O tortuoso caminho de Wilson Fisk.
Sem dar qualquer sinal de folga, Demolidor continua o ótimo trabalho de desenvolver seus dois nomes mais fortes, Matt Murdock e Wilson Fisk. Dessa vez o holofote ficou com o homem que pretende salvar a Cozinha do Inferno, custe o que custar. Aquele que não irá medir esforços até que o seu melhor futuro seja atingido. Se existiam dúvidas quanto a posição de Fisk dentro da série e para muitos, que (inexplicavelmente) ainda o tacham como um personagem desprezível para a série, fica o melhor episódio de origem de um vilão que eu já assisti em muito tempo.
O trabalho de Vicent D’Onofrio no papel de Wilson Fisk me convenceu muito. O tipo diferente de abordagem em cima de um vilão clássico dos quadrinhos me animou bastante. De certa forma conseguiu trazer para o mundo real tudo aquilo que o Rei do Crime nunca teve espaço para ser, nos quadrinhos. Mais humano, com problemas relacionáveis e sem a aura de ditador, Fisk conseguiu em Shadows in the Glass expor toda a sua vulnerabilidade. Porém, ao mesmo tempo que conseguimos entender os fatores que colocaram o homem no lugar que está hoje, fica também bem mais difícil de se emocioar, ou até mesmo torcer por ele. E ao que tudo indica, a série começará agora o trabalho de desconstrução de Fisk, sem deixar de lado seu lado humano. Por enquanto ele está ganhando, mas o que será dele quando a queda chegar?
São poucas as séries que nos permitem entrar na cabeça do vilão, não apenas visitar seu passado, mas entender exatamente como ele está se sentindo no presente. Todas as cenas com a rotina diária de Wilson Fisk, começando com ele observando a obra de arte, teve uma representação completamente diferente para mim quando eu percebi que a obra não servia como âncora, porque era uma forma de contato entre ele e a Vanessa, mas sim por lembrá-lo do monstro que ele era e de como sofreu nas mãos de seu pai abusivo. É também um dos detalhes que o deixa mais perigoso e instável. Se todos os dias seus demônios voltam para te assustar, quanto tempo até que você se torne um deles?
A partir do momento que Wilson Fisk substitui a pintura por Vanessa, você vê o quão volátil a relação pode vir a se tornar. Infelizmente, Fisk não é meramente um bandido, ele é fruto da criação transtornada que teve pelas mãos de seu pai. A mensagem é bem crua, um menino que queria agradar ao pai, terminou matando-o para proteger a si mesmo. Não salvar a mãe, mas terminar com seu próprio sofrimento foi o objetivo de Willie.
Um garoto sangrento é tudo o que Fisk via quando se olhava no espelho. E se essa não é a prova definitiva de que o homem tem muitos demônios dentro da cabeça, eu não sei o que é. Wilson se tornou depois de Shadows in the Glass o antagonista mais perigoso que eu já tive o prazer de conhecer nesses onze filmes e três séries de MCU. Wilson não tem poderes, assim como Matt, ele quer atingir seu sucesso através de uma luta, só que sem acrobacias, ou sujando as mãos. Fisk quer o poder em seu estado mais bruto e com uma mente perturbada, vocês realmente acham que ele poderá se transformar em alguém estável em longo prazo? Como se luta contra um homem que é construído de traumas e sangue?
O mais engraçado, e poético, é saber que Matt possui exatamente o mesmo tipo de história, sem assassinatos, mas bem próxima a de Fisk. O que explica muito bem aquele velho clichê do: “Nós temos mais em comum do que você imagina”. Em Demolidor nós não precisamos imaginar. Matt também sofreu um grande trauma quando criança, seu acidente, a morte do pai (a culpa que ele carregava como vimos no episódios anterior), mas sem tirar nenhuma vida. A série pontua exatamente o que difere um do outro, herói e vilão não poderão jamais entrar em entendimento, porque o mocinho salvou, enquanto o vilão fez o extremo oposto. São as mesmas pessoas, com os mesmos problemas e possíveis soluções, a diferença é a estrada.
As investigações de Karen e Foggy continuam recebendo um tratamento pouco interessante, mas agora que incluíram Matt no assunto, tudo deverá ficar pelo menos com a nebulosidade controlada. O grande problema, como eu já citei anteriormente, é que a necessidade da investigação é quase nula. Você quer saber é como o Demolidor irá enfrentar Wilson Fisk, as cenas de detetive com apelo emocional quase zero pouco importam para nós. Mas algo realmente útil saiu de tudo isso, o começo da parceria entre Ben Urich e o vigilante mascarado. Algo que remete e muito as histórias em quadrinhos do Diabo da Cozinha do Inferno.
Imaginem o quão frustrante não deve ser para o Matt. Ter todos os seus planos e ações frustrados por Fisk não deve ser de fácil digestão. Não saber quem é corrupto, até onde pode chegar e com quem conversar não é uma tarefa simples. O pior é ver a cidade se voltando contra ele e o tachando de terrorista. Parece besteira, mas o próprio nome ‘Diabo’ mostra que a incursão psicológica de Matt deverá ser a primeira barreira a ser superada. Para que o homem sem medo deixe sua marca derradeira, ele primeiro precisará colocar o temor do Diabo no coração dos homens.
Um episódio que nos trouxe um vilão completo e complexo dificilmente poderia ser colocado como ruim, ou mediano. Para mim, a leva de bons episódios de Demolidor está coroando uma temporada próxima da perfeição. A partir do próximo episódio já entraremos na reta final e ao que tudo indica, os caminhos deverão se apertar não apenas para nosso herói e protagonista, mas também para todos os que se encontram na Cozinha do Inferno, incluindo um vilão bem humano que logo deverá atender por Rei do Crime.
Easter eggs e outras informações
- Nos quadrinhos Fisk era segurança do mafioso Rigoletto, que depois acabou traindo-o e roubando seu lugar como Rei do Crime.
- A maneira humanitária que Wilson Fisk se apresenta também é bem condizente com os quadrinhos, onde ele está (por um bom tempo) acima de qualquer suspeita.
- Na oficina do Sr. Potter, vocês conseguiram ver um pôster com tons amarelos chamando “Vingança dos Gladiadores”? Ele faz uma conexão com a contraparte do “alfaiate” nos quadrinhos, onde ele assume função de Gladiador.
- Também no assunto das roupas, Leland está ganhando um terno bem parecido com sua versão das HQs, O Coruja.
Por: Série Maníacos
0 comentários:
Postar um comentário