Joaquim Levy: para editores da Bloomberg, presidente Dilma deveria deixar o ministro agir livremente
(SÃO PAULO) – Mais de um milhão de manifestantes nas ruas e uma taxa de aprovação de 13% tendem a atormentar a mente de um político. A presidente Dilma Rousseff propôs uma legislação anti-corrupção para ajudar a conter os danos de uma investigação a respeito de propinas e subornos, mas uma resposta melhor seria simplesmente sair do caminho do ministro da Fazenda Joaquim Levy.
Isso porque o desafio central de Dilma não é simplesmente o escândalo da Petrobras, que envolveu políticos e executivos da companhia. Também é restaurar a confiança pública em sua habilidade para gerenciar o orçamento e a economia do país.
A economia brasileira deve encolher cerca de 0,8% esse ano. A inflação é a mais alta em mais de uma década. Espera-se que o desemprego atinja uma alta de quatro anos nesse anoA queda dos preços do petróleo, enquanto isso, cortaram a receita do governo, as promessas eleitorais aumentaram o déficit fiscal, e a dívida pública cresceu acima de 60% do PIB.
Mesmo antes do desenrolar do escândalo da Petrobras, Dilma enfrentava problemas políticos. Reeleita por uma pequena diferença de 3%, sua coligação na câmara dos deputados está cada vez mais turbulenta. Argumentar por medidas de austeridade em um ambiente tão hostil não seria fácil para nenhum líder – especialmente quando essas medidas fogem de promessas eleitorais e alienam apoiadores.
É aí que entra Levy. Antes economista do Fundo Monetário Internacional, com um PhD. Da Universidade de Chicago, ele herdou o apelido “mãos de tesoura” por suas medidas de cortes de custo. Em um esforço para restaurar a confiança do investidor e impedir que agências de classificação rebaixem o país, ele propôs um misto de aumento de impostos e cortes de orçamento. Isso ajudou para que as políticas monetária e fiscal do país agora estejam em sincronia, com o Banco Central aumentando seu índice de referência a 12,5% para combater a inflação. E muitas das medidas propostas por Levy podem ocorrer sem a aprovação do Congresso.
Ainda assim, não é como se Dilma tivesse abandonado suas medidas de sempre, ou como se os legisladores brasileiros tenham desistido de gastar. Um voto iminente ameaça prolongar um ajuste nas políticas de salários mínimos para suas já generosas pensões, um prêmio que poderia prejudicar planos de Levy para construir um superávit.
Dilma precisa apoiar Levy até o fim. Ela poderia também tomar a iniciativa por si. Por exemplo, sua administração poderia fazer contratos para construir e manter portos, pontes e estradas mais atrativas para investidores privados – uma forma de vencer a falta de fundos e melhorar as estradas, que já foram consideradas piores do que as de Bangladesh. E isso poderia diminuir tarifas e expandir a cooperação comercial e econômica com a União Europeia e os EUA – como Levy disse recentemente que faria em uma reunião dom oficiais dos EUA.
Liderados por um boom em commodities, os sete anos de fartura do Brasil terminaram em uma nuvem negra de corrupção e venalidade. Melhores leis e sua aplicação podem ajudar a tornar menos provável outro escândalo semelhante ao da Petrobras. Políticas fiscais mais disciplinadas podem garantir que as repercussões do escândalo na economia não apaguem os ganhos que o país teve na última década.
Por: InfoMoney : Bloomberg
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