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Wall Street se recusa a aceitar apagão de dados da Venezuela

Wall Street: Venezuela é um país que deixou de divulgar até mesmo os dados econômicos mais básicos (Steven Brahms/ Bloomberg News)

(SÃO PAULO) - Os investidores em bonds suspeitam que o governo venezuelano está com o caixa quase vazio. Mas a que ponto? Essa é uma pergunta complicada.

Afinal de contas, a Venezuela é um país que deixou de divulgar até mesmo os dados econômicos mais básicos -- coisas como inflação e gastos do governo -- com regularidade.

Considerando o tamanho das apostas, e com muitos investidores se preparando para o calote iminente, analistas de Wall Street se esforçam para preencher a lacuna. Empresas como Bank of America Corp. e Barclays Plc criaram suas próprias séries estatísticas para tentar ajudar os investidores a entender o tamanho da restrição de caixa do país. É um exercício desafiador, disseram eles.

“Nós tivemos que construir essa série com base em tudo o que você possa imaginar”, disse Francisco Rodríguez, um venezuelano que cobre o país para o Bank of America, por telefone, de Nova York. “Eu me sinto um detetive particular. Você tem que tentar encontrar os dados. A polícia pelo menos tem poder para reunir provas -- eu não tenho”.

Embora a ausência de dados -- ou a falta de dados confiáveis -- complique a vida dos investidores há anos em países como Argentina e Grécia, o vácuo na Venezuela se tornou especialmente problemático porque a queda de 50 por cento nos preços do petróleo, de junho para cá, está estrangulando a fonte de quase todas as receitas em dólares do país.

Jogo de adivinhação

Com cerca de US$ 10 bilhões em pagamentos de bonds com vencimento em fevereiro do ano que vem, os traders de derivativos apostam que a probabilidade de o país ficar sem dinheiro para pagar dívidas no ano que vem é de quase 50 por cento -- a mais alta do mundo depois da Ucrânia e da Grécia.

O Ministério da Informação da Venezuela não respondeu a um pedido de comentário enviado por e-mail a respeito da confiabilidade dos dados.

Embora as autoridades do Fundo Monetário Internacional digam que não há grandes problemas nos dados da Venezuela, os analistas de bonds afirmam que a situação ficou claramente pior de dezembro de 2013 para cá. Foi quando o governo do presidente Nicolás Maduro, que havia ocupado o lugar do falecido Hugo Chávez seis meses antes, começou a atrasar a divulgação das estatísticas de inflação, segundo o economista Armando Armenta, do Deutsche Bank AG.

A Venezuela reportou dados sobre o custo de vida no país pela última vez há quase cinco meses, quando informou que os preços ao consumidor haviam subido 68,5 por cento em relação ao ano anterior. Esta é, de longe, a maior taxa de inflação do mundo.

Substitutos criativos

Alejandro Grisanti, economista do Barclays, diz que agora observa a receita tributária da Venezuela para obter uma estimativa de inflação. Com base em um aumento reportado na arrecadação de impostos no primeiro trimestre, de mais de 120 por cento -- em um momento em que a economia na verdade encolheu --, ele projeta que a inflação tenha superado os 100 por cento.

Enquanto Chávez esteve no poder, “sempre houve atrasos e talvez o nível de detalhamento e a qualidade dos dados fossem baixos”, disse Grisanti, por telefone, de Nova York. “Agora, parece que o presidente Maduro optou por uma política estatal de não publicar dados”.

Para Robert Rennhack, vice-diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, os dados econômicos da Venezuela “não são um problema”. O FMI censurou a Argentina em 2013 por informar dados inexatos de estatísticas como, por exemplo, da inflação

“Eles fornecem dados em uma base suficientemente razoável”, disse ele a repórteres em Washington no dia 17 de abril.

Isso não é suficiente para confortar os detentores de bonds em um momento em que as reservas estrangeiras da Venezuela não chegam a cobrir os quase US$ 30 bilhões em pagamentos de dívidas do país com vencimento até 2017. Apenas 15 por cento das reservas do país eram realmente mantidas em dinheiro no fim de março, segundo o Bank of America.

“A disponibilidade de informações macro e financeiras com regularidade de tempo é essencial para saber onde colocar seu dinheiro”, disse Fernando Losada, economista da AllianceBernstein, por e-mail.


Por: InfoMoney : Bloomberg

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