(SÃO PAULO) – Como único fabricante e exportador de chocolate refinado, Claudio Corallo é uma celebridade relutante.
Suas iguarias são vendidas a US$ 26,50 por caixa de 160 gramas em Palo Alto, Califórnia, em uma loja a poucos passos de uma da Louis Vuitton que vende bolsas desde US$ 1.200. Mas ele evita as exibições comerciais, rótulos e embalagens ostentosas e insiste em se chamar de agrônomo.
“Eu não sou fabricante de chocolate”, disse Corallo, 63, que veste jeans descoloridos cortados à altura do joelho e tem um canivete minúsculo pendurado em uma corda no seu cinto. “O fato de eu fabricar chocolate é totalmente acidental”.
Corallo, nascido em Florença, Itália, cultiva cacau e o transforma em barras de alta qualidade em um pequeno país da África Ocidental chamado São Tomé e Príncipe, um arquipélago que era o maior produtor de cacau do mundo em 1908. Muito poucas empresas controlam o processo inteiro de produção no mundo, da colheita até o produto final, e quase todas as que fazem isto têm sede na América do Sul. Corallo é único no continente que produz 73 por cento da oferta mundial de grãos de cacau, mas quase nada de chocolate.
“Na África Ocidental, o cacau é puro negócio, com o envolvimento de grandes empresas como a Nestlé e a Mondelez, que se focam no rendimento e no volume em vez da qualidade”, disse Lee McCoy, economista e fundador da Chocolatiers, uma loja on-line que vende chocolate de qualidade prêmium no Reino Unido, em entrevista por telefone de Londres. “Claudio Corallo é uma exceção; ele faz isso por amor ao produto”.
Processo de produção
Corallo cultiva cacau em uma plantação de 120 hectares em Príncipe e fecha hermeticamente os grãos em camadas de polietileno antes de carregar os sacos em um bote que demora seis horas em chegar até São Tomé.
Lá, em um laboratório com chão de teca que ele construiu com contêineres de transporte marítimo, com a vista de um bulevar decadente desde as janelas, ele fabrica o chocolate que leva seu nome. Corallo desenvolveu muitos sabores, de barras de cacau puro até chocolate com pimenta e sal.
Corallo também oferece degustações semanais aos poucos turistas que chegam à remota ex-colônia portuguesa que atualmente tem resorts de férias de luxo e fica a uns 300 quilômetros do litoral da África Central.
Fuga do Congo
Corallo chegou à África em 1974 como ex-mergulhador profissional formado em Agronomia Tropical. Ele se dedicou à cafeicultura na atual República Democrática do Congo. Ele ainda chama o país de Zaire, e com frequência olha fotos antigas no seu laptop para relembrar a plantação de café de 1.200 hectares que ele administrava em uma região tão remota que só era acessível indo em bote por um rio.
Então, em 1997, rebeldes invadiram o país e derrubaram o líder Mobutu Sese Seko. Corallo foi obrigado a fugir e abandonar seus funcionários e a plantação.
Quando ele chegou a Príncipe em 1998, procurando reconstruir sua vida, ele decidiu cultivar cacau com a mesma dedicação que os produtores de azeite de oliva na sua Itália natal aplicavam a seu ofício. Com uma população de 4.000 pessoas e dois carros na ilha, não havia muito que pudesse distraí-lo.
Corallo despreza os métodos de fabricação industrial de chocolate, que implicam extrair manteiga de cacau e cacau em pó e acrescentam baunilha, leite ou azeite de dendê. Os anos que ele passou desenvolvendo um processo único – e secreto – de fabricação de chocolate renderam frutos. O chocolate de Corallo é “muito popular” entre os mais exigentes devido ao seu sabor sem aditivos, disse McCoy da Chocolatiers. “É chocolate de verdade, bastante áspero, não o típico negócio cremoso”, disse ele.
O fato de o chocolate de Corallo cumprir todos os quesitos da moda gourmet ajuda. É orgânico e artesanal. No entanto, Corallo se recusa a classificar seu chocolate como orgânico, e ele acredita que pagar por certificações seja um desperdício de dinheiro.
“Vender produtos como biológicos, como certificados – é cultivar a idiotice”, disse Corallo. “O biológico não é uma qualidade por si só. Trata-se de um negócio”.
Por: InfoMoney : Bloomberg
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