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Por que a queda dos lucros do banco central é um bom sinal para a Argentina?

Argentina: Banco Central da Argentina está prestes a registrar seus menores lucros em pelo menos uma década neste ano (Diego Giudice)



(Bloomberg) – O Banco Central da Argentina está prestes a registrar seus menores lucros em pelo menos uma década neste ano. E isso, curiosamente, poderia ser bom.


Esta é a razão: o declínio dos lucros sinaliza que os banqueiros centrais estão adotando uma tática mais enérgica no intuito de conterem uma taxa de inflação que é uma das mais altas do mundo há anos. Eles estão emitindo mais dívida no curto prazo e vendendo-a com taxas de juros que quase dobram os níveis vigentes há dois anos, a fim de drenarem parte do excesso de dinheiro na economia que vem alimentando a inflação. Essas vendas estão aumentando os pagamentos de juros que o banco tem que fazer, o que reduz os lucros.


Embora em uma situação ideal, o Banco Central da Argentina poderia reduzir a oferta de dinheiro com a venda de ativos da sua carteira de crédito – como faria a Reserva Federal dos EUA, por exemplo –, o fato de a instituição estar aumentando as vendas dos seus próprios instrumentos de dívida para cumprir essa meta é encorajador, segundo Walter Molano, diretor de pesquisa da BCP Securities LLC.


“É custoso no curto prazo, mas benéfico para o país e para a economia”, disse ele em entrevista por telefone.


A campanha foi iniciada há um ano pelo então presidente do banco central, Juan Carlos Fábrega, quando a inflação estava em 37 por cento, e ele aumentou as taxas das notas de referência do banco em pesos argentinos a três meses para até 28,9 por cento. Depois da demissão de Fábrega após apenas 11 meses no cargo, seu sucessor, Alejandro Vanoli, continuou com a política, sem deixar nunca que as taxas caíssem para menos de 25 por cento.


Leilões semanais


Essa dívida mais cara custará ao banco central 83,9 bilhões de pesos (US$ 957,5 milhões) em pagamentos de juros neste ano, quase o dobro do somatório em 2014, segundo a empresa de pesquisa de Buenos Aires Estudio Bein. Os lucros do banco cairão de 95,6 bilhões de pesos em 2014 para 7,6 bilhões neste ano.


Não obstante, a política econômica rendeu frutos.


No que vai deste ano, o banco central utilizou seus leilões semanais de notas para drenar a cifra recorde de 41 bilhões de pesos da economia.


A medida ajudou a desacelerar a inflação anual para 35 por cento, segundo um índice com base em estimativas de economistas particulares publicado por legisladores opositores.


A medida também ajudou a limitar a desvalorização do peso para 3,4 por cento neste ano, a menor taxa entre as moedas latino-americanas. Em comparação, o peso já tinha despencado 17 por cento no mesmo período de 2014. O banco central regula atentamente o mercado e influi na taxa de câmbio comprando e vendendo dólares todos os dias.


Mercado negro


No mercado ilegal, onde os argentinos barrados do mercado oficial compram moeda estrangeira, o peso se valorizou 20 por cento desde setembro, para 12,8 pesos por dólar.


Para Siobhan Morden, da Jefferies Group LLC, as medidas têm que ser acompanhadas de reduções de gastos, porque os lucros menores privarão o governo de receita no momento em que enfrenta o maior déficit já registrado.


O governo, isolado dos mercados internacionais de dívida depois de dar calote no ano passado, depende do banco central para se financiar. A instituição transfere seus lucros ao Tesouro, lhe adianta dinheiro e ajuda a pagar aos credores internacionais com reservas em moeda estrangeira.


O banco central registra lucros anuais desde pelo menos 2002, segundo Estudio Bein.


A queda da taxa de inflação e a desvalorização mais lenta do peso também contribuíram para sufocar a fuga de capital, ajudando as reservas a crescer 18 por cento em relação ao seu valor mais baixo em oito anos, alcançado em abril, para US$ 31,4 bilhões.


“São bons primeiros passos”, disse Molano da BCP.





Por: InfoMoney : Bloomberg

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