Aprendendo a lidar com as responsabilidades que o conhecimento da verdade traz.
The Americans apresenta para seu público mais um excelente episódio nesta semana, com desenvolvimentos significativos em vários núcleos.
Paige já pregou um grande susto nos pais com sua ida para a casa do pastor Tim. Considero que Philip e Elizabeth lidaram bem com a situação, em cena que rendeu uma frase muito bem dita pela mãe para a filha: uma vez que ela demandou pela verdade, deve aceitar a grande responsabilidade que a acompanha. Como comentei na semana passada, os roteiristas tem ficado no limite de tornar a personagem de Paige ainda mais irritantemente insuportável. Quando comecei a revirar os olhos com mais um episódio de rebeldia da personagem, pratiquei um raro exercício de empatia e considerei plausíveis e compreensíveis os questionamentos e a revolta dela. Afinal de contas, todo o mundo dela desabou e se transformou numa aparente mentira.
Sobre a possibilidade de Elizabeth visitar a mãe na Rússia e levar Paige como acompanhante, me soa uma premissa interessante. Entretanto, não nutro muitas esperanças, pois em The Americans a qualquer momento as circunstâncias mudam e sacrifícios pessoais e familiares fazem parte da carreira dos dedicados espiões. E é incrível perceber em tela como Philip se conecta muito mais fácil com Paige do que Elizabeth, como dá pra notar na cena em que ele mostra as fotos dos filhos na infância para ela. O entrosamento das interações com o pai soa natural. Já com a mãe soa forçado, imposto. Aparentemente rivalidade natural dos gêneros e atração dos opostos, eu acho.
Outro grande mérito, que não é exclusivo apenas desse episódio, diga-se de passagem, são os disfarces utilizados pelos protagonistas, impecavelmente críveis. Já há algum tempo entendi que as diferentes caracterizações dos personagens servem para dificultar a identificação dos mesmos através de retratos falados. Parece óbvia a observação, mas ainda assim achei válido pontuar que a qualidade das caracterizações é ótima, indo muito além de disfarçar o alter ego de certo herói alienígena com a utilização de um simples óculos de grau (!).
Em I Am Abassin Zadran tivemos a típica cena de morte violenta, presente em alguns episódios da série. Embora não tenha sido mostrada de fato, a consequência dos assassinatos foi algo grotescamente chocante de se assistir, como a garganta degolada exposta na tela. O autor da chacina, que dá título ao episódio, foi facilmente manipulado pelo casal de Americanos, que tiveram de ouvir suas críticas ao comunismo e à União Soviética passivamente. Entretanto vale ressaltar o estereótipo perpetuado em tela pela série de produção (e ideologia) americana(s): de personagem de origem afegã/muçulmana com visão extremista, radical e assassina. A ironia é que o Afeganistão era, na época, um “aliado” de circunstância dos Estados Unidos contra o comunismo da URSS. Anos depois, tornou-se inimigo da “democracia da liberdade americana” na “Guerra contra o terror”.
Martha obteve merecido destaque, tanto em sua interação com Stan Beeman, quanto na cena final com Clark. Philip parece comprometido afetivamente com Martha, deixando, a meu ver, de analisar a situação de risco iminente objetivamente. Prova disso é sua revelação de disfarce. Ele apostava que Martha iria aguentar a pressão da investigação interna no escritório, mas ela cedeu mais cedo do que o esperado. Só me restou uma dúvida: lembro vagamente de Clark dizer à Martha que utilizava peruca em alguma temporada anterior da série. Por gentileza, corrijam-me se eu estiver errado e compartilhem a informação com os telespectadores nos comentários.
A trama paralela de Elizabeth buscando mais informações sobre a tecnologia stealth voltou a ser desenvolvida. Definitivamente ela despreza o esposo abusivo de Lisa, e com razão (!), o que parece se dirigir para um conflito explosivo e final em algum momento futuro. Entretanto a trama da embaixada russa continua sendo o momento que minha atenção total ao episódio de desliga, torcendo para que cheguem ao fim esses minutos preciosos de tela desperdiçados. Ao menos ficamos livres da presença de Nina, que assim como seus companheiros desse lado do Atlântico, parecem bastante distantes das tramas principais.
Outro momento de destaque foi o retorno de Claudia (A.K.A. “Clória”), que foi bater um papo e tomar um chá quente com Gabriel. Confesso que demorei a entender a que projeto falho a que se referiam: o do garoto protótipo de espião que matou a família inteira na temporada passada. Até mesmo Gabriel se mostrou reticente quanto a alcançar sucesso com Paige, diante da resistência de Philip. Ao menos agora há esperanças de que a visão mais liberal do pai prevaleça sobre o destino de Paige. Mas isso é algo que só a maior interessada, Paige, e o tempo dirão.
I Am Abassin Zadran foi um episódio concretamente efetivo. Apresentou desenvolvimento significativo de tramas e personagens e recuperou bastante a queda de ritmo do capítulo apresentado na semana passada. A um episódio da Season Finale, The Americans continua se provando um produto audiovisual de qualidade bem acima da média, que agrada seus telespectadores que nela conseguem vislumbrar algo além do que mero entretenimento descartável.
Por: Série Maníacos
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