Agora sim, Mad Men parece estar acabando.
Mad Men é, essencialmente, um estudo de personagem. Por conta disso, é natural que grande parte de seu tempo de tela e todas as tramas principais estejam relacionados a Don Draper. Assim, quando nos aproximamos do fim da série, não é surpresa que o desfecho do protagonista seja o mais abordado. No entanto, a criação de Matthew Weiner tem um leque de excelentes personagens, que roubam a cena em algumas situações, e são desenvolvidos de forma quase tão esplendorosa como a que vemos com Don. Seria, portanto, um pecado se Mad Men se despedisse sem preparar um fim apropriado para cada um deles. E, pela primeira vez nessa segunda metade da temporada, a série dá grande destaque a um bom número deles, em Time & Life. Não poderia fazê-lo de maneira mais elegante.
Escrito por Weiner em parceria com Erin Levy e dirigido por Jared Harris (o saudoso Lane Pryce), o episódio trata da absorção da Sterling Cooper por parte da McCann Ericsson. Desgostoso com a situação, todo o time de sócios tenta criar um plano para que a agência continue existindo na California, tentando seduzir alguns de seus clientes que poderiam perder por conta de conflitos de interesse. Assim, Don, Roger, Pete, Joan e Ted passam 24 horas dialogando e buscando alternativas, enquanto lidam com problemas pessoais como o de Pete, que não consegue colocar sua filha na escola desejada por ele e Trudy. Alheia a isso, mas ciente da mudança, Peggy coloca à prova sua habilidade com crianças, diante de um muito mais hábil Stan.
Tudo em Time & Life prepara o espectador para os últimos três episódios da série. Para isso, o destino da Sterling Cooper é importantíssimo. Assim, não é por acaso que os sócios da agência ganhem grande destaque. Exatamente por isso, Harris sempre procura enquadrá-los juntos, criando no público um grande sentimento de união, crucial para que a mensagem do roteiro seja passada. Aqui, não é Don Draper o protagonista de Mad Men, e sim o conjunto de homens – e mulher – da Madison Avenue. Em alguns momentos importantes os cinco surgem juntos, a se destacar três. O primeiro, após a notícia da absorção, em que eles ficam unidos por poucos instantes, antes de Pete deixá-los, sugerindo uma pequena ruptura. Depois, quando recebem estupefatos a notícia de que seus esforços para manter a agência foram em vão, para logo em seguida aparecerem em um momento de tímida comemoração, com cerveja, e não champanhe. E, finalmente, a belíssima cena que finaliza o episódio, quando são deixados aos poucos por todos os seus funcionários, em uma clara manifestação de que, se as notícias são boas para os sócios, claramente não são para os colaboradores que se tornarão redundantes.
No entanto, a finalização da aquisição da Sterling Cooper não é tão feliz nem mesmo para seus fundadores. A já citada cena em que são gentilmente convidados a pararem de se debater é sublime em passar essa mensagem. Enquanto Hobart cita nome de contas para cada um dos sócios, a expressão facial de cada um deles tem uma grande mistura de empolgação, choque e imensa preocupação. Nesse momento, cada um dos atores mereceria uma indicação ao Emmy pela brilhante entrega a seus personagens, que sumariza o que cada um sente em relação àquilo.
Em Ted, por exemplo, podemos ver que seu sorriso é muito mais aparente (independente de seu vasto bigode). A razão para isso é pontuada ao longo de Time & Life, quando ele revela a Don o fato de ter encontrado uma mulher para sua vida, e que entende agora que suas escolhas prejudicaram seu antigo rival. Para ele, trabalhar em uma agência gigante como a McCann Ericsson não faz grande diferença, já que seu maior desejo sempre fora ficar distante dos holofotes que tanto prejudicaram sua vida.
Para Joan, no entanto, a situação é muito menos confortável. A função da personagem em Mad Men é a de sofredora, e Time & Life não se furta em colocá-la em posições ruins, assim como vemos em The Forecast. O episódio é extremamente feliz em fazê-lo. Logo no início, vemos Roger a chamando para tratar de problemas com as secretárias, recolocando-a em sua função de anos atrás. Depois, a vemos ignorada por Hobert durante o processo de sedução por grandes contas. Assim, não é por acaso que seu diálogo com Pete no táxi traga uma inversão de papeis, uma vez que o otimismo da ruiva não mais é compatível com sua atual condição.
Pete, aliás, é o único que traz uma trama pessoal consigo. Essa é importante para seu desenvolvimento final, trazendo de volta Trudy como uma forma de aproximá-lo de Don. Não é por acaso que Time & Life busca diversas vezes mencionar que ambos nunca tiveram um emprego fora da Sterling Cooper, e o problema escolar de Tammy é crucial para que isso aconteça, bem como o fato de que ele, assim como seu antigo inimigo, jamais terá sua família normal, fugindo da casa antes mesmo de ter qualquer chance de sonhar com aquilo.
Mas, independente dos outros sócios, no fim tudo se resume a Don e Roger. Por isso, na cena em que todos comemoram timidamente sua vitória, é a dupla de grandes amigos que fica no bar. Se Sterling não tem um grande desenvolvimento no episódio e nessa temporada como um todo, aqui tem a função crucial de deixar Don em sua habitual solidão profunda. Mas não sem causar profundo estrago ao mencionar estar saindo com Marie, rebatendo imediatamente a insinuação de Draper ao lembrar a semelhança entre seu casamento com Jane e o do amigo com Megan.
Essa é a deixa para que Mad Men não se esqueça de tratar a jornada final de seu protagonista. Se o impronunciável recado deixado por Diane é trágico o suficiente, a cena em que ele, imerso em carência, a procura para encontrar um jovem casal no antigo apartamento dela é de partir o coração. Em Severance e New Business Diane é a válvula de escape de Don, sua única esperança de fuga do turbilhão emocional em que se encontra, Time & Life destrói tudo isso para mostrar que o destino de Don Draper é mesmo viver muito longe do amor, do carinho e do conforto.
Diante de todos esses arcos, é digno de aplausos que Time & Life ainda encontre espaço para tratar de Peggy. E o faz de forma excepcional, introduzindo sua trama a partir da confidência de Pete sobre a absorção. O que faz com sua fofoca para Stan mostre ao espectador o que provavelmente está acontecendo com o restante da agência, fato que é comprovado posteriormente. Além disso, o episódio aproveita para resgatar a história de seu filho, trazendo à personagem dores genuínas ao ser constantemente apontada como uma pessoa incapaz de lidar com crianças, ou mesmo como uma que as odeie.
Se a sétima temporada de Mad Men continuava solene e não parecia anunciar o final da série, um episódio como Time & Life não deixa dúvidas: estamos mesmo a três semanas do fim.
Por: Série Maníacos
0 comentários:
Postar um comentário