“No curso natural dos acontecimentos, muitos homens e mulheres nascem com talentos notáveis, mas, ocasionalmente, de uma maneira que transcende a natureza, uma única pessoa é maravilhosamente dotada pelo céu com a beleza, graça e talento em abundância tal que ele deixa os outros homens para trás, todas as suas ações parecem inspiradas e, na verdade tudo o que faz claramente vem de Deus e não da habilidade humana. Todos reconhecem que isso era verdade em Leonardo da Vinci, um artista de beleza física excepcional, que mostrou infinita graça em tudo que ele fez e que cultivou seu gênio tão brilhante que todos os problemas que estudou, ele resolveu facilmente.”
Giorgio Vasari, em Vida dos Artistas (1568)
Dificilmente vai existir na história da humanidade uma figura considerada tão unanimemente genial como Leonardo da Vinci. Ele não é apenas o pintor da Monalisa e outros 15 a 20 quadros fascinantes (alguns desses tem a autoria disputada). Ele era um desenhista que encheu mais de 2 mil páginas de cadernos com suas ideias. Era engenheiro, projetando desde pontes e canais a tanques de guerra. Na lista de suas atribuições, também é considerado: cientista, matemático, inventor, anatomista, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico.
Pouca gente sabe é que com uma mente tão movimentada e criativa, Da Vinci, ao mesmo tempo que é considerado hoje o inventor de ideias como o paraquedas ou que teria dissecado mais de 20 cadáveres para estudar sua anatomia e desenhar o famosos Homem Vitruviano, também costumava, com bastante frequência, deixar obras inacabadas, da pintura a escultura.
Ele também escrevia suas anotações da direita para a esquerda, pois era canhoto e provavelmente queria evitar sujar sua mão. Ou que, apesar de tanta admiração durante a vida e póstuma, uma frase atribuída a ele diz:
“Ofendi a Deus e aos homens porque meu trabalho não atingiu a qualidade que deveria ter tido.”
Foi financiado pelas famílias mais poderosas de sua época. Os Médici e os Bórgias, em Florença, os Sforza em Milão, e pelo menos dois reis da França. Inclusive, muitos dos seus contratos tinham menos a ver com seu talento detalhista para a pintura e mais a ver com sua engenhosidade para a arquitetura e projetos militares. Dividiu sua vida principalmente entre as duas primeiras cidades italianas, mas também esteve um tempo em Roma, Veneza e Bolonha e morreu em Amboise, na França.
Ele nasceu em Anchiano, na comuna de Vinci, filho ilegítimo de um funcionário do governo. Seu talento para o desenho e a pintura apareceu desde que era criança garantiu que com 20 anos conseguisse ingressar como aprendiz na oficina de Verrocchio, em Florença.
Mas afinal, o que torna os quadros de Da Vinci tão especiais?
No início do ano, em Liverpool, tive a chance de visitar a exposição “Leonardo da Vince: a Life in Drawing” (Uma Vida em Desenho), com a coleção de desenhos de Da Vinci que são de propriedade da família real inglesa, através da Royal Collection Trust. A exposição foi itinerante pelo Reino Unido e atualmente é possível vê-la em Londres, no Palácio de Buckinham, até outubro/2019. Saiba mais!
A coroa britânica guarda mais de 500 desenhos de Leonardo em sua coleção desde o século 17 e cerca de 200 dessas peças foram apresentadas. Isso é bastante interessante porque é através dos desenhos de Da Vinci que conseguimos entender sobre a genialidade de seu trabalho. Você encontra estudos detalhados sobre a anatomia humana e de animais. Sobre como a luz refletia no rosto humano. Estudos sobre perspectiva e geometria. Todos esses estudos científicos eram depois aplicado depois em suas pinturas.
“Como o corpo humano era a principal tema do artista renascentista, Leonardo desejava encontrar a conexão entre as emoções individuais, expressão e pose, para que ele pudesse pintar a figura mais convincentemente”, explica o programa.
5 lugares para ver as principais obras de Leonardo da Vinci
Há trabalhos de Leonardo da Vinci espalhados pelo mundo todo, especialmente na Europa, em museus, bibliotecas e coleções privadas. Porém, existem cinco cidades no mundo que concentram a maior parte da produção do artista, e que, caso você tenha a chance de visitá-las, pode e deve dar uma atenção especial.
Foi anunciada para outubro, em São Paulo, a exposição imersiva e multimídia, Leonardo da Vinci – 500 anos, que será realizada no novo braço do Museu da Imagem e do Som, o MIS Imersão (inspirado no Atelier des Lumière em Paris) no bairro Água Branca.
Paris
Como Leonardo passou o final de sua vida na França, levou consigo parte de suas obras para o país, e foi assim que a Monalisa se tornou a principal atração do Museu do Louvre.
O quadro não é a única obra de Da Vinci no museu. Na verdade, o Louvre guarda a maior coleção de pinturas do artista e também alguns desenhos. Entre eles, “Virgem nas Rochas” (foto abaixo), “La Belle Ferronnière” e “São João Batista”. Além disso, está lá o quadro “A Viagem e o Menino com Santa Ana”, um projeto que ocupou Leonardo nos últimos dois anos de sua vida. Foi feito a pedido do rei francês Luis XII e após, três composições, foi finalizado em 1517.
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Florença
Como Leonardo nasceu nos arredores de Florença e viveu ali seus anos formativos, além de ser muito próximo das famílias mais importantes da cidade, não é atoa que o principal museu de Florença, a Galeria degli Ufizzi guarda alguns dos trabalhos mais antigos, os primeiros que o Leonardo pintou. No caso, a Anunciação (1472 – 1475) e a Adoração dos Magos (1480) – um quadro que não foi terminado, porque Leonardo foi para Milão: o museu tem uma sala completa com explicações e estudos sobre a obra interminada.
Ele também deixou inacabado um enorme mural que cobriria uma das paredes do Salão dos Quinhentos, no Palazzo Vecchio. A pintura que ele começou a produzir foi coberta por outra e nunca mais foi vista.
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Londres
Os diversos museus de Londres guardam várias obras de Da Vinci, principalmente seus manuscritos. Tais rascunhos e estudos, são reunidos em diferentes grupos, chamados “Codex” e podem ser encontrados em vários museus pelo mundo. Já mencionei a coleção da rainha, da Royal Trust Collection. Lá, você encontra, por exemplo, mapas que Leonardo desenhou em 1502, encomendados por Cesare Borgia, filho do Popa Alexandre VI, na função de arquiteto militar.
Além disso, na Biblioteca Britânica, cuja entrada é gratuita, você encontra o Codex Arundel, com mais de 250 manuscritos, datados de 1480 a 1518. Além disso, a Biblioteca Britânica também catalogou esses manuscritos online, assim como o Codex Leicester (que hoje está em posse de Bill Gates). Já o Codex Foster está no Victoria and Albert Museum. Nesses arquivos, há vários estudos de anatomia, que começaram a interessar Leonardo por volta de 1490, mas somente cerca de 30 anos depois é que ele passou, graças a alguns médicos, a ter acesso a cadáveres e relatou isso nos manuscritos.
Na National Galery você encontra uma segunda versão da Virgem nas Rochas e um rascunho em giz de A Virgem, o Menino, Sant’Ana e São João Batista.
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Milão
Leonardo da Vinci viveu muitos anos em Milão então como era de se esperar, você vai encontrar muitas de suas obras na cidade. Minha favorita é a Sala delle Asse, no Castelo Sforzesco. O salão é repleto de afrescos de árvores, frutas e rochas, pntadas com uma técnica que gera ilusão de ótica (chamada Tromp L’oeil), a fim de parecer que você está numa floresta e não num castelo. Saiba como é a visita ao Castelo!
Mas obviamente, é impossível falar de Milão e Leonardo sem lembrar d’A Última Ceia. O mural foi pintado no Convento de Santa Maria delle Grazie por volta de 1498. O trabalho é considerado uma obra prima por mostrar as emoções em cada um dos discípulos de Jesus. Descubra como visitar a Última Ceia e como comprar o ingresso disputado.
Por fim, na Pinacoteca Ambrosiana, além de um quadro não finalizado com o retrato de um músico, guarda o maior conjunto de manuscritos do artista, o Codex Atlanticus, que tem mais de mil páginas! Os rascunhos contam com diversos temas: voo, armas, instrumentos musicais, botânica e matemática.
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Veneza
É na Galeria da Academia, em Veneza, que você encontra o desenho mais famoso de Da Vinci, o Homem Vitruviano. O desenho foi feito por volta de 1490, como parte dos estudos de anatomia de Leonardo sobre as proporções humanas. É importante dizer o desenho, que é basicamente tinta no papel, não fica exposto ao público o ano inteiro, somente em exibições especiais.
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