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Malhar não é para fracos – por isso não é pra mim

“Alô, Rafael? Estou ligando para dizer que um amigo te indicou para participar de uma promoção aqui na academia. É a campanha Saia do Sofá. Queremos que você venha malhar com a gente, tudo num preço camarada e… entendo. Sei. Entendo. Mas você não acha que… ok, você quer ficar no sofá então? haha. É que seu amigo disse que você teria interesse num plano anual, ele até usou a indicação para conseguir um desconto aqui. Ahh, ele é um piadista, entendi. Bom, se mudar de ideia, sabe onde vir”.

Desliguei o telefone, liguei a TV e passei a tomar cuidado no caminho para o supermercado – vai que sem querer erro a porta e entro na tal academia? Deus me livre. E o pior é que isso já aconteceu. Frequentei academias diversas vezes, em vários bairros e até cidades diferentes. Em geral funciona mais ou menos assim: eu sinto que estou engordando. Resolvo que a única saída é malhar. Como eu odeio malhar – com todas as forças que deveria usar para levantar pesos, daí minha falta de força para a tarefa -, resolvo que o melhor é comprar um plano anual. “Assim, além de economizar eu ganho em motivação, afinal não vou parar no primeiro mês e perder a grana toda”, penso. E me engano.

Na primeira semana vou direitinho, quatro vezes, porque mais que isso é sacanagem. Tudo igual na segunda semana, mas já começo a me incomodar com o papo de corredor – melhor lembrar de trazer fones de ouvido na próxima, pra garantir que a conversa não vai me alcançar. A única coisa pior do que malhar é ser pego num bate papo que dobre o tempo necessário para voltar ao sofá. E, sabe como é, conversa fiada não conta como abdominal.

malhar academia

Entro na terceira semana, que tem novidades: começo a não completar a lista de exercícios diários. “Professor, não vou fazer esse hoje porque tenho um compromisso” (com um novo seriado na Netflix, mas isso ele não precisa saber). No dia seguinte resolvo pular exercícios, não porque tenho algo para fazer, mas porque eles são chatos mesmo – o problema é que todos são. Aí é um efeito dominó: passo a ir três vezes por semana, mas completo os exercícios apenas uma vez. Na semana seguinte vou apenas duas vezes. Mas tá bom, né? Melhor que nada.

Mas o nada está logo ali. Trocam minha ficha de exercícios, o ponto decisivo para o abandono. Sem saber a sequência, sem vontade continuar e perigosamente alcançado pela conversa fiada – aqueles fones não protegem de tudo -, faço a única coisa que uma pessoa sensata poderia fazer. Sumo. Nessas horas trabalhar viajando tem suas vantagens. Digo que estarei fora, a trabalho, por algumas semanas, mas que volto, claro, não vou desistir.

Apareço três semanas depois, quando as mensagens do professor começam a me incomodar. Mas a recaída dura pouco, só 43 minutos e um número limitado de abdominais – não tem conta mais mentirosa que de sedentário por opção que tenta malhar. Vou pra casa já aceitando o óbvio: não vou voltar lá tão cedo. Ignoro as mensagens, começo a fazer um percurso mais longo para ir ao supermercado, evitando a academia. Não é que de alguma forma estou fazendo mais exercício? Até que pagar o plano anual valeu a pena, já que aumentou meu percurso diário em oito quadras, tudo para evitar de encontrar alguém que tente me tirar do sofá.

malhar academia

Um dia tomo vergonha na cara, mas não pelo sedentarismo. O problema é a mensalidade da academia, que não para de chegar. Resolvo recomeçar, mas dessa vez irei no modo light, que é justamente para não desistir de cara. Vou toda vez que der vontade. Se for duas vezes por semana, tudo bem, está ótimo. Essa semana não deu? Beleza, vou uma vez só e já está valendo.

Levo as coisas desse jeito por meses, jurando para amigos que eu malho sim, claro. Vou toda semana. Até que um dia chego para malhar e pergunto pelo professor. “Ele não trabalha mais aqui”, dizem. Uê, mas ele estava aqui outro dia, me ajudou no último exercício que fiz e tal. Como assim tem um mês e meio que ele saiu? Vai me falar que essas bandeirinhas de festa junina não foram colocadas semana passada?

Estão lá há 40 dias – até porque junho já passou, julho também e agosto começa a engatinhar. Quer saber, melhor cancelar essa porra. Pronto, agora posso voltar para o sofá. Não tem nada pior que ter que malhar de três em três semanas.

Eu sei que não sou o único. Uma amiga, esse tipo de gente que jura que malha sim, pelo menos duas vezes por semana, uma vez chegou na academia de todos os dias e descobriu que eles tinham mudado de endereço. Há mais de um mês. Sorte dela, que não precisou mudar o caminho até o supermercado.

*Foto destacada: Shutterstock

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Por: 360meridianos

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