– Ah Rafa, sei lá como eu faço isso. Mas um dos jeitos que uso para lidar com a distância é me afastando um pouco das pessoas.
– Você deveria fazer um post sobre isso! Respondeu ele, pela tela do computador.
Eu queria ser daquelas pessoas, como a Valéria, a amiga que dividia apartamento comigo em Coimbra, que quase diariamente tinha uma chamada no Skype com algum familiar ou amigo. Às vezes, sentia inveja dessa proximidade que ela mantinha com as pessoas que estavam longe. Mas, ao mesmo tempo, não eu não tinha a menor disciplina/paciência/motivação para fazer o mesmo.
Um dia, eu comentei isso com ela: que eu falava pouco com as minhas irmãs, na maioria das vezes por Whatsapp mesmo. Para minha mãe, pai e avós eu ligo uma vez por semana, nunca Skype, porque eles nem aprenderam a usar (agora tem essa chamada de vídeo do Whatsapp, uma benção).
Crédito: Shutterstock
Tenho amigas com quem converso mesmo, daqueles papos de falar tudo da vida, poucas vezes no ano. Se eu acho que sou ruim de manter contato pelas redes sociais, algumas delas são piores ainda. Mas a verdade é que, apesar de me esforçar para manter contato, para sempre responder as mensagens que chegam, eu dificilmente sou aquela pessoa que consegue manter uma relação virtual tão próxima quanto a pessoal. A não ser que a pessoa do outro lado seja muito boa nisso e esteja sempre me chamando – o próprio Rafa, por exemplo, disse que conversamos tanto que ele até esquece que eu moro em outro país! Mas quando não é o caso, como acontece com o meu avô, essa é a receita perfeita para conversas de telefone de menos de 3 minutos.
Ou, então, se eu marco Skype com alguém, me pego perguntando se vou ter assunto para falar com aquela pessoa. Uma pessoa que eu adoro e com quem gastaria horas no bar sem ficar entediada um minuto. “Será que eu tenho algum problema?” – Já me perguntei algumas vezes. “Por que será que eu às vezes me transformo numa pessoa meio fria e meio sem graça com a distância?”
E muitas vezes é difícil falar ou pensar nisso. Porque se você procurar sobre o tema do distanciamento na internet, a maioria das coisas (pelo menos a primeira página do Google) é só sobre namoro à distância. O que eu entendo que é um problema bem chato de resolver, mas a vida não é feita só de relacionamentos amorosos.
Eu cheguei a duas conclusões sobre esse tema:
A primeira, meio óbvia, é que eu não sou a única indivídua no mundo com dificuldade de manter proximidade à distância – e vocês podem comentar suas histórias para me deixar menos culpada. Às vezes, mesmo aquela pessoa que eu passo quase um ano sem falar, quando nos reencontramos é como se nunca tivesse passado tanto tempo, porque a familiaridade ainda existe. Além disso, é necessário o esforço de dois para que se mantenha uma amizade ou uma relação familiar. Se os dois lados são péssimos nisso, a culpa não pode ser só de quem foi para longe.
A segunda conclusão tem mais a ver com mecanismos de lidar com os problemas na vida. E o meu mecanismo, observei, é me distanciar para conseguir lidar com a distância. Eu tenho feito isso desde a primeira vez que me afastei da minha cidade natal, em 2008. Descobri que se eu mantenho o mesmo nível de contato que tinha quando estava no Brasil, não consigo viver as coisas que tenho que viver no outro país.
Foi só conversando com uma psicóloga intercultural que descobri esse meu método meio egoísta e de certa forma inconsciente de lidar com o fato de que não vivo perto da maioria das pessoas que eu amo. E que para me relacionar com as pessoas que vivem no país onde eu vivo, preciso me distanciar um pouco.
Eu também senti a sua falta
Deu um certo alívio entender que esse não é um mecanismo só meu, porque, hello sociologia!, muita gente que vai fazer intercâmbio, imigra ou vai trabalhar um tempo fora faz isso. Ao mesmo tempo que tem gente que não consegue de jeito nenhum desapegar do lugar onde nasceu e das pessoas e dos pequenos dramas e alegrias diários, também tem quem precise se afastar disso para não ficar sofrendo. E tem quem encontre um meio termo ou que provavelmente passe o tempo todo buscando isso, porque esse tal de equilíbrio, seja à distância, seja quando estamos próximos, é bem difícil.
O que vocês acham disso? Me contem aí como fazem para manter um bom relacionamento com todo mundo mesmo estando longe.
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