficial do turismo de Girona.
Mas não se esqueça: o melhor programa de Girona é ao ar livre e de graça. Caminhe pelas ruas medievais, observe construções com séculos de história e imagine tudo que já ocorreu por ali. Depois, procure um restaurante (ou um bar) e termine seu dia bebendo. Como os romanos.
Como chegar em Girona
Eu fui de carro, numa viagem de 1h30 a partir de Barcelona, mas a forma mais fácil de chegar em Girona é de trem. Você pode fazer isso do jeito rápido – num trem de alta velocidade, que faz a viagem em pouco mais de 30 minutos – ou da forma mais lenta, no trem tradicional. Esta opção toma cerca de 1h30, mas, claro, é mais barata que o trem bala. Não importa a opção, os trens saem da estação Barcelona Sants.
*O blogueiro viajou a convite da TAM, por conta do voo inaugural para Barcelona, e da Agência de Turismo da Catalunha.
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Por: 360meridianos
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