Já faz quase um ano e meio que eu escrevi aqui no blog sobre menstruação e viagens pela primeira vez e agora cá estou eu novamente para compartilhar com vocês a minha experiência com o copinho coletor menstrual e porque eu acho que essa é a melhor solução para mulheres que menstruam e viajam. Tem até vários outros relatos sobre isso na internet, mas como eu ainda assim vejo muitas meninas na dúvida ou mesmo rejeitando o copinho sem nem ter testado, resolvi contribuir também.
Obs.: Se você já usa e ama seu copinho, mas só quer dicas de como lidar com ele durante uma viagem, pode pular direto para o tópico quatro.
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Minha primeira experiência com o coletor já foi numa viagem complicada. Eu estava num hostel e tinha que dirigir sozinha de uma cidade para outra para fazer entrevistas do mestrado. Ou seja, teria que lidar com a dificuldade de estar num banheiro que não era privativo e também o medo do negócio vazar comigo dentro do carro, sozinha, numa estrada no meio do nada.
Isso foi em abril de 2016. Desde então já viajei com o meu copinho para diversos lugares e com situações variadas de troca. E garanto, nunca mais abandonarei. Há menos de duas semanas, por conta de uma série de fatores, tive que usar absorvente comum durante a menstruação. E sério gente: que pavor! Depois que eu descobri que a minha menstruação não era mais sinônimo de me sentir suja, molhada, coceira, não existe qualquer justificativa para não adotar o coletor menstrual para a vida.
1. Mas não incomoda ou dói?
Essa é a principal pergunta. Na noite de reveillon, por exemplo, passei quase uma hora conversando sobre isso como uma amiga. Não, não dói. Nem incomoda. Você nem sente o negócio lá dentro e se sentir, é porque está mal posicionado. A única coisa que pode ser que incomode é o cabinho do coletor – que muitas meninas acabam cortando. Tenho uma outra amiga que odeia absorvente interno porque ela sente o negócio escorregando do corpo dela. Não acontece isso com o coletor menstrual porque ele cria um vácuo e fica lá paradinho. Não dá para sentir, seja na praia, na trilha, no avião por horas ou dirigindo.
Lembrem-se que tem coisas maiores que o coletor menstrual que cabem no seu canal vaginal. Realmente, não dá para sentir e às vezes eu até tenho que colocar um alarme para me lembrar de tirá-lo de lá.
2. Não vaza?
Só vaza se você não souber colocar direito. Eu demorei uns três ciclos para aprender. Porque às vezes eu acertava e as vezes eu errava e não conseguia descobrir porque diabos. Depois de passar algumas raivas, fui atrás de vídeos no youtube e descobri um fantástico mundo de informações sobre meu colo do útero, músculos da vagina e diferentes formas de dobrar o copinho. Eu, com meus 28 anos nas costas, estava lá assistindo o vídeo de uma menina de 15 anos (juro) explicando coisas que eu nem sabia sobre meu próprio corpo.
Aliás, uma das coisas que eu descobri com o coletor menstrual é que ficar menstruada não é essa coisa horrível que me deixava suja e incomodada. Entender o real volume do meu ciclo (é bem menor do que eu pensava), que não tem cheiro estranho, até as cores ao longo do processo. Sério, é muito interessante. Hoje em dia eu nem ligo mais de ficar menstruada. E antes, para viajar, era toda aquela tensão de como evitar.
Dicas de informações: sobre diferentes dobras, sobre como facilitar para colocar, sobre o que fazer se o copo não abrir para formar o vácuo.
3. Não é sujo ou anti-higiênico?
Muita gente fica pensando: eca, mas eu vou ficar colocando o mesmo copo sempre em mim? Ou pior, mas eu tenho que colocar o dedo lá dentro? Ou sei lá qual nojinho cada pessoa tem.
Não, o coletor menstrual não é sujo, nem anti-higiênico. Ele é feito com silicone hipoalérgico e antibacteriano, um material que impede a formação de bactérias – ou seja, ao contrário do absorvente interno, não há risco daquela doença bizarra chamada Síndrome do Choque Tóxico. E também, ao contrário do absorvente comum, não abafa a vagina e impede a transpiração normal do corpo.
Você pode ficar no máximo 12 horas com o coletor e nesse período o sangue que fica ali armazenado está no vácuo, sem contato com o ar. O que quer dizer que nenhuma daquelas bactérias que em contato com o sangue fazem ele começar a “apodrecer” vão ter nenhuma ação. Por isso que não fica aquele cheiro meio estranho quando a gente usa o copinho.
Claro, ele pode causar alguma infecção, tal como os absorventes, se você manusear com a mão suja ou limpar com uma água contaminada. Mas fora isso, é um dos métodos mais seguros e práticos que existe. E ainda tem o bônus de ser ecologicamente correto (menos lixo produzido) e a economia de não ter que comprar sei lá mais quantos absorventes por ano – o copinho dura de 5 a 10 anos.
4. Dicas de como trocar o coleto menstrual numa viagem
Então vamos lá, no parágrafo anterior eu disse que a questão da limpeza do coletor pode ser um problema, principalmente para quem está viajando. Para quem não sabe, enquanto estamos menstruadas não é necessário esterilizar o coletor a cada uso. Basta jogar fora o sangue acumulado e limpar com água limpa.
A média de trocas para quem tem fluxo regular é de 12 em 12 horas. Mas pessoas com fluxo intenso – como eu – vão precisar trocar mais vezes. Nos dois primeiros dias, eu preciso trocar a cada 5 horas, mais ou menos.
Tem muita gente que troca somente durante o banho. Definitivamente não é o meu caso. Já troquei no banho. Já troquei no banheiro normalmente, na minha casa, no hotel, num Airbnb, num Couchsurfing… O problema mesmo começa quando: a) O vaso sanitário e a pia são em lugares diferentes; b) Não tem água no banheiro ou a água é de qualidade duvidosa e c) Não tem nenhum banheiro disponível (exemplo, numa trilha ou acampamento).
Então, vamos às soluções:
a. O vaso sanitário e a pia são em lugares diferentes
A primeira é um caso bem comum, não só num hostel, mas também se você estiver sei lá, num restaurante, bar ou shopping, e precisar trocar. Já aconteceu comigo mais de uma vez. Nesse caso, a técnica que melhor funcionou foi a seguinte: lavei minha mão antes de entrar no banheiro. Uma vez na “casinha” separo já um pouco de papel higiênico numa mão enquanto uso a outra para retirar o copinho com cuidado e despejar o conteúdo no vaso. Uso o papel já separado para limpar o resto de sangue no coletor. Depois limpo a minha mão com mais papel e saio do banheiro, lavo a mão normal e pronto. Na próxima troca, com mais facilidade, limpo com água mesmo.
Caso você esteja viajando para um lugar que não costuma ter papel higiênico, leve sempre com você lenços de papel (sem ser umedecidos, porque eles podem irritar sua vagina).
b. Não tem água no banheiro ou a água é de qualidade duvidosa
Além da opção dada acima, sobre o papel higiênico, você pode ter sempre uma garrafinha de água mineral. É super prático, relativamente barato e não vai precisar de muita água. Só o suficiente para retirar o excesso de sangue mesmo.
c. Não tem nenhum banheiro disponível (exemplo, numa trilha ou acampamento)
Bom, eu nunca passei por isso. Mas essa seria uma junção dos dois métodos acima. Você vai precisar de um rolo de papel higiênico ou lenços de papel e uma garrafa d’água. Despeje o conteúdo do coletor no mesmo lugar que sei lá, você despejaria suas necessidades fisiológicas e depois limpe tal como explicado acima. Não se esqueça claro, de sempre lavar bem a mão antes de manusear o coletor.
5. Dicas de como higienizar o coletor menstrual após o uso numa viagem
Essa para mim é a parte mais complicada, apesar de não ser nenhum grande drama. É que após o ciclos é preciso uma limpeza mais efetiva, para esterilizar o coletor menstrual. Para isso, a recomendação é que você ferva o copinho com água, tanto numa panela própria para isso, quanto no microondas. Quando estamos em casa, é um processo bem simples: separe um recipiente de vidro específico para isso e leve ao microondas por uns 3 a 5 minutos (dependendo da potência do seu) ou compre uma panela esmaltada e deixe o copinho na água fervente por 5 minutos – cuidado para não esquecer lá para sempre e o negócio derreter.
Mas e numa viagem? Dá para levar na bagagem uma panelinha específica pequena, tipo daquelas canecas esmaltadas ou um recipiente de vidro ou plástico mais resistente, próprio para microondas. O problema é: nem todo lugar por aí vai ter um fogão ou microondas disponível para você. Ou nem sempre vai dar para levar um pacote extra na bagagem.
Eu encontrei uma terceira solução na internet, obviamente. Trata-se de um copo retrátil, também de silicone. Você enche ele com água e o seu coletor e tampa. Daí pode tanto colocar o copo no microondas, como numa panelinha qualquer – sem ser aquela que foi separada para esse fim, já que o copo externo vai impedir que o coletor entre em contato direto com o material da panela e ainda assim vai ser esterilizado, como se estivesse em banho maria.
6. Onde comprar?
Eu comprei o meu copinho numa loja natureba em Portugal por €18. Aqui no Brasil, você acha em vários sites e algumas farmácias, os valores variam entre 40 a 100 reais.
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